Brahma, Vishnu e Shiva:

Brahma, Vishnu e Shiva:

Figura 1, Brahma, Vishnu, Shiva:

Nesse artigo vou falar um pouco da fé hindu, da trindade masculina superior, de Avatares e seus conceitos. E colocarei no fim um link para uma Deusa hindu que já tratei aqui no blog.

Primeiramente, há um espanto aos olhos dos de fora e dos ocidentais na infinidade de Deuses e Deusas indianos. Na verdade, Deus é concebido e até ganha forma e nomes diferentes de acordo com seu campo de atuação. Assim, para os milhares de campos da vida, temos milhares de Deuses hindus que assumem a responsabilidade por esses papeis.

O devoto hindu, embora tenha seu Deus particular de culto, ishta deva, mesmo assim, cultua outras divindades hindus.

O Deus supremo é expresso pelo mantra ‘OM’. Mas esse Deus é sem forma. Como necessitaram de forma para a divindade, temos hoje essa profusão de lindas imagens divinas hindus.

‘OM’ é a alma universal de Brahma. Mas o criador da vida, Brahma, era Nirguna, sem forma, abstrato e intangível. Então Nirguna Brahman evoluiu para Saguna Brahman. O Brahman surgiu como uma trindade masculina, um Deus de três faces, chamado Trimurti.

Assim temos, Brahma, o criador do Universo. Vishnu, o preservador, que mantém o dharma (a retidão) e a ordem. E Shiva, o destruidor. A esposa de Brahma é Saraswati, a Deusa do aprendizado. Lakshmi, a Deusa da riqueza, esposa de Vishnu. E Parvati, esposa de Shiva. Já tratei de Parvati, essa Deusa extremamente complexa, em outro artigo. Ao final desse, deixarei o link para os interessados.

Figura 2, Lakshmi, Parvati e Saraswati:

Os Deuses védicos (hindus):

Existia um povo que habitava, hoje o que conhecemos como Índia, e tinha sua fé local. Isso entre 3000 a 1500 antes da era comum (a.e.c). Os arianos da Ásia central invadiram a Índia (+/- 1500 a.e.c). Temos assim, uma mistura de conceitos divinos. O povo que habitava antes da chegada dos arianos adoravam Deuses em forma de animais, árvores e até fogo. Os arianos adoravam Deuses como poderes da natureza. Dessa mistura surgem os Deuses hindus.

Temos também os Vedas. Textos em sânscrito, que retratam a história do povo assim como a história dos Deuses. O primeiro Veda é o Rig Veda. O Yajur Veda, Sama Veda e o Atharva Veda são posteriores ao Rig Veda.

Vemos o Deus-fogo, Agni bem presente na cultura hindu. Pois todo sacrifício é dado aos Deuses através de incineração. O fogo também faz parte dos lares. Vemos paralelamente a importância do fogo ou chama tanto para a religiosidade quanto para a família nas Deusas grega Héstia e romana Vesta. O fogo tem a mesma importância para os hindus, e é o Deus Agni.

Figura 3, Agni Deus do Fogo:

Outro ponto a ser observado é que grande parte dos Deuses hindus possuem carruagens puxadas por cavalos. Os cavalos foram introduzidos na Índia pelos Arianos. O maior sacrifício era o Ashvamedha (o sacrifício do cavalo). Era incinerado como dito anteriormente. Outro ponto a ser observado é que cada divindade possui um animal sagrado e é também um veículo. O veículo de Saraswati é o pavão que representa as manifestações artísticas. Vishnu senta-se sobre a serpente que representa o desejo. Para Shiva temos o touro Nandi, que representa a energia sexual bruta. A esposa de Shiva, Parvati/Durga/Kali monta um leão que representa a violência. Ganesha monta um rato, que representa timidez e nervosismo. Assim, só com as divindades controlamos essas forças primordiais e as usamos de forma útil, simbolicamente como veículo. A isso Freud chamava de pulsão. Pulsão são forças que brotam de nossa Psiquê e que se bem dirigidas (veículos) nos são úteis. Mas reprimidas ou mal empregadas se tornam os nossos maiores vícios ou demônios interiores.

