O número 3 na magia.
O número 3 é um número descomposto
(primo), um número sagrado. “Esta é a terceira vez. Eu espero que boa sorte se
encontre em números ímpares... Dizem que há divindade nos números ímpares, seja
ela no nascimento, no acaso ou na morte” (Shakespeare, Merry Wives of Windsor,
ato 5, c. 1, linhas 2-5). Um número de perfeição, um número poderosíssimo. Pois
em Deus há três pessoas, e três são as virtudes teológicas (I Corintios 13:13) na
religião. Por isso, esse número conduz às cerimônias de Deus e à religião, e,
por sua solenidade, preces e sacrifícios são pronunciados três vezes. Virgílio,
aliás, canta:
Números ímpares, que tanto
aos deuses aprazem.
E os pitagóricos o usam em
suas significações e purificações, enquanto em Virgílio:
O qual enxaguou e lavou com
água pura
Três vezes* seus
companheiros.
“Ele [Enéas] também trouxe
duas vezes aos seus companheiros água limpa, borrifando-os com orvalho suave do
ramo de uma frutífera oliveira, e purificou os guerreiros, e pronunciou as
palavras de despedida” (Virgílio, Eneida, 6, c. linha 230 [Lonsdale e Lee,
164]).
É o número mais apropriado
para amarrações ou ligações, como em Virgílio: Caminhei Primeiro com estes
fios, dos quais há três, e vários, Em volta do altar, três vezes carregarei tua
imagem.
E um pouco mais adiante:
Nós, Amarílis, de três cores
feitos E estes
elos por mim atados a Vênus
se destinam
E de Medeia, lemos:
Ela pronunciava três
palavras, que um
sono tranquilo provocaram,
O mar revolto, as furiosas
ondas com elas
se acalmam.
Jasão espirrou nele [no
dragão] suco das ervas letaianas e cantou, três vezes, uma canção que chama o
sono e acalma até o mais bravio dos mares e estanca a correnteza dos rios.
Então o sono chegou àqueles olhos que nunca antes souberam o que era o sono, e
Jasão ganhou o espólio de ouro (Ovídio,
Metamorfoses, p. 137 ©
Madras Editora, São Paulo).
Como se vê na citação, é
Jasão que fala três vezes e faz o dragão dormir e não Medeia. Agrippa confundiu
o trecho com a descrição da mesma cena em Argonautica, de Apolônio de Rhodes,
l. 4, c. linha 156, em que é de fato Medeia que encanta o dragão.
E, em Plínio, era costume em
toda
medicação cuspir com três
deprecações,
e, com isso, curar-se.
Pedimos o perdão dos deuses,
por cuspir no colo, para acalentar alguma presunçosa esperança, ou expectativa.
Sobre o mesmo princípio, é a prática em todos os casos em que o remédio é empregado,
cuspir três vezes no chão e conjurar a doença também três vezes; o objetivo é
auxiliar na operação do remédio usado. Também é comum marcar uma bolha, logo
que ela aparece, três vezes com o cuspe de alguém em jejum (Plínio 28.7
[Bostock e Riley, 5:289]).
A saliva de alguém que
jejuou era considerada mais potente.
O número 3 é aperfeiçoado
com três acréscimos (Três dimensões de espaço: comprimento, largura e altura.)
longo, amplo e profundo, além dos quais não há progressão de dimensão; por
isso, o primeiro número é chamado de quadrado.
Os pitagóricos consideravam
o 3 o primeiro número verdadeiro:
A perfeita multiplicidade de
formas, portanto, eles indicavam de modo obscuro pela díade; mas os primeiros
princípios formais eram indicados pela mônada e díade, como não sendo números;
e também pela primeira tríade e tétrade, como sendo os primeiros números, um
ímpar e outro par... (Thomas Taylor, Theoretic Arithmetic, citado por ele em
sua tradução de Life of Pythagoras (Vida de Pitágoras) de Jamblichus, p. 219.
Diz-se que a um corpo que
tem três medidas, e a um número quadrado, nada se pode acrescentar. E Aristóteles,12
no início de seus discursos a respeito do céu, considera tal coisa uma lei, de
acordo com a qual todas as coisas são dispostas. Pois as coisas corpóreas e espirituais
consistem em três coisas, a saber: começo, meio e fim.
