Bruxaria Sem Dogmas: Números na magia

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Números na magia


Números na magia:



Introdução ao assunto-tema números. Quem conhece meu trabalho sabe que trabalho e relaciono números a letras. Muito se fala sobre o poder inerente do nome, como em gênesis: "Vá Adão e nomeie todas as coisas." Lilith descobre a pronúncia do nome secreto de Deus YHVH e com isso foge do éden e se torna Deusa/demonesa habitando próxima ao Mar Vermelho. Ísis/Aset descobre o nome secreto de Rá e com isso adquire seu poder, podendo ressuscitar seu amado Osíris/Wesir. Os cristãos dizem que o nome de Jesus tem poder e no apocalipse vemos Jesus em sua forma gloriosa estampando seu verdadeiro nome na testa. Vemos também no apocalipse a equivalência de número e nome (letras) quando se afirma que o número 666 da besta é o número do nome de um homem e que quem for sábio que o calcule. Em exorcismos é imprescindível descobrir o nome do demônio que possui o indivíduo a ser exorcizado, pois de posse do nome se tem poder sobre a coisa. Dentro da magia de sigilação que eu professo reduzo nomes a números para sigilar em quadrados mágickos. Essa é uma introdução ao tema números. Nos próximos artigos trataremos dos números em si, 1, 2, 3, 4...



De números, de seu poder e de sua virtude:

Severino Boécio dizia que todas as coisas feitas pela natureza das coisas em sua primeira Era parecem ser formadas pela proporção dos números, pois esse foi o principal padrão na mente do Criador. Portanto, tomou-se emprestado o número dos elementos, e daí o decorrer dos tempos, o movimento dos astros, a revolução do firmamento, e o estado de todas as coisas subsistirem graças à união dos números. Os números, por conseguinte, são dotados de grandes e sublimes virtudes.

(Ver Boécio, A Consolação da Filosofia 3.9, cuja substância vem de Timaeus, de Platão 29-42.)

E não nos deve surpreender, diante da existência de tantas e tão grandiosas virtudes ocultas nas coisas naturais, ainda que de operações manifestas, que haja nos números virtudes ainda muito maiores e mais ocultas, mais maravilhosas e eficazes, pois são mais formais, mais perfeitas e ocorrem naturalmente nos celestiais, não se misturando com substâncias separadas; e tendo por fim a maior e mais simples mistura com as ideias na mente de Deus, das quais recebem suas virtudes apropriadas e mais eficazes: são também de mais força e conduzem melhor à obtenção dos dons espirituais e divinos, assim como nas coisas naturais, as qualidades naturais são poderosas para transmutar qualquer coisa elementar.

Novamente, todas as coisas existentes e também feitas subsistem e recebem sua virtude dos números. Pois o tempo é constituído de números, bem como todo movimento, toda ação e todas as coisas sujeitas ao tempo e ao movimento.

“O tempo é o número do movimento dos corpos celestes” (Proclo On Motion 2. Em Taylor [1831] 1976, 86).



Também a harmonia e as vozes recebem seu poder e são constituídas de números, e suas proporções são oriundas de números por linhas e pontos que compõem caracteres e figuras: e estes são apropriados para as operações mágicas, sendo o meio entre os dois obtido pelo declínio até os extremos, como no uso de letras.

(Agrippa parece estar dizendo que a eficácia das letras deriva da harmonia numérica da voz e da geometria numérica de seus símbolos escritos.)



E, por fim, todas as espécies de coisas naturais e daquelas coisas que estão acima da natureza são unidas por certos números. Nesse sentido, dizia Pitágoras que o número é aquilo de que todas as coisas são constituídas, e a cada número ele atribui uma virtude.

Mas os pitagóricos diziam, nesse sentido, que existem dois princípios, os quais acrescentavam o pensamento que lhe é peculiar, de que a finitude e o infinito não eram atributos de certas coisas, como do fogo ou da terra, ou qualquer outra dessa espécie, mas que o infinito em si e a unidade em si eram a substância das coisas predicadas. Por isso, o número seria a substância das coisas (Aristóteles, A Metafísica. 1.5.987a [McKeon, 700]).

