Bruxaria Sem Dogmas: Vulcano (Hefesto), Deus das forjas dos metais!

sábado, 26 de setembro de 2020

Vulcano (Hefesto), Deus das forjas dos metais!

 

Vulcano (Hefesto), Deus das forjas dos metais!

 

 



Juno, esposa de Júpiter, descobriu um dia que estava grávida.

 

— Meu primeiro filho! — dizia ela, orgulhosa, a todo instante.

 

O Olimpo inteiro aguardava com ansiedade irreprimível o nascimento do primogênito de Júpiter. Que tal seria? Teria a audácia viril do pai ou puxaria à beleza austera da mãe?

 

E que inclinações traria do ventre? O gosto pelas batalhas? O pendor bucólico dos pastores? Ou, quem sabe, o refinado talento do artista?

 

De repente um grito atroou pelos corredores do palácio de Júpiter.

— Não, não... Meu filho, isto?!

 

Tais foram as primeiras palavras ditas pela mãe, ao receber nos braços a criança recém-nascida: um bebê peludo, de cor escura, como que encardido ou chamuscado, e que produzia feições horríveis quando chorava — ou estaria, o pobre, a sorrir?

 

O choro horrendo do bebê não cessava; não era, nem de longe, aquele choro forte e melódico que se esperaria do filho do Senhor do Universo. Não, aquilo não era um choro, mas um guincho rouco e desprovido de qualquer encanto ou harmonia.

 

— Basta, criatura! — disse Juno, pondo-se em pé com decisão. — Deve ter havido, afinal, algum engano. Com este corpo de tritão, deve ser filho de Netuno, rei dos mares, e não de Júpiter celestial. Volte, pois, para o seu lar.

 

Juno, cega de desgosto, ergue a criança do berço. Num esforço supremo o garoto ainda tenta um último estratagema: dar à mãe um sorriso terno e alegre.

 

— Olha a boca esgarçada! Vai chorar de novo! — diz Juno, cega de ódio. Então, após rodopiar por duas vezes no ar a infeliz criança, arremessa-a do alto do Olimpo. Um grito medonho desce das alturas, e durante o dia e a noite aquela voz ecoa por mares e continentes. O dia amanhece outra vez, e o menino peludo, feio e imensamente infeliz ainda voa, rodopiando pelos ares. Seu destino parece ser o revolto mar que se abre lá embaixo, como uma goela azul e escancarada, pronto para tragá-lo em suas ignotas profundezas.

 

"Escondido bem no fundo do oceano, ninguém jamais o descobrirá!", pensara a Deusa, um instante antes de arremessá-lo.

 

— Que espantoso ruído foi esse? — pergunta Eurínome, filha de Tétis e do Oceano, à sua mãe.

 

— Algo caiu do céu direto em nossos domínios — exclama Tétis, a mais bela das filhas de Nereu e futura mãe do irado Aquiles.

 

No fundo do oceano, engolido pelas águas, está o pequeno e peludo garoto, a se debater convulsivamente entre as funestas ondas. Tétis agarra-o imediatamente e sobe com ele até a superfície:

 

— Levemos o pobrezinho para terra.

 

— Veja, que lindo sorriso! — diz Tétis, encantada.

 

Ao escutar essas palavras o serzinho se anima e remete agora, no melhor de seus pequenos esforços, aquilo que pretende ser o mais grato dos seus risos.

 

— Veja, Eurínome, ele sorri de novo! — exclama Tétis.

 

Envolto em um cobertor, o garoto é levado para uma profunda e calorosa caverna na ilha de Lemnos.

 

As duas estão preparando a nova morada para o bebê, quando Tétis, voltando-se para onde o bebê estava, percebe que ele sumiu.

 

— Onde se meteu este menino? — perguntam-se as duas nereidas.

 

O garoto, engatinhando, metera-se numa escura furna. Atraído pelo fogo da lava que agitava-se nas profundezas da terra, lá vai ele, destemido, descobrir o que é aquilo. Será um pedacinho desprendido do sol, que escorreu do céu para ir meter-se dentro da terra?

 

Elas o encontram sentado, com um pedaço de ferro metido entre os dedinhos chamuscados; um trejeito de dor denuncia que ele e o Fogo já foram apresentados.

 

— Veja, ele sorri mais uma vez! — diz Tétis, encantada.

 

Entretanto, o cumprimento do Fogo, seu novo amigo, não foi dos mais delicados. Mas este garoto já descobriu que o melhor é ir logo descobrindo o que o mundo tem de mau e perigoso. Afinal, esta lição ele aprendeu do berço.

