As
Feiticeiras em Conflito com Òrúnmìlà (Orumilá - Ifá)!
Quando
a Bruxaria se faz presente no Candomblé!
(Orumilá
é o Orixá Ifá das profecias e oráculos)
Este mito (itán) é do tempo em que não existia separação entre o Céu (Orum) e a Terra (Ayé). Ia-se e vinha-se as divindades normalmente entre os planos espirituais e terrenos, e Elas se encontravam na fronteira que dava passagem aos dois planos (Céu e Terra). Além das divindades, estavam as Àjé, as Feiticeiras. Todas as divindades vinham trajadas com suas belas roupas e cores que as simbolizavam, as Àjé (Feiticeiras) viviam nuas. Por isso, ao chegarem na fronteira entre os dois planos, sentiam-se envergonhadas por estarem nuas e não seguiam adiante.
Então,
as Feiticeiras, decidiram pedir a cada Òrìsà (Orixá) para lhes dar uma parte de
suas vestimentas. A Éégum (a personificação dos ancestrais e almas dos mortos),
pediram: “Por favor, empreste-nos algumas de suas vestes coloridas para que
possamos nos cobrir.” Éégum, ciente do perigo, disse-lhes que não poderia e
pediu para se afastarem.
As
Feiticeiras, então, se voltaram para Òsàlá (Oxalá) e lhes disseram: “Por favor,
cede-nos alguns de seus panos brancos para escondermos nossa nudez e irmos até
a Terra.” Oxalá já as conhecia pelo mal que praticavam, evitando qualquer
acordo com Elas.
Recebendo
a negativa de todos os Orixás, avistaram Orumilá e se dirigiram a Ele. Usando
de outra artimanha, disseram: “Orumilá, por favor, deixe-nos montar em suas costas
até chegar à Terra.” Orumilá explicou que não tinha ossos, não poderia sustenta-las.
Elas insistiram e suplicaram tanto, que Orumilá acabou concordando. Então,
colocou o àse (axé) de Èsù (Exú) em sua boca, abrindo-a para caber as
Feiticeiras nela. E assim Ele as transportou para a Terra.
Chegando
na Terra, pediu que Elas se retirassem, mas se recusaram. Disseram que aonde
estavam era sua morada escolhida. Orumilá implorou muito, pois Elas haviam se
instalado dentro do seu estômago. Como argumento, Ele disse que Elas iriam
passar fome e assim teriam de sair. Elas responderam: “Seus intestinos e seu
fígado serão o alimento para nós.” E começaram a devorar Orumilá por dentro.
Percebendo
que sua vida corria perigo, Orumilá correu para procurar os sacerdotes de Ifá,
que lhes pediram que fizesse uma oferenda de uma grande cabra, e usasse seus
intestinos como epo e èko, e levasse tudo para o local que havia deglutido as
Feiticeiras. Lá chegando, deveria abrir a boca e pronunciar as palavras: “Hàà,
e jade lo!”, que significa, “Saiam, vão embora!”
Fazendo
o que foi orientado, as feiticeiras foram saindo, uma a uma, e Orumilá
comprimiu o seu estômago para ter certeza que não restava nenhuma. Em seguida,
pegou seu barrete e saiu correndo pra casa.
Deitou-se
para descansar, depois dançou e louvou os sacerdotes de Ifá cantando uma canção
que dizia: “Orí mi ni o gbà lówó Eléiye”, que significa: “Somente o meu orí me
salvará das mãos das Feiticeiras.”
Nota:
Orí, alto da cabeça, aonde os Orixás comem na cabeça do filho de Santo durante
os rituais iniciáticos do Candomblé.
Conclusão:
As
Àjé (Feiticeiras) representam a negação de tudo que acalenta os seres humanos,
enquanto os Orixás são tidos como os guardiões destes mesmos seres humanos; há
um conflito marcante entre os dois. Esse choque de interesses determina que
qualquer pessoa que estiver ameaçada pelas Àjé (Feiticeiras) deverá apelar para
o seu próprio orí, ou seja, para a sua cabeça.
Caindo
este caminho num jogo oracular, ele está indicando que a pessoa precisará ter
cautela ao ser condescendente com as pessoas, porque alguém lhe pedirá algo que
a deixará em dificuldades.
Notas:
1-
Eléiye:
Significa
a dona dos pássaros, a forma que as Àjé (Feiticeiras) assumem para realizar o
que pretendem, sempre à noite. Por este motivo, as pessoas que saem à noite,
como medida de precaução, passam a mão na cabeça para evitar que Elas possuem.
2-
Àsè:
Representa
o poder divino para efeitos sobrenaturais. Toda vez que os Orixás desejam
realizar algo de muito poder, consultam Exú para consegui-lo.
3-
Eèsè:
É um
tipo de oferenda feita especialmente para as Feiticeiras e que contém fígado e
os intestinos de animais, adicionando-se a eles èko e azeite de dendê. É o que
as Feiticeiras gostam de comer, sobretudo porque o azeite de dendê é o
substituto do sangue. Acredita-se que, quando uma pessoa está sofrendo de mal
intestinal ou do fígado, ela esteja sob o ataque das Feiticeiras.
4-
Èko:
Massa
de milho branco em forma de pudim e que é oferecido em todas as oferendas.
Autor:
Eosphorus Pluto Eleutherios
Blog:
Bruxaria Sem Dogmas
Referência:
Mitos Yorubás (o outro lado do conhecimento). Autor: José Beniste.
José
Beniste é escritor, historiador, pesquisador de Cultura Afro-Brasileira, é
integrante de movimentos que visam à restauração da dignidade religiosa do
afrodescendente. Iniciado pela Sociedade Axé Opô Afonjá, em 1984, é diretor do
Curso Brasil-Nigéria, fundado em 1982. Ministra aulas de Língua Yorubá.
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