E Aristóteles ainda diz:
...e como, então, todas as outras coisas parecem, em sua total natureza, ser moldadas sobre números, e os números parecem ser as primeiras coisas em toda a natureza, supõe-se que os elementos dos números são os elementos de todas as coisas, e que todo o céu seja uma escala e um número (Ibid., 985b [McKeon, 698]).

Os dois princípios dos pitagóricos eram o limite e o ilimitado, os quais eles identificavam, respectivamente, com os números ímpares e pares.

E Proclo dizia que o número sempre tem em si um ser: mas há um na voz, outro na proporção, outro na alma e na razão, e outro nas coisas divinas. Themistius, Boécio e Averrois, o Babilônio, por sua vez, junto com Platão, exaltam os números, chegando a afirmar que nenhum homem pode ser um verdadeiro filósofo sem eles.

Ora, eles falam de um número racional e formal, não de um número material, sensível ou vocal, do número em compra e venda dos mercadores, do qual os pitagóricos, os platônicos e nosso Agostinho não fazem a menor menção, mas o qual aplicam a uma proporção dele resultante, número que chamam de natural, racional e formal, de onde fluem muitos mistérios, assim como em coisas naturais, divinas e celestes. Por meio do número, traça-se um caminho para encontrar e compreender todas as coisas cognoscíveis. Por meio dele, tem-se acesso à profecia natural: e o abade Joaquim não profetizava de nenhum outro modo, senão pelos números.

Seria, portanto, conveniente, caro Glauco, que se determinasse por lei esse aprendizado e que se convencessem os cidadãos, que hão de participar dos postos governativos, a dedicarem-se ao cálculo e a aplicarem-se a ele, não superficialmente, mas até chegarem à contemplação da natureza dos números unicamente pelo pensamento, não cuidando deles por amor à compra e venda, como os comerciantes ou mercadores, mas por causa da guerra e para facilitar a passagem da própria alma da mutabilidade à verdade e à essência (Platão, A República, 7.525c).

As grandes virtudes que os números têm, tanto em coisas naturais quanto sobrenaturais:

Que existe grande eficácia e virtude nos números, tanto para o bem quanto para o mal, ensinam não só os mais eminentes filósofos, em unanimidade, mas também os doutores católicos, particularmente Hierom, Agostinho, Orígenes, Ambrósio, Gregório de Naziazen, Atanásio, Basilio, Hilário, Rabanus, Bede e muitos outros que assim confirmam. Assim, Hilário, em seus Comentários a respeito dos Salmos, atesta que os anciões (Números 11:16), de acordo com a eficácia de seus números, puseram os Salmos em ordem. Também Rabanus, famoso doutor, compôs um livro excelente das virtudes dos números.



Aqui começam relatos antes de a medicina ser como a conhecemos. Agrippa escreveu isso por volta do ano 1500 da era comum, mas tais informações podem ser usadas na magia:

Mas as grandiosas virtudes que os números têm se manifestam na erva chamada cinco-folhas, ou seja, uma gramínea de cinco folhas; pois ela resiste a venenos pela virtude do número cinco; também afasta demônios (evitar o mal), conduz à expiação; e uma folha dela tomada duas vezes por dia em vinho cura a febre de um dia; três vezes, a febre terçã; quatro, a quartã.

Relata-se que quatro ramos [da cinco-folhas] curam a febre quartã, três, a febre terçã, e um ramo, a febre cotidiana: além de outras coisas vãs e frívolas, e muitas que são encontradas não só em Dioscorides, mas também em outros autores, os quais nós apoiamos (Gerard 1633, 2:382-H:992).



De modo semelhante, quatro grãos da semente de girassol, bebidos, curam a quartã, mas três grãos curam a terçã. Do mesmo modo, dizem que a verbena cura febres se for bebida em vinho, desde que para a febre terçã ela seja cortada a partir da terceira junta, e para a quartã, a partir da quarta. Dizem ainda que, se uma serpente for golpeada uma vez com uma lança, morre; duas vezes, ganha força. Esses e muitos outros casos são lidos e testificados em diversos autores.