Uma magnitude divisível uma
vez é uma linha, duas vezes, uma superfície, e três, um corpo. Além desses, não
há outra magnitude, porque as três dimensões são tudo o que existe, e aquilo
que é divisível em três direções é divisível em todas. Pois, como dizem os
pitagóricos, o mundo e tudo o que nele existe é determinado pelo número 3, já
que começo e meio e fim dão o número de um “Todo”, e o número que eles dão é 3.
Assim, compreendendo esses três princípios da natureza como, por assim dizer,
leis, nós usamos o número 3 na adoração dos deuses. Além disso, nós usamos os
termos na prática da seguinte maneira. De duas coisas, ou dois homens, dizemos
“ambos”, mas não “todos”: três é o primeiro número ao qual o termo “todo(s)” se
tornou apropriado. E com isso, como dissemos, estamos apenas seguindo a lei da natureza
(Aristóteles, De caelo, 1.1.268 a [McKeon, 398]).
Pelo três (como dizia
Trismegisto) (linhas 12-3 da Tábua de Esmeralda), mundo é aperfeiçoado:
harmonia, necessidade e ordem, isto é, concorrência de causas, que muitos
chamam de destino, e a execução delas, por muitos chamada de fruto ou aumento,
bem como a devida distribuição desse aumento.
A medida inteira do tempo é concluída
no três: passado, presente e futuro; toda magnitude está contida no três: linha,
superfícies e corpo; todo corpo consiste em três intervalos: comprimento,
largura e espessura. A harmonia contém os três assentamentos no tempo: diapasão
(O intervalo de uma oitava em música), hemiolon (O perfeito quinto intervalo),
diatessaron (O intervalo de uma quarta) . Há três tipos de almas: vegetativa,
sensitiva e intelectual. E como dizia o profeta (Isaías 40:12), Deus ordena mundo
pelos números, peso e medida, e o número 3 é delegado às formas ideais do mundo,
enquanto o 2 é atribuído à matéria em procriação e a unidade, a Deus, o criador
dela.
Os magos constituem os três príncipes
do mundo: Oromasis, Uma variação de Ormazd (Ahura Mazda), o antigo deus persa
da criação, correspondendo na trindade zoroastriana ao Pai, Mitris, Variação de
Mithra, a segunda pessoa da trindade de Zoroastro, o eterno intelecto e o
arquiteto do mundo, Araminis, Variação de Ahriman (Angra Mainyu), a terceira
pessoa da trindade zoroastriana, correspondendo a Psique, a alma mundana, ou
seja, Deus, a Mente e o Espírito. Pelo três ao quadrado ou sólido.
Três ao quadrado é 3 x 3;
três sólido é 3 x 3 x 3. “Os números compostos, que são o produto de dois
números, são chamados planares, e são considerados como tendo duas dimensões,
comprimento e largura. Aqueles que são o produto de três números são chamados
sólidos, pois possuem a terceira dimensão. (Theon 1.7 [Lawlor, 16]).
Os três números nove das coisas
produzidas são distribuídos: das supercelestiais em nove ordens de inteligências;
das celestiais em nove orbes; das inferiores em nove tipos de coisas geráveis e
corruptíveis. Por fim, nesse orbe trino (Orbe triplo; ou seja, 3 x 3 x 3), 27,
todas as proporções musicais se incluem, como Platão e Proclo explicam em
detalhes.
Os pitagóricos formavam uma
tétrade com base na multiplicação de números ímpares e pares unidos na unidade,
a soma dos quais era 27. Este, somado à tétrade de adição (1+2+3+4 = 10),
simbolizava as proporções musicais, geométricas e aritméticas sobre as quais o
Universo é baseado. Ver Timaeus, de Platão, 24-6; também Theon, 2.38; também a
nota na página 80 da tradução de Thomas Taylor de Life of Pythagoras, de
Jamblichus, 235-9.
E o número 3 tem, em um
harmonia de 5, a graça da primeira voz.
De acordo com os
pitagóricos, o homem é um acorde completo na harmonia maior do mundo, consistindo
em uma tônica, sua principal terceira, sua justa quinta e sua oitava.
Também nas inteligências há
três hierarquias (Os nove coros de anjos são divididos em três grupos de três) de
espíritos angelicais. Há três poderes das criaturas inteligentes, memória e
vontade. São três as ordens dos bem-aventurados, mártires, Confessores e
inocentes. Três são os quadriênios dos signos celestes.
