Abraxas
/ Abrasax verdades e mentiras.
Deus
e Demônio.
A palavra Abrasax (grego
ΑΒΡΑΣΑΞ, que é muito mais comum nas fontes que a forma variante Abraxas,
ΑΒΡΑΞΑΣ) era um palavra de significado místico no sistema gnóstico de
Basilides, aplicada nele ao "Grande Arconte" (grego: megas archōn), o
príncipe (princeps) das 365 esferas (grego: ouranoi). Na cosmologia gnóstica,
as sete letras que compõem o nome representam cada uma um dos sete
"planetas" clássicos (Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e
Saturno).
Basilides (em grego:
Βασιλείδης) foi um dos primeiros professores religiosos gnósticos em
Alexandria, Egito que ensinou entre 117-138 dC e era um pupilo ou de Menandro
ou de um suposto intérprete de São Pedro chamado Gláucias, esta última teoria
rejeitada pelos estudiosos modernos. A obra "Atos da disputa com Mani, o
heresiarca" (Acta Archelai), capítulo 52, afirma que ele ensinou por um
tempo entre os persas. Acredita-se que ele escreveu mais de duas dúzias de
livros com comentários sobre os Evangelhos (todos perdidos) intitulados
Exegetica, o que o torna um dos mais antigos comentaristas dos Evangelhos.
Apenas fragmentos de suas obras foram preservados além daqueles nas obras de
seus opositores.
Gnosticismo (do grego
Γνωστικισμóς; transl.: (gnostikismós); de Γνωσις (gnosis): 'conhecimento',
(gnostikos): aquele que tem o conhecimento) é um conjunto de correntes
filosófico-religiosas sincréticas que chegaram a mimetizar-se com o
cristianismo nos primeiros séculos de nossa era (sendo ele muitas vezes
referenciado como "Alta Teologia"), vindo a ser declarado como um
pensamento herético após uma etapa em que conheceu prestígio entre os
intelectuais cristãos. De fato, pode falar-se num gnosticismo pagão e num
gnosticismo cristão, ainda que o pensamento gnóstico mais significativo tenha
sido alcançado como uma vertente heterodoxa do cristianismo primitivo.
Voltando à Abrasax,
A palavra é encontrada em
textos gnósticos, como o Evangelho Copta dos Egípcios e nos Papiros Mágicos
Gregos. Ela também era gravada em algumas gemas por isso chamadas de Pedras de Abraxas,
que eram usadas como amuletos. Como se soletrava inicialmente 'Abrasax'
(Αβρασαξ), a forma 'Abraxas' encontrada atualmente provavelmente se originou em
alguma confusão entre as letras gregas Sigma e Xi na transliteração para o
latim. Abrasax pode também estar relacionada a Abracadabra, embora outras
explicações existam.
Opiniões não faltam sobre
Abraxas, que em séculos recentes foi entendido como um deus egípcio e um
demônio. O psicólogo suíço Jung escreveu um breve tratado gnóstico em 1916
chamado os Sete Sermões aos Mortos, que tinha Abraxas como um deus acima do
Deus Cristão e o Diabo, que combinaria todos os opostos num único Ser.
Como
um Arconte:
No sistema descrito por
Ireneu, o "Pai não-nascido" é o progenitor do Nous, e dele Nous
Logos, de Logos Phronesis, de Pronesis Sophia e Dynamis. Destes, principados,
poderes e anjos, o último dos quais criam o "primeiro céu".
Estes, por sua vez, originam
uma segunda série, criando um segundo céu. O processo continua de maneira
similar até que 365 céus existam, sendo os anjos deste último (o céu visível)
os criadores do nosso mundo. O "governante" [principem, ou ton
archonta] dos 365 céus "é Abraxas e, por isso, ele contém em si mesmo 365
números".