Espécie de girassol (Crozophora tinctoria) pequena, ou fêmea. Também chamada de heliotrophium minus, segundo Gerard, não porque ela se vira para o Sol, mas porque floresce no solstício de verão. É uma pequena planta rasteira, amarela, com pequenas flores cinzas e amarelas, dispostas de modo irregular. Não confundir com o girassol grande, da espécie Heliotrophius europaeuni).

Ela [a verbena] é conhecida por ter uma singular força contra as febres terçãs e quartãs: mas você deve observar as regras de mamãe Bombies e usar o número exato de nós, ou ramos, e não mais; do contrário, pode lhe fazer mal. Muitas fábulas populares foram escritas acerca da Verbena e sua propensão para a feitiçaria e bruxaria, que podem ser lidas em vários lugares, pois não desejo perturbar o leitor com essas banalidades, que ouvidos honestos não gostam de ouvir (Gerard 1633, 2:246-C:718-9).



Mamãe Bombie é uma espécie de figura lendária, como uma rainha das bruxas. Parece que Gerard tinha um pouco de medo do tema da magia.

Precisamos saber de onde eles vêm, causa que certamente existe e que é uma proporção variada de diversos números entre si. Há também um extraordinário experimento do número sete, pois todo sétimo macho, nascido sem uma fêmea antes, tem poder de curar o mal do rei só pelo toque ou com a palavra. Também se acredita que toda sétima filha nascida ajuda maravilhosamente em partos: aqui não se considera o número natural, mas a consideração formal que existe no número.

(O poder de cura também residia no sétimo filho de um sétimo filho.)



E que aquilo que mencionamos antes seja sempre lembrado: esses poderes não se encontram nos números vocais ou em números de mercadores, comprando e vendendo, mas nos racionais, formais e naturais; esses são os mistérios distintos de Deus e da natureza. Mas aquele que sabe juntar os números vocais e os naturais com os divinos, e ordená-los na mesma harmonia, será capaz de trabalhar e conhecer as coisas pelos números; os pitagóricos professam que podem diagnosticar muitas coisas pelos números dos nomes, o que com certeza - a menos que aí se esconda um grande mistério - nos remonta ao Apocalipse de João (Apocalipse 13:18), dizendo que aquele que tem entendimento que calcule o número do nome da besta, que é o número de um homem, e essa é a forma de cálculo mais famosa entre os hebreus e cabalistas, como mostraremos mais adiante (nos próximos artigos). 

... das descobertas feitas por Pitágoras, uma das mais exatas é o fato de que, no nome dado aos bebês, um número ímpar de vogais é portentoso de manqueira, perda de visão ou acidentes semelhantes no lado direito [macho] do corpo e um número par de vogais das mesmas enfermidades no lado esquerdo [feminino]‖ (Plínio 28.6 [Bostock e Riley 5:287-8]).

Mas saiba que números simples significam coisas-divinas: números de 10; celestiais: de 100; terrestres: números de 1.000; aquelas coisas que se darão em uma época futura. Além disso, as partes da mente correspondem a uma mediocridade aritmética, por razão da identidade ou de igualdade de excesso unidas; mas o corpo, cujas partes diferem em grandeza, é composto de acordo com uma mediocridade geométrica; mas um animal se constitui de ambos, alma e corpo, de acordo com essa mediocridade, que é apropriada para a harmonia: por isso, os números atuam muito sobre a alma, as figuras, sobre o corpo, e a harmonia, sobre todo o animal.

O número 1 na magia

O número 2 na magia

Referência:

"Três livros de filosofia oculta" - Henrique Cornélio Agrippa.

4 comentários:

  1. Olá Eosphorus. Gostaria que você falasse sobre a inserção dos números nos planetas. Uma vez eu vi um praticante de magia colocar uma vela azul para Júpiter e outras quatro menores em volta, e disse que isso é porque 4 é o número de Júpiter. Grata desde já.

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    1. Olá Sabrina. Os números dos planetas são por conta de sua posição na árvore da vida. Veja o vídeo no canal do youtube da Bruxaria Sem Dogmas sobre cabala egípcia: https://youtu.be/VSogcMFOjis

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