Comuns = Áries, Câncer,
Libra, Capricórnio (Cardinais)
Fixos = Touro, Leão,
Escorpião, Aquário
Móveis = Gêmeos, Virgem,
Sagitário, Peixe (Mutáveis)
Fixos, móveis e comuns; bem
como de casas.
Centros (Angulares) = I IV
VII X
Seguintes (Sucessivos)= II V
VIII XI
Decadentes (Cadentes)= III
VI IX XII
Centros, seguintes e
decadentes. Há também três faces e cabeças em todo signo.
Na moderna Astrologia, uma
face é uma divisão de cinco graus de arco em um signo do zodíaco. Cada signo
tem seis faces. Agrippa usa o termo para indicar uma decania ou divisão de dez
graus. Cada signo tem três decanias. O termo cabeça talvez se refira aos senhores
das decanias, os 36 espíritos originados com os egípcios e descritos em
Picatrix.
E três senhores de cada
triplicidade.
Uma triplicidade é um
conjunto de três signos do zodíaco associados a um elemento.
Há três fortunas (Sol,
Júpiter e Vênus) entre os planetas. Três graças entre as deusas.
Filhas de Zeus e Eurínome
(ou de Dioniso e Afrodite), Eufrosina, Aglaia e Tália. A função delas é conceder
civilidade, cortesia, elegância e boas maneiras.
Três Senhoras do Destino
entre a população infernal.
Eram filhas de Têmis (Lei) e
se afiguravam como três velhas presentes ao nascimento de toda criança.
Lachesis atribui à pessoa sua sina; Clotho tece a linha da vida; Átropos corta
com suas “tesouras abomináveis” essa linha. Elas são equivalentes às Nornas da
mitologia nórdica, e aparecem nos lugares mais variados, como em Macbeth, de Shakespeare,
e no conto de fadas “A Bela Adormecida”.
Três juízes.
Aecus, Minos e Rhadamanthys,
que formavam o tribunal do Inferno e julgavam as almas dos mortos. Minos, filho
de Zeus e Europa, e antigo rei de Creta, era o juiz supremo; Rhadamanthys, seu irmão,
antigo rei das Ilhas Cíclades, julgava os asiáticos; Aecus, filho de Zeus e
Egina, escolhido para esse posto pelos deuses, julgava os europeus.
Três fúrias.
Aleto, Tisífone e Megera,
três aterradoras deusas, com serpentes como madeixas, que puniam com seus
ferrões secretos aqueles que de alguma forma escapavam da justiça. Também
chamadas de Erínias (as iradas) e, em eufemismo, Eumênides (as gentis). Foram
geradas por Gaia (Terra) e pelo sangue escorrendo de Urano (o céu) castrado.
Cérbero tem três cabeças.
O cão de três cabeças, com
rabo de serpente e uma crina ou juba de serpentes que guarda os portões do
Inferno.
E lemos também da tripla
dupla Hécate.
Os gregos chamavam Hécate de
Tríceps e Triforme em seu aspecto de Lua, atribuindo a ela três cabeças: uma de
leão, uma de cão e uma de égua. As três formas de deusa de Hécate eram Febe
(Lua) no céu, Diana na Terra e Prosérpina no inferno. Robert Graves diz: Como
deusa do Submundo, ela se ocupava do Nascimento, da Procriação e da Morte. Como
deusa da Terra, ocupava-se das três estações da Primavera, do Verão e do
Inverno; animava as árvores e as plantas e regia todos os seres vivos. Como
deusa do Céu, ela era a Lua, em suas três fases: Lua Nova, Lua Cheia e Lua
Minguante. Isso explica por que ela costumava ser ampliada por nove (Graves
[1948] 1973, 386).
Seu animal sagrado era o
cachorro, e seu local sagrado era a encruzilhada, na qual estátuas eram erguidas.
Três bocas da virgem Diana.
Três pessoas na divindade supersubstancial. Três tempos de natureza, lei e
graça. Três virtudes teológicas, fé, esperança e caridade. Jonas ficou três
dias na barriga da baleia (Jonas 1:17.); e por três dias ficou Cristo na
sepultura (Lucas 24:21).
Referência:
"Três livros de filosofia oculta" - Henrique Cornélio Agrippa.
Interessante Eu Gostei
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