Hipólito fala sobre Abraxas
na Refutação de todas as heresias, que parece ter seguido a Exegetica de
Basilides. Após descrever a manifestação do Evangelho na Ogdóade e na Septóade,
ele acrescenta que os Basilidianos têm um longo relato sobre as inúmeras
criações e poderes nos diversos 'estágios' do mundo superior (diastemata), no
qual relatam sobre os 365 céus e argumentam que "seu grande arconte"
é Abrasax, pois seu nome contém o número 365, o número de dias do ano. Ou seja,
a soma dos números representados pelas letras gregas em ΑΒΡΑΣΑΞ é 365:
Α = 1, Β = 2, Ρ = 100, Α =
1, Σ = 200, Α = 1, Ξ = 60
Como
um Deus:
Epifânio de Salamis parece
seguir parcialmente Ireneu e parcialmente o "Compêndio de Hipólito",
agora perdido. Ele conceitua Abrasax distintamente como o "poder acima de
tudo e o primeiro princípio", "a causa e o primeiro arquétipo"
de todas as coisas e menciona que os seguidores de Basilides se referiram ao
número 365 como sendo o número de partes no corpo humano além do número de dias
no ano.
O autor do apêndice do livro
Prescrição contra heréticos, de Tertuliano, que também devem ter seguido o
Compêndio de Hipólito acrescentam algumas particularidades: que 'Abraxas' deu à
luz Mente (Nous), o primeiro numa série de poderes enumerados por Ireneu e
Epifânio; que o mundo, assim como os 365 céus, foi criado em homenagem a
'Abraxas'; e que Cristo foi enviado não pelo Criador do mundo, mas por
'Abraxas'.
Nada pode ser inferido das
vagas alusões de Jerônimo, que afirmava que 'Abraxas' significava "O Deus
maior" para Basilides, "Deus Todo-Poderoso" e "O Senhor
Criador" (Comentários sobre Amós, cap. III.9, e sobre Naum, I.11,
respectivamente). As aparições em Teodoreto ("Haereticarum fabularum
compendium", I.4) e Agostinho de Hipona (Haer IV e Praedestinatus I.3) não
tem valor como fontes independentes.
Como
um Aeon:
Mesmo com a disponibilidade
de fontes primárias, como as da Biblioteca de Nag Hammadi, a identidade de
Abrasax ainda permanece obscura. O Livro Sagrado do Grande Espírito Invisível,
por exemplo, se refere a Abrasax como o Aeon vivendo com Sophia e os demais
Aeons do Pleroma na luz do luminar Eleleth. Em diversos textos, Eleleth é o
último dos luminares (Luzes espirituais) de destaque e é o Aeon Sophia,
associado a ele, que encontra a escuridão e acaba envolvida na cadeia de
eventos que levam ao reinado do Demiurgo neste mundo e à tentativa de salvação
que se segue.
Assim, o papel de Aeon de
Eleleth, e também de Abrasax, Sophia e outros, é característico da camada
exterior do Pleroma, a que toca a ignorância do mundo da Vontade, e que reage
para corrigir o erro da ignorância no mundo das coisas materiais.
As
Pedras de Abrasax:
Um grande número de pedras
gravadas existem, as há muito chamadas de "Pedras de Abrasax". Um
exemplo particularmente bom foi encontrado dentre os artefatos do Tesouro de
Thetford, do século IV dC, encontrado em Norfolk, UK. Os personagens são
mitológicos, majoritariamente grotescos, com várias inscrições, dentre as quais
ΑΒΡΑΣΑΞ frequentemente é encontrada, sozinha ou acompanhada de outras palavras.
Algumas vezes, todo o espaço é tomado com a escrição. Em certos textos mágicos
obscuros de origem egípcia, ἀβραξάς ou ἀβρασάξ é encontrado associado com
outros nomes frequentemente dados à gemas; e é também encontrado no metal grego
tesseræ entre outras palavras místicas. O significado destas lendas raramente
pode ser compreendido, apesar das gemas serem tidas como amuletos.
Abracax é representado em
amuletos com cabeça de galo, pés de dragão e um chicote nas mãos. Demonólogos relatam-no
como um demônio com coroa de rei na cabeça e pés de serpentes.
Também é conhecido como Abraxis,
Rasaxe, Baech, Avichehem, Avichaem y Anusix. Se sabe também que era adorado
pelos cainitas.
O símbolo de Abraxas é um
círculo partido no meio em diagonal Ø (simbolizando a união de homem e mulher).
