Bruxaria Sem Dogmas: Bora falar sobre sincretismo? É válido ou não? Tem fundamento?

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Bora falar sobre sincretismo? É válido ou não? Tem fundamento?

 


Bora falar sobre sincretismo? É válido ou não? Tem fundamento?

 

Primeiramente, vamos ver a definição de sincretismo no dicionário:

 

Sincretismo

substantivo masculino

1.

RELIGIÃO

fusão de diferentes cultos ou doutrinas religiosas, com reinterpretação de seus elementos.

2.

FILOSOFIA

síntese, razoavelmente equilibrada, de elementos díspares, originários de diferentes visões do mundo ou de doutrinas filosóficas distintas.

 

Vamos tratar do sincretismo religioso, pois essa é uma página religiosa. Falaremos do clássico sincretismo greco-romano, sincretismo greco-romano com Deuses egípcios e sincretismo brasileiro entre Orixás e Santos católicos.

 

É notório e sabido o sincretismo greco-romano. Como exemplos: Demeter grega e Ceres romana, Perséfone grega e Prosérpina romana, Cronos grego e Saturno romano, Zeus grego e Júpiter romano, e por aí vai. Embora haja ligeiras diferenças. Tais sincretismos não são tornar idênticas divindades de panteões diferentes. Saturno, por exemplo, é muito ligado à agricultura, o que não se observa com sua contraparte grega, Cronos. 

 

Temos um caso interessante entre dois Deuses sincréticos greco-romanos que é entre Hades grego e Plutão romano. Em português fica fácil a distinção nominal entre Pluto grego (Deus da riqueza) e Plutão romano (Deus do submundo dos mortos). O problema é que Plutão romano traduzido pro inglês fica Pluto, o mesmo nome do Deus grego da riqueza.

 

Outro ponto a se observar é que os povos que antecederam os gregos na Grécia foram os minóicos, daí o mito da morte da figura mitológica Minotauro. Esse mito, entre outras coisas, retrata o fim da civilização minóica e o estabelecimento dos povos gregos (helênicos) na Grécia. Já em Roma, os povos que antecederam os romanos foram os etruscos. Os etruscos possuíam uma divindade dos mortos chamado Dis. O Deus romano Plutão é fruto do sincretismo entre Dis etrusco, Hades grego e Pluto (Deus da riqueza) também grego.

 


Outro caso interessante é o sincretismo entre os Deuses mensageiros Hermes grego, Mercúrio romano, Exú africano e uma divindade que revelarei mais à frente no texto:

 

Existe uma classe de Deuses que possuem o Mistério do Deus que transita entre mundos. O Deus que faz a comunicação entre os homens e Deus. Assim como, a comunicação entre Deuses.

 

Exú Orixá é um Deus desse tipo. Ele comunica e faz a ponte entre o Ayê (Terra) e o Orum (Céu). Assim como há Exú no berço da África e da civilização, há também correspondência entre Exú Orixá e diferentes Deuses de diferentes panteões.

 

Para que me entenda, terá que abstrair. Se você é monoteísta, tem que tentar pensar como um povo que crê e tem em sua cultura o politeísmo.

 

Assim como Exú é um Deus de comunicação, assim é o Deus Mercúrio romano e Hermes grego. Ambos partilham do Mistério do Deus mensageiro.

 

Hermes e Mercúrio são retratados com sapatilhas aladas. Denotando o mistério do Deus mensageiro.

 

 

Também podemos lembrar de Hermes Trismegistos, O 3 vezes mago. Em tal associação do 3 vezes mago temos uma fusão com base no caráter de Deus que comunica entre dimensões, Mercúrio romano, Hermes grego, e Toth egípcio.

 

Alguns Deuses tem a característica de Deus Psicopompo. Deuses encarregados de dar destino para cada alma humana que desencarna.

 

Anúbis egípcio é um Deus psicopompo, encarregado de dar destino às almas, assim como Hermes e Mercúrio.

 

Portanto há 2 Hermes Trismegistos. Hermes Trismegistos (Mercúrio, Hermes e Toth) e Hermes Trismegistos (Mercúrio, Hermes e Anúbis).

 

Há uma divindade fruto da fusão de Hermes grego e Anúbis egípcio numa divindade conhecida como Hermanúbis.

 

A escultura mais antiga que temos dessa divindade, Hermanúbis, está preservada no Vaticano.

 

 Hermanúbis:


De toda forma é o Mistério do Deus 3 vezes Mago.

 

Note que conseguimos sincretizar Hermes grego, Mercúrio romano, Toth egípcio, Anúbis egípcio e Exú yorubá (da África subsaariana – abaixo do deserto do Saara.