Figura 4, Saraswati e o pavão:

Figura 5, Shiva e o touro Nandi:

Quando se visita um templo de Shiva deve-se pedir antes autorização a Nandi para adentrar, geralmente levam-se flores como uma oferenda, e as mulheres e homens tocam em Nandi pedindo fertilidade. É comum também as pessoas chegarem junto aos ouvidos de Nandi para confidenciar um segredo, pedir algo, ou falar sobre o motivo da visita ao templo, pois Nandi faz os “arranjos” necessários para que o pedido chegue ao Senhor Shiva.

Figura 6, Durga e o Leão:

Figura 7, Ganesha e o rato:

Ganesha (Deus que remove obstáculos, Deus da sabedoria) é filho de Shiva e Parvati. Tem duas esposas Siddhi – sucesso, e Riddhi – Sabedoria. Figura 8:

Foto 1, minha imagem de Ganesha em metal, desculpa a foto não ficou boa:

Brahma, O senhor da criação:

Figura 9, Brahma:

Brahma nasceu de Hiranyagarbha (o núcleo dourado). Nos lembra bem o ponto de singularidade que havia antes da grande explosão (Big Bang), em que todo o universo que conhecemos estava reunido em um ponto infinitamente pequeno e mesmo assim continha toda a matéria do nosso universo e consequentemente a gravidade. Quando Brahma se formou ele colocou Hiranyagarbha de volta nas águas. E Criou o universo. Aqui vemos o simbolismo das águas. Pela teoria evolutiva moderna é das água que surge a vida. Psicologicamente as águas representam nossa emoção, mas também nossa consciência, cada vez mais profunda vamos da mente consciente (superfície) até a inconsciente abismo aquático. A água também se relaciona com a morte. Assim, Hiranyagarbha que gera a vida e colocada de volta nas águas a que gera a morte.

Como dito acima, a esposa de Brahma é Saraswati (Deusa do conhecimento). No ‘abraço’ de Brahma e Saraswati o mundo é criado. Na verdade, o universo é criado. Saraswati também é a mãe dos Vedas e inventora do alfabeto devanágari.

Um dia na vida de Brahma é um kalpa, um período de tempo gigantesco. Cada kalpa mede 4 bilhões de anos humanos. Lembrando que nosso planeta tem 4,5 bilhões de anos e o universo existe há um tempo infinitamente maior. Assim a idade de nosso planeta corresponde +/- a um dia na vida de Brahma. Vemos aqui a questão do tempo. Na teoria da cordas, a mais recente sobre a união da física macroscópica (a de Newton) e a quântica, temos o tempo como a quarta dimensão do espaço-tempo. Temos; altura, largura e profundidade (três dimensões) e o tempo formando a quarta dimensão. A isso chamamos de espaço-tempo. Mas na teoria das cordas, temos 11 dimensões. Algumas infinitamente pequenas que não tem lógica enquanto espaço, nem o menor espaço, o ponto. Na verdade a nossa matemática é ainda limitada. Na física macro lidamos com números infinitamente grandes. Assim, ao retroceder o universo em direção ao Big Bang, chegamos até um ponto. Não conseguimos avançar, pois todos os números chegam ao infinito, a esse ponto chamamos de singularidade. Da mesma forma, existem certas limitações na física quântica que lida com números infinitamente pequenos. A teoria da cordas ou teoria M tenta unir a física macro e micro através da gravidade. No mundo quântico, a física de Newton não funciona, são outras leis. Mas o que une a quântica e a macro é a gravidade.

Como Prajapati (o criador) Brahma desperto, o universo surge e se expande, quando dorme, todo o universo encolhe para um núcleo em repouso. Voltando à física moderna, existem duas teorias. O universo está em expansão e acelerando. Ou ele se expandirá infinitamente ou chegará um ponto em que a força de atração (gravidade) de toda matéria do universo fará desacelerar a expansão do universo até que ele comece a retroceder em um único ponto novamente, o ponto da singularidade do Big Bang. Pelo hinduísmo o universo vai retornar a um ponto novamente, o Hiranyagarbha. Isso foi intuído pelos escribas e sacerdotes vedas por volta de 3000 a 1500 antes da era comum. É no mínimo intrigante.

