Bora falar sobre sincretismo? É válido ou não? Tem fundamento?
Primeiramente, vamos ver a
definição de sincretismo no dicionário:
Sincretismo
substantivo masculino
1.
RELIGIÃO
fusão de diferentes cultos
ou doutrinas religiosas, com reinterpretação de seus elementos.
2.
FILOSOFIA
síntese, razoavelmente
equilibrada, de elementos díspares, originários de diferentes visões do mundo
ou de doutrinas filosóficas distintas.
Vamos tratar do sincretismo
religioso, pois essa é uma página religiosa. Falaremos do clássico sincretismo
greco-romano, sincretismo greco-romano com Deuses egípcios e sincretismo
brasileiro entre Orixás e Santos católicos.
É notório e sabido o
sincretismo greco-romano. Como exemplos: Demeter grega e Ceres romana,
Perséfone grega e Prosérpina romana, Cronos grego e Saturno romano, Zeus grego
e Júpiter romano, e por aí vai. Embora haja ligeiras diferenças. Tais sincretismos não são tornar idênticas divindades de panteões diferentes. Saturno, por exemplo, é muito ligado à agricultura, o que não se observa com sua contraparte grega, Cronos.
Temos um caso interessante
entre dois Deuses sincréticos greco-romanos que é entre Hades grego e Plutão
romano. Em português fica fácil a distinção nominal entre Pluto grego (Deus da
riqueza) e Plutão romano (Deus do submundo dos mortos). O problema é que Plutão
romano traduzido pro inglês fica Pluto, o mesmo nome do Deus grego da riqueza.
Outro ponto a se observar é
que os povos que antecederam os gregos na Grécia foram os minóicos, daí o mito
da morte da figura mitológica Minotauro. Esse mito, entre outras coisas,
retrata o fim da civilização minóica e o estabelecimento dos povos gregos
(helênicos) na Grécia. Já em Roma, os povos que antecederam os romanos foram os
etruscos. Os etruscos possuíam uma divindade dos mortos chamado Dis. O Deus
romano Plutão é fruto do sincretismo entre Dis etrusco, Hades grego e Pluto
(Deus da riqueza) também grego.
Outro caso interessante é o
sincretismo entre os Deuses mensageiros Hermes grego, Mercúrio romano, Exú
africano e uma divindade que revelarei mais à frente no texto:
Existe uma classe de Deuses
que possuem o Mistério do Deus que transita entre mundos. O Deus que faz a
comunicação entre os homens e Deus. Assim como, a comunicação entre Deuses.
Exú Orixá é um Deus desse
tipo. Ele comunica e faz a ponte entre o Ayê (Terra) e o Orum (Céu). Assim como
há Exú no berço da África e da civilização, há também correspondência entre Exú
Orixá e diferentes Deuses de diferentes panteões.
Para que me entenda, terá
que abstrair. Se você é monoteísta, tem que tentar pensar como um povo que crê
e tem em sua cultura o politeísmo.
Assim como Exú é um Deus de
comunicação, assim é o Deus Mercúrio romano e Hermes grego. Ambos partilham do
Mistério do Deus mensageiro.
Hermes e Mercúrio são
retratados com sapatilhas aladas. Denotando o mistério do Deus mensageiro.
Também podemos lembrar de
Hermes Trismegistos, O 3 vezes mago. Em tal associação do 3 vezes mago temos
uma fusão com base no caráter de Deus que comunica entre dimensões, Mercúrio
romano, Hermes grego, e Toth egípcio.
Alguns Deuses tem a
característica de Deus Psicopompo. Deuses encarregados de dar destino para cada
alma humana que desencarna.
Anúbis egípcio é um Deus
psicopompo, encarregado de dar destino às almas, assim como Hermes e Mercúrio.
Portanto há 2 Hermes
Trismegistos. Hermes Trismegistos (Mercúrio, Hermes e Toth) e Hermes
Trismegistos (Mercúrio, Hermes e Anúbis).
Há uma divindade fruto da
fusão de Hermes grego e Anúbis egípcio numa divindade conhecida como Hermanúbis.
A escultura mais antiga que
temos dessa divindade, Hermanúbis, está preservada no Vaticano.
De toda forma é o Mistério
do Deus 3 vezes Mago.
Note que conseguimos
sincretizar Hermes grego, Mercúrio romano, Toth egípcio, Anúbis egípcio e Exú
yorubá (da África subsaariana – abaixo do deserto do Saara.
O Brasil é fruto de uma
imensa miscigenação cultural e racial entre diversos povos. O mais notável é a
cultura e Deuses africanos subsaarianos conhecidos como Orixás, Inquices e Voduns
que dependem da nação em que os negros escravizados vieram para o Brasil. Vamos
usar o termo Orixás por ser o mais popular.