 

O Brasil é fruto de uma imensa miscigenação cultural e racial entre diversos povos. O mais notável é a cultura e Deuses africanos subsaarianos conhecidos como Orixás, Inquices e Voduns que dependem da nação em que os negros escravizados vieram para o Brasil. Vamos usar o termo Orixás por ser o mais popular.

 

Até os dias de hoje é sólido o sincretismo dos Orixás com Santos católicos. Os negros trazidos para servirem de escravos não podiam expressar sua fé livremente, ora, eram escravos. Um fato que ocorria com certa frequência é que esses negros enterravam os fundamentos dos seus Orixás no chão batido da senzala. Por cima de cada fundamento, que continha a energia (axé) dos seus Orixás, eles colocavam uma imagem de Santo católico correspondente. Assim, podiam manter suas práticas religiosas sem serem importunados pelos senhores de escravos.

 

Até os dias de hoje temos o sincretismo de Santos católicos com Orixás. Dependendo da região do Brasil as associações são diferentes, como Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora dos Navegantes com Yemanjá. Temos vários outros exemplos: Ogum e São Jorge, Obaluayê e São Lázaro ou Santo Onofre, Oxóssi e São Sebastião, Yansã e Santa Bárbara, Xangô e São Gerônimo ou São João Batista, e por aí vai.

 


Muitos poderiam argumentar que associações entre Santos católicos e Orixás é aculturação. Aculturação se difere de sincretismo por denotar algo mais pejorativo em que uma cultura morre para dar lugar a outra, o que não é o caso. Para entendermos, vamos pensar nos povos nativos do Brasil, os índios. É sabido e notório que várias tribos indígenas brasileiras praticavam a antropofagia (canibalismo). Mas as tribos vencedoras de um conflito só se alimentavam dos mais fortes guerreiros da tribo derrotada, acreditando que com isso ganhariam a virtude de quem se alimentavam. Dentro das religiões afro-brasileiras temos o culto de caboclos (espíritos de índios).

 

 



O movimento antropofágico foi uma manifestação artística brasileira da década de 1920, fundada e teorizada pelos paulistas Oswald de Andrade, poeta, e Tarsila do Amaral, pintora. Iniciando o modernismo no Brasil.

 

Aprofundando a ideologia da Poesia Pau-Brasil, que desejava criar uma poesia de exportação, o movimento antropofágico brasileiro tinha por objetivo a deglutição (daí o caráter metafórico da palavra "antropofágico") da cultura do outro externo, como a norte americana e europeia e do outro interno, a cultura dos ameríndios, dos afrodescendentes, dos euro descendentes, dos descendentes de orientais, ou seja, não se deve negar a cultura estrangeira, mas ela não deve ser imitada. Foi certamente um dos marcos do modernismo brasileiro.

 

O modernismo brasileiro, e portanto o movimento antropofágico, visava não negar o que era produzido fora do Brasil, mas absorver o melhor de fora e com isso sintetizar a produção cultural brasileira. Como um índio que praticava canibalismo para absorver o melhor do guerreiro abatido da tribo rival.

 

 Quadro: Abaporu da artista modernista Tarsila do Amaral:



Mais à frente no Brasil surge o movimento tropicalismo. Tropicália, tropicalismo ou movimento tropicalista foi um movimento cultural brasileiro da segunda metade da década de 1960. Embora a música fosse sua expressão principal, a Tropicália envolveu outras formas de arte como cinema, teatro e poesia.

 

Uma das marcas principais do tropicalismo foram suas inovações estéticas radicais, que mesclavam elementos de manifestações tradicionais da cultura do Brasil – notadamente a união do popular e da vanguarda, bem como a fusão da tradição brasileira – com tendências estrangeiras da época. Esses objetivos comportamentais encontraram eco em boa parte da sociedade brasileira sob a ditadura militar no final da década de 1960.

 

Musicalmente, a Tropicália representou uma renovação no cenário musical brasileiro ao fundir gêneros como o baião, o caipira, o pop e o rock. Essas experimentações culminaram no lançamento do célebre LP Tropicalia ou Panis et Circencis, em 1968, com a participação dos representantes tropicalistas Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Os Mutantes e Tom Zé.

 

Em outros campos artísticos, a Tropicália influenciou os trabalhos de artistas como Hélio Oiticica nas artes plásticas, de Glauber Rocha no Cinema novo, e José Celso Martinez Corrêa no teatro brasileiro. O movimento, contudo, chegou ao fim com as detenções de Gil e Veloso e, posteriormente, com o exílio dos músicos baianos por quase três anos.

 

Um ponto bem revolucionário e antropofágico do movimento tropicália foi a introdução da guitarra elétrica na música popular brasileira contrapondo o movimento da bossa-nova.


Caetano Veloso e Gilberto Gil:


Portanto, concluo e levo vocês, os leitores, à reflexão de que sincretismo não é aculturação, é antropofagia!

 

Autoria: Eosphorus Pluto Eleutherios

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