Figura 10, imagem de Shiva na frente da sede do maior acelerador de partículas já construído:

Brahma cria Soma (Lua) e Surya (Sol), Agni (fogo), liberta Vayu (vento) para vagar pelo mundo, cria Varuna (água) para nascer a vida na Terra. Sim, novamente um povo a milhares de anos antes da era comum já intuíam que a vida surgiu primeiro na água.

Figura 11, Surya Deus Sol:

Figura 12, Soma Deus Lua:

Figura 13, Vayu Deus Vento:

Figura 14, Varuna Deus Água:

Não existem templos de Brahma (exceto um em Pushkar, Rajastão). Pois não há ritos específicos para Brahma, assim como há para Shiva e Vishnu.

Segundo a mitologia, Brahma foi amaldiçoado por Shiva (por ter proferido uma mentira e por seu ego) a não ser reverenciado. Mas mesmo assim nos templos de Shiva e Vishnu há sempre uma imagem de Brahma no norte do templo como parivara devata (deidade assistente).

Brahma possuía 5 cabeças, ele tentava olhar fixamente para (Satarupa, Saraswati, Sandhya ou Brahmi, os nomes mudam em diferentes vedas) devido a sua beleza. E para fixar seus olhos nela brotava uma cabeça em cada direção. A quinta olha para cima. Ele viveu com ela por cem anos divinos e no final nasceu Manu (o primeiro homem).

Segundo os Puranas, Brahma hoje é representado com somente quatro cabeças porque Ele estava discutindo com Vishnu quem era superior entre os dois. Perceberam que Shiva era superior e Brahma falou em tom depreciativo sobre Shiva. Shiva com raiva corta a quinta cabeça que falou zombarias sobre Ele.

As quatro faces de Brahma representam os quatro Vedas (Rig, Yajur, Sama, Atharva). Os quatro braços as quatro direções. Diferente das outras deidades, Brahma não carrega nenhuma arma. Possui um rosário, simboliza o tempo e os materiais da criação. O rosário está na sua mão direita sugerindo o uso inteligente da matéria para criar. Possui um livro na mão esquerda posterior, simbolizando o intelecto. Um pote de água (Kamandal) na mão esquerda anterior, simboliza a energia cósmica de criação. A mão direita anterior (simboliza o ego) está em um gesto de quem está conferindo graça. Sua cor dourada representa a atividade. A cor branca da barba denota sabedoria. A coroa na cabeça implica que Ele detém o poder e autoridade sobre todo o processo de criação. O lótus simboliza a Realidade Suprema. Ele sentado ou em pé sobre o Lótus, indica ele representa o poder criativo da Realidade Suprema. A cor branca simboliza pureza. Quando Brahma não se veste de branco simboliza a natureza dual da criação, pureza e impureza, felicidade e infelicidade, vício e virtude, ... Brahma possui um cisne como veículo simbolizando o poder do discernimento. Isso indica que embora haja um realidade pluralística e ilusória, existe uma Realidade Suprema que só o discernimento pode acessar.

Brahma representa a Mente Universal. No indivíduo, Brahma é seu próprio pensamento. Ele é venerado pelos que buscam conhecimento, como estudantes, professores, eruditos e cientistas.

Seu templo de Jagat, o único dedicado a Brahma, encontra-se em Pushkar, Rajastão. Segundo o Padma Purana, foi ali que Brahma matou um demônio com uma flor de lótus. Nesse local há também um pequeno templo a Hanuman (o Deus macaco) e uma árvore de 200 anos, mais três Km ao norte há um templo dedicado a Krishna.

Outro mito nos diz que Brahma resolveu realizar, em Pushkar, um yajna (rito de sacrifício) sagrado. Ele deveria realiza-lo junto de sua esposa Saraswati. Saraswati se atrasou, mas a hora para o yajna havia chegado. Brahma pede então a Indra (o Deus trovão) para trazer um moça adequada para sentar ao seu lado no rito. Indra trouxe Gayatri. Brahma casou-se com Ela. Saraswati chega e fica extremamente zangada. Saraswati amaldiçoou Brahma dizendo que só em Pushkar seria adorado. Saraswati se retirou para Rathkagir, uma montanha ao sul de Pushkar, onde existe um templo dedicado a Ela.