Até os dias de hoje é sólido
o sincretismo dos Orixás com Santos católicos. Os negros trazidos para servirem
de escravos não podiam expressar sua fé livremente, ora, eram escravos. Um fato
que ocorria com certa frequência é que esses negros enterravam os fundamentos
dos seus Orixás no chão batido da senzala. Por cima de cada fundamento, que
continha a energia (axé) dos seus Orixás, eles colocavam uma imagem de Santo
católico correspondente. Assim, podiam manter suas práticas religiosas sem
serem importunados pelos senhores de escravos.
Até os dias de hoje temos o
sincretismo de Santos católicos com Orixás. Dependendo da região do Brasil as
associações são diferentes, como Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora dos
Navegantes com Yemanjá. Temos vários outros exemplos: Ogum e São Jorge,
Obaluayê e São Lázaro ou Santo Onofre, Oxóssi e São Sebastião, Yansã e Santa
Bárbara, Xangô e São Gerônimo ou São João Batista, e por aí vai.
Muitos poderiam argumentar
que associações entre Santos católicos e Orixás é aculturação. Aculturação se
difere de sincretismo por denotar algo mais pejorativo em que uma cultura morre
para dar lugar a outra, o que não é o caso. Para entendermos, vamos pensar nos
povos nativos do Brasil, os índios. É sabido e notório que várias tribos
indígenas brasileiras praticavam a antropofagia (canibalismo). Mas as tribos
vencedoras de um conflito só se alimentavam dos mais fortes guerreiros da tribo
derrotada, acreditando que com isso ganhariam a virtude de quem se alimentavam.
Dentro das religiões afro-brasileiras temos o culto de caboclos (espíritos de
índios).
O movimento antropofágico
foi uma manifestação artística brasileira da década de 1920, fundada e
teorizada pelos paulistas Oswald de Andrade, poeta, e Tarsila do Amaral,
pintora. Iniciando o modernismo no Brasil.
Aprofundando a ideologia da
Poesia Pau-Brasil, que desejava criar uma poesia de exportação, o movimento
antropofágico brasileiro tinha por objetivo a deglutição (daí o caráter
metafórico da palavra "antropofágico") da cultura do outro externo,
como a norte americana e europeia e do outro interno, a cultura dos ameríndios,
dos afrodescendentes, dos euro descendentes, dos descendentes de orientais, ou
seja, não se deve negar a cultura estrangeira, mas ela não deve ser imitada.
Foi certamente um dos marcos do modernismo brasileiro.
O modernismo brasileiro, e
portanto o movimento antropofágico, visava não negar o que era produzido fora
do Brasil, mas absorver o melhor de fora e com isso sintetizar a produção
cultural brasileira. Como um índio que praticava canibalismo para absorver o
melhor do guerreiro abatido da tribo rival.
Mais à frente no Brasil
surge o movimento tropicalismo. Tropicália, tropicalismo ou movimento
tropicalista foi um movimento cultural brasileiro da segunda metade da década
de 1960. Embora a música fosse sua expressão principal, a Tropicália envolveu
outras formas de arte como cinema, teatro e poesia.
Uma das marcas principais do
tropicalismo foram suas inovações estéticas radicais, que mesclavam elementos
de manifestações tradicionais da cultura do Brasil – notadamente a união do
popular e da vanguarda, bem como a fusão da tradição brasileira – com
tendências estrangeiras da época. Esses objetivos comportamentais encontraram
eco em boa parte da sociedade brasileira sob a ditadura militar no final da
década de 1960.
Musicalmente, a Tropicália
representou uma renovação no cenário musical brasileiro ao fundir gêneros como
o baião, o caipira, o pop e o rock. Essas experimentações culminaram no
lançamento do célebre LP Tropicalia ou Panis et Circencis, em 1968, com a
participação dos representantes tropicalistas Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal
Costa, Os Mutantes e Tom Zé.
Em outros campos artísticos,
a Tropicália influenciou os trabalhos de artistas como Hélio Oiticica nas artes
plásticas, de Glauber Rocha no Cinema novo, e José Celso Martinez Corrêa no
teatro brasileiro. O movimento, contudo, chegou ao fim com as detenções de Gil
e Veloso e, posteriormente, com o exílio dos músicos baianos por quase três
anos.
Um ponto bem revolucionário e antropofágico do movimento tropicália foi a introdução da guitarra elétrica na música popular brasileira contrapondo o movimento da bossa-nova.
Portanto, concluo e levo
vocês, os leitores, à reflexão de que sincretismo não é aculturação, é
antropofagia!
Autoria: Eosphorus Pluto
Eleutherios
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