 

— Já que gosta tanto de vulcões, vamos chamá-lo de Vulcano — diz Tétis a Eurínome.

 

— Excelente nome! — brada a outra. — Vulcano. Vulcano. Vulcano.

 

O garoto volta-se misteriosamente para as duas. Nos seus dedinhos chamuscados brilham duas pequenas coisinhas, delicadas e douradas.

 

— O que você tem aí, meu moleque?

 

Com um brilho radiante nos olhos, o pequeno Vulcano estende às suas duas mães adotivas dois pares de maravilhosos brincos, que ele mesmo confeccionara.

 

— Meu Zeus! — diz Tétis, com um riso cristalino que ecoa pelas paredes da profunda gruta. — O danadinho é um artista!

 

Assim cresce o pequeno, metido em sua forja nas profundezas da terra, confeccionando as mais belas peças de ferro, bronze e metais preciosos de todo tipo.

 

Aos nove anos já é artista bastante para fazer uma peça de beleza estonteante.

 

— O que é isto, Vulcano querido? — pergunta-lhe Tétis, sua mãe adotiva.

 

— Um presente para Juno, minha mãe! — exclama o Deus, já um esperto adolescente. Trata-se de um magnífico trono dourado, todo cinzelado e reluzente. No mesmo dia se apresenta no Olimpo, carregando seu maravilhoso presente.

 

— Quem é você, feia criatura? — pergunta-lhe uma das Horas, porteiras do céu.

 

— O filho da rainha do céu — responde Vulcano. — Queira abrir os alvos portões, subalterna.

 

Vulcano, como se vê, já aprendeu perfeitamente a se defender. Quando o jovem feio, coxo e peludo apresenta-se nos salões do Olimpo, é recebido por um coro celestial de risos.

 

— Isto aí, filho de Júpiter e de Juno? — exclamam, incrédulos, os habitantes da morada dos Deuses.

 

Vulcano retira, então, o veludo que envolve o magnífico trono dourado.

 

— Aqui está, minha mãe, o presente com o qual pretendo ganhar a sua afeição!

 

Juno, que a princípio envergonhara-se de tal filho, agora o vê com outros olhos. Afinal, o brilho que o trono dourado despede reflete-se um pouco sobre o seu corpo disforme, e um monstro pintado a ouro já é, ao menos, pintado a ouro. Juno, lavada em orgulho, senta-se, então, sobre o trono maravilhoso. Um coro estrondoso de palmas ensurdece o Universo. Vulcano, beijando a mão de sua mãe, retira-se, então, com um largo e dócil sorriso, como faria o mais vil de seus lacaios. "Não é mau garoto, afinal!", pensa Juno. "Mas por que insiste em fazer cara de choro diante de minha presença?”

 

Durante o dia inteiro a rainha do céu despachou de seu novo trono.

 

— Vou comer aqui mesmo, em meu maravilhoso trono, a ambrosia e o néctar divinos —diz ela a Hebe, a sua copeira.

 

Juno por passar tanto tempo no trono, ao sair se vê presa. Pede ajuda de todos inclusive de ferreiros.

 

— Chamem o desgraçado — diz, afinal, Juno, rendida. Vulcano volta ao palácio de sua mãe.

 

— Vamos, filho ingrato, diga o que quer para me libertar de tamanho opróbrio! — diz ela, fuzilando o filho com o olhar.

 

— Quero apenas ser recebido em minha casa com respeito e poder transitar livremente pelo Olimpo, como Deus e filho da maior das Deusas — responde Vulcano, serenamente.

 

— Está bem, agora liberte-me — diz Juno, mais aliviada.

 

— Ah! — diz Vulcano, como quem lembra de algo muito importante. — Quero também tomar por esposa a maravilhosa Vênus, pois amo-a perdidamente.

 

— Vênus... com você? — diz Juno, incrédula.

 

— Sim, bem sei que sou feio, mas conheço algo das mulheres para saber que não desprezam, também, a segurança— responde Vulcano, Deus sapientíssimo. — E com minha forja possa sustentá-la e lhe dar todo o luxo e riqueza que sua beleza merece.

 

Vênus é chamada e, diante de proposta tão vantajosa, aceita imediatamente. Vulcano toma suas delicadas mãos e deposita nelas o beijo de seus rudes lábios, e remete à mais bela das Deusas o seu melhor sorriso. "Ele me ama mesmo", pensa Vênus, "pois chora, diante de mim, de felicidade! “

 

Assim Vulcano e sua mãe Juno fizeram as pazes, tornando-se o Deus artífice amado e respeitado em todo o Olimpo.

 

Texto: (Bruxaria Sem Dogmas)

 

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