Texto: “Arcano: A Roda da Fortuna.” – Autor: Yuri Caldas Karklin
(Eosphorus Pluto Eleutherios).
Quando eu vou a um dentista eu não
questiono o profissional que está me atendendo, no sentido de dizer como ele
deve trabalhar.
Eu vou a um médico porque sou
ignorante e não tenho a capacidade de me diagnosticar e curar sozinho. Nem é
ético nem legal.
Quando eu pego um ônibus (autocarro)
eu não fico dizendo ao motorista para dirigir assim ou assado ou que ponha tal
marcha na curva. Não, não faço isso.
Eu não digo ao gari aonde varrer. Nem
ao policial o que investigar. Ou o juiz de como julgar. Cada profissional que
ocupa um cargo legítimo está apto a exercer sua profissão ou função social.
Há funções que não produzem diretamente,
mas que formam o corpo da sociedade. Uma religião, por exemplo, tem uma função
social e não uma obrigação com o lucro. Ou deveria ser.
Pois bem, há posições sociais que não
são medidas em quantas peças são produzidas. Um terapeuta, por exemplo, ganha
em ouvir o paciente e falar sua impressão.
Sendo assim, eu respeito a todos.
Agora, você veio a mim me pedindo meu serviço sacerdotal na Bruxaria, não tem a
capacidade de se ajudar - pelo menos no momento. E vem me dizer como devo fazer
meu trabalho?
Toda sociedade mínima que fosse
sempre deu valor inequívoco aos seus sacerdotes. Desde pajés e xamãs, até bispo
e papa. Eu leio cartas e faço trabalhos espirituais.
Desde criança, eu reparava nas caras dos competidores, seja no futebol, seja em esportes individuais. Sabe, tipo a
hora do hino? Eu olho os olhos dos atletas e tento adivinhar quem ou qual time
vai ganhar. Porque para mim, a vitória já é de quem é merecedor antes do juiz
apitar.
No Bhagavad Gita, Arjuna sofre no
campo de batalha segundos antes de iniciar a guerra. De uma lado Arjuna e seu
exército, do outro, no outro exército, seus parentes, tios, primos... Arjuna é
obrigado a lutar contra seu próprio sangue e quase desanima.
Mas Krishna estava com ele. O Senhor
estava com ele. E Krishna fala verdades transcendentais a Arjuna minutos antes
de começar a guerra.
Em um dos ensinamentos, Krishna,
avatar do Deus Vishnu, sua oitava encarnação. A nona foi Budha Sidarta Gualtama
e a décima ainda está por vir no fim da kali yuga, a era em que vivemos segundo
os brahmanes e os Vedas sagrados. São quatro Vedas a saber: Rig Veda, Yajur
Veda, Sama Veda, Atharva Veda.
Krishna ensina Arjuna no campo de
batalha. Esse diálogo deu origem ao mais famoso épico do oriente, o Bhagavad
Gita. O Bhagavad Gita é completo em si mesmo, mas é parte de um épico hindu
maior chamado: Mahabharata. Dizem que a presa quebrada de Ganesha, O Deus
elefante, foi usada para escrever o Gita.
Krishna diz a Arjuna e com isso
Arjuna resolve lutar. Krishna diz: Não há porque sofrer e lamentar. Aqueles que
você vê nas linhas inimigas já estão mortos. Você deve cumprir seu papel, que é
empunhar uma espada. Mas saiba que já é vitorioso e que seu inimigos já estão
mortos. Porque eu, krishna, estou com você, Arjuna.
E a profecia de Krishna se cumpre e
Arjuna ganha a guerra.
Fazendo paralelo com os olhos dos
atletas, eu tento ver a vitória ou a derrota antes da partida começar. Porque
no fim, todos já estão mortos.
Quando começamos, somos como o Arcano
zero, O Louco. Temos todas as potencialidades e coragem ao ponto de nos
lançarmos no abismo. Mas após isso já temos o mago e mais 22 arcanos no total,
contando com o Mago. Tem de se encarar e enfrentar A Morte, O Diabo e A Torre.
Não há conquista sem sacrifício. Sacrifício vem de Sacro Ofício, que diz do
fazer (ofício) sagrado ou religioso.
Pois bem, deixe que eu faça meu
papel, minha função social e que quem tenha que pegar na espada pegue, o médico
medique, o marceneiro fabrique, e que a Roda Gire.
Texto: “Arcano: A
Roda da Fortuna.” – Autor: Yuri Caldas Karklin (Eosphorus Pluto Eleutherios).