Também o simbolizam como uma balança nivelada com duas cabeças de águia.
Segundo alguns, Abraxas é o
demônio Decarabia da Goetia. Mas não vi nenhuma fonte confiável que afirma
isso. Assim sendo, não farei tal afirmação. E usar o selo de Decarabia, pode te
fazer não entrar em contato com Abraxas. E mais, pela descrição de Decarabia
não há qualquer forma de fazer a associação com Abraxas. Veja:
O
sexagésimo nono espírito é o Marques Decarabia. Ele aparece na forma de uma
estrela em um Pentáculo no início; mas depois, ao comando do Magista, toma a
feições humanas. Pode descobrir as virtudes dos pássaros e gemas preciosas e
pode fazer as moscas se tornarem semelhante a pássaros, cantando e bebendo água
como pássaros verdadeiros. Governa 30 legiões. Decarabia instrui o feiticeiro
sobre as mudanças de forma astral e nos sonhos, como se transformar em um
pássaro ou morcego, como voar e descobrir lugares ocultos da terra, bem como
surgir e agir na forma natural com que as aves o fazem. Decarabia ensina também
o uso de pedras e elementos na feitiçarias. Ele governa 30 Legiões de Espíritos
e é um poderoso Marquês.
Link das descrições dos
demônios da Goetia:
Link de meu método completo:
Nas minhas pesquisas sobre
Abraxas encontrei o livro: Abraxas – Deus e Demônio da autora Maria Lúcia
Pinheiro Sampaio. É um livro de poemas sobre Abraxas e o gnosticismo cristão,
porém ao ler sua introdução vi um erro estupendo. Ela diz que estudou cabala
por muitos anos. Mas afirma que a Deusa é representada pela sefira Chokmah. O
que me chocou vindo de alguém que diz dominar a cabala. Essa sefira representa
o princípio masculino universal e não o feminino. O feminino é representado por
Binah. Assim sendo todo o livro e seu discurso não me pareceu sério.
O assunto Abraxas tem muita
desinformação e informações errôneas atribuídas a essa Divindade ou demônio.
Talvez eu adquira novas informações e escreva um segundo texto sobre Abraxas.
Mas não, não há qualquer relação de Abraxas com Decarabia e nem com Chokmah. Na
verdade, Abraxas está mais relacionado com Kether a primeira sefira. Pois é
nessa sefira que não há separação binária em macho e fêmea, bem (Deus) e mal
(demônio), luz e trevas, e qualquer outro sistema binário.
No Filme ‘The Craft’ de 1996
com o título no Brasil de ‘Jovens Bruxas’ é falado sobre uma divindade acima de Deus
e o diabo. Eles chamam tal ser de Manon. Que é um nome fictício, mas que
poderíamos relacionar com Abraxas em seus simbolismos. Pequeno trecho do filme
em que as bruxas invocam Manon:
Também não encontrei um
sistema de sigilos e evocação que permita o contato com esse Ser. Temos suas
imagens descritas acima e seu símbolo que seria: Ø. Mas pelo sistema hermético de
evocação emprega-se o superior para chamar o inferior. Dado a grandeza de
Abraxas, não há nada acima Dele ou Dela que o/a faça ser forçado a se
manifestar.
A única associação que vejo possível é com a Palavra cunhada na Golden Dawn, ARARITA. O que é ARARITA?
ARARITA é um nome divino de 7 letras que formam as letras iniciais da sentença em hebraico: ‘Um é o seu começo, uma é sua individualidade, sua permutação é uma.’
As 7 letras de ARARITA se relacionam com os 7 'planetas' esotéricos: Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno.
A palavra ARARITA é usada nas operações com hexagramas planetários. Trato do assunto hexagrama e suas operações nesses dois artigos:
Criei um ritual de evocação de Abraxas:
http://bruxariasemdogmas.blogspot.com.br/2016/08/ritual-de-evocacao-de-abraxas.html
Vídeo sobre Abraxas e rito:
Música:
Letra da música em inglês e português:
Abraxas
Eros and Thanatos are
brances on the same old tree
Rooted in the soil of shadow
and light
If God was seperated from
the dark twin, the Devil
Could he ever know the soul
of mankind?
We want a new god called
Abraxas!
Enter the Pleroma and see
that nothingless is all
And you must destroy a world
to be born
Alpha and Omega are the
beginning and the end
United in the shape of
Abraxas
Darkness and the light
Sermones ad Mortous, empty
fullness
Abraxas, your words is a
riddle to be solved
You bear the mark of Cain
And you are fighting like a
bird
(To) free you from the egg,
the egg is all the world
The Sermon to the Dead
A gospel to another life
Hear the words of Cain, the
sinner and the saint
The grave is a flower
And you are dying to be born
Baptized by fire and you
will slough your skin
The sign of Abraxas
The circle of the solar year
Deep in the winter you'll
see the sun be born
Abraxas
Eros e Tânatos são galhos na
mesma velha árvore
Originados na terra de
sombra e luz
Se Deus foi separado do
gêmeo negro, o Demônio
Poderia ele conhecer a alma
da humanidade?
Nós queremos um novo deus
chamado Abraxas!
Entre em Pleroma e veja que
nada é tudo
E você precisa destruir um
mundo para nascer
Alpha e Omega são o começo e
o fim
Unidos na forma de Abraxas
Escuridão e a luz
Sermones ad Mortous, o vazio
completo
Abraxas, suas palavras são
um enigma a ser resolvido
Você carrega a marca de Cain
E você está lutando como um
pássaro
(Para) se libertar do ovo, o
ovo é o mundo inteiro
O Sermão para os Mortos
Um evangelho para a outra
vida
Ouça as palavras de Cain, o
pecador e o santo
O túmulo é uma flor
E você está morrendo para
nascer
Batizado pelo fogo e você
irá rasgar sua pele
O símbolo de Abraxas
O círculo do ano solar
No inverno profundo você
verá o sol nascer
Referências:
1-
Dicionário Infernal - Jacques Auguste Simon Collin de Plancy.
2-
Encyclopedia of Occultism and Parapsychology - Leslie Shepard.
3- The Complete Golden Dawn System Of Magic - Israel Regardie.
lindo
ResponderExcluirObrigado.
ExcluirMuito bom!
ResponderExcluirObrigado.
ResponderExcluirAbraxas seria um demiurgo ?
ExcluirAbraxas está muito acima no céu que qualquer demiurgo.
ExcluirPosso pedir algo específico a ele ?
ResponderExcluirEle tudo pode, Ele tudo dá.
ExcluirSaudações fraternas! Caso encontre mais informações sobre o Deus Abraxas eu gostaria que se possível me avisasse ou me enviasse. Grato pela atenção.
ResponderExcluirOk Oscar.
ExcluirExisten um ritual especifico para entrar em contato com ele. Pode ia dar umas dicas ?
ResponderExcluirSim, existe. Eu criei.
ExcluirLink:
https://bruxariasemdogmas.blogspot.com/2016/08/ritual-de-evocacao-de-abraxas.html
Grande Trabalho Eosphoro!
ResponderExcluirParabéns pelo seu conhecimento.
Gostaria de tirar uma dúvida...
O conceito de Abrasax,seria semelhante ao Maioral da Quimbanda?
Desde já agradeço!
De fato, chokmah seria a grande sephirah estimuladora dando a entender como o grande princípio masculino do universo. Contudo, tem que se levar em conta que é complicado atribuir características duais para além do abismo. Essa questão "masculino e feminino" é muito mais uma forma de ajudar a mente humana a entender conceitos altamente abstratos do que de fato um gênero. Kronos, por exemplo, é facilmente atribuído a sephirah de Binah, bem como Iansã, num aspecto macro, guarda intimas relações com Chokmah. A atribuição pode muito bem ter um viés cultural, importando, na realidade, não a forma de apresentação, mas o conceito por de trás. No mesmo sentido é reduzir yin a fêmea e yang a macho, pode não ser tão simples assim. Não estou concordando com a autora mencionada, mas creio que a colocação foi por conta dos homônimos "sophia" e "chokmah", palavras diferentes com um mesmo significado. Gostaria de saber os fundamentos para ela ter feito essa analogia, vou procurar o livro. Gratidão.
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