Degraus de mármore conduzem ao templo de Brahma, uma tartaruga de prata está gravada no chão em direção ao altar. Em torno da tartaruga centenas de moedas de prata, tal qual as paredes do templo. Um cisne atravessa o portão para o templo. Estátuas de Gayatri e Saraswati encontram-se, respectivamente, à esquerda e à direita da imagem de Brahma. Seus quatro braços e quatro rostos estão direcionados aos quatro pontos cardeais.

Figura 15, templo de Brahma:

Vishnu O Senhor da Preservação:

Figura 16, Vishnu reclinado sobre a cobra Ananta e acompanhado de sua esposa Lakshmi:

Vishnu é o Senhor da proteção, sustentação e manutenção. Sua esposa é Lakshmi, dona da riqueza. Riqueza material, coragem, prole, sucesso, alimento, luxo, felicidade eterna. Vishnu e Lakshmi auxiliam as almas introduzidas por Brahma a sobreviverem.

Ele é geralmente representado com corpo humano, com quatro braços. Em suas mãos carrega uma concha (shankha), uma clava (gada) e um disco (chakra). Usa uma coroa, dois brincos, uma guirlanda (mala) de flores e um colar vermelho em torno do pescoço. Seu corpo e azul e suas roupas amarelas conhecido assim como Pitambara. Ele é retratado reclinado sobre uma cobra de mil cabeças (Ananta ou Shesh Naag).

Os quatro braços indicam a onipotência e onipresença de Vishnu. A concha em sua mão esquerda superior indica que ele comunica com seus devotos com amor e compreensão. O chakra na mão direita superior é usado pelo Senhor para defender seus devotos do mal. A clava representa energia. A última mão confere a graça aos seus devotos.

A cobra representa a mente, as mil cabeças os muitos desejos e paixões. Uma mente descontrolada destrói o indivíduo assim como o veneno da cobra. Ele reclinado sobre a cobra significa que Ele controlou todos os seus desejos. Quando um devoto controla suas vontades, Vishnu realiza seus desejos genuínos. Desejos genuínos me lembra o que Crowley chamava de verdadeira vontade.

O azul simboliza o infinito. Ele não tem nome, forma e é imensurável. O amarelo refere-se a existência terrena. E suas veste sendo amarelas indicam que Vishnu encarnou na Terra para manter a retidão e destruir o mal.

A guirlanda é símbolo da adoração de seus devotos. O colar vermelho indica que ele realiza os desejos genuínos, ou a verdadeira vontade do devoto. A coroa é símbolo do poder supremo e autoridade. Os dois brincos representam a natureza dual da criação.

É conhecido como Sattvaguna (gentil e misericordioso). Sempre que há uma crise na Terra Vishnu renasce entre nós. Ele é o único da Trimurti (a trindade suprema) que faz isso. Segundo os Puranas, se o dharma (retidão) for alterado, Vishnu desce à Terra como um avatar para lutar contra as forças do mal.

O Bhagavata diz que existem 22 avatares de Vishnu. Mas o mais aceito é que existem 10, conhecidos como Dashavatara. Todos são reverenciados, mas o sétimo Rama e o oitavo Krishna são adorados como Deuses. Acredita-se que os quatro primeiros avatares surgiram na Krita Yuga, do quinto ao sétimo na Treta Yuga, o oitavo na Dwapara Yuga e o nono na Kali Yuga. O Décimo avatar ainda surgirá no final da Kali Yuga. Yuga é uma medição de tempo divina.

Os avatares foram Matsya (peixe), Kurma (tartaruga), Varaha (Javali), Narasimba (homem-leão), Vamana (anão), Parashurama (um guerreiro poderoso), Rama, Krishna, Buda e o que virá Kalki (cavalo branco).

Figura 17, Avatares de Vishnu:

Sempre que Vishnu desce à Terra Ele se casa com sua esposa Lakshimi. Eles estão destinados a se casarem tanto na Terra quanto no céu. Quando Vishnu foi Rama, Lakshmi nasceu como Sita. Com Krishna, Rukmini.

Avatar:

O conceito de Avatar é o seguinte: Avatar é um Deus ou Deusa que se faz homem ou mulher e vive, transita e interage com a humanidade mortal. Vemos a questão do Avatar na figura do Cristo, quando o Deus hebraico se faz carne e habita entre nós como um humano.

Vemos nos mitos ou intáns dos Orixás o mesmo conceito. Ao mesmo tempo em que temos mitos da criação do Universo e do Mundo pelos Orixás, temos itáns que falam dos Orixás vivendo entre nós, geralmente foram grandes Reis e Rainhas africanos.

Temos isso também na mitologia egípcia. Os Deuses egípcios assim como são divinos e possuem suas funções, eles viveram entre nós. Temos no mito da disputa do trono após a morte de Osíris esse conceito. Osíris era o dono do trono, ou seja, era faraó. Quando Ele morre, seu filho Hórus e seu tio Set disputam o direito legítimo de ocupar o trono. Assim, Set e Hórus disputam o trono e Hórus vence a batalha e se torna faraó. Todo faraó que existiu no Egito antigo era um Deus encarnado, ou seja, um Avatar.

Observamos também o mito recorrente do Rei/Deus sacrificado para o bem do povo. Lemos isso em O Ramo de Ouro de James Frazer e nas incontáveis obras do, na minha opinião, o maior especialista de mitologia comparada, Joseph Campbell. Temos assim, Reis e Rainhas que também são Deuses, viveram entre nós, se sacrificaram por nós e ao mesmo tempo criaram o universo ou os universos.

Esse conceito universal do Deus que se sacrifica pelo bem da comunidade e renasce uma nova criança para ocupar o cargo divino, foi utilizado para fomentar a religião Wicca. Até o conceito da disputa entre o Rei Carvalho e o Rei Azevinho mostra essa disputa e sucessão do trono, que embora humano, é também divino.

Já em épocas mais recentes, quando o mundo era praticamente inteiramente monárquico e absolutista, e estávamos indo em direção à república e à democracia. Autores defendiam o direito dos reis e da monarquia incluindo o conceito divino dos reis. A mais famosa obra nesse sentido é “O direito divino dos reis.” Essa teoria foi criada pelo bispo, teólogo francês Jacques Bossuet, consolidando-se no transcorrer do século XVII.

Na atualidade, a doutrina do direito divino subsiste em estados teocráticos. No Vaticano, justifica o poder do Papa. Nos califados, as concepções derivadas do Corão sobre fusão dos papeis espirituais e temporais - concentrados nas mãos do califa - também resultam em regimes legitimados pelo direito divino. No Japão, país conhecido como o império do sol nascente, o imperador é considerado como descendente da deusa Amaterasu, deusa xintoísta do sol, sendo que o disco solar está presente na bandeira do país.

Voltando a Vishnu:

Vemos o mito da grande inundação (dilúvio) também nos textos Veda. Uma grande inundação assolou a Terra. Manu (o primeiro homem) pegou uma tigela de água para rezar. Nela apareceu um peixe que disse que se Manu cuidasse dele o salvaria da inundação. Manu concordou e levou o peixe para o oceano.

No oceano, Matsya, o peixe, cresceu até ficar do tamanho de uma baleia e ensinou Manu a construir um barco. Após o dilúvio Manu semeou a Terra novamente com as sementes que levava no barco. Vishnu como Matsya, sustentou Brahma, que renovou o mundo.

Figura 18, Matsya:

Após o dilúvio, vários tesouros cósmicos afundaram no oceano. Os asuras (demônios) entraram em disputa como os devas (Deuses menores) para revolver os oceanos em busca do amrit (néctar da imortalidade).

Vishnu apareceu como Kurma (tartaruga) e ajudou os devas. Enquanto revolviam o oceano, Kurma sustentou o monte Mandara em suas costas para que não afundasse. O néctar da imortalidade ficou com os Deuses. Surgiram mais 14 tesouros. Para Kurma, o mais precioso foi Lakshmi, a Deusa da beleza e boa sorte, que seria sua esposa.

Figura 19, Kurma:  

Os outros tesouros foram: Dhanvantari (médico dos Deuses que carrega o pote com o amrit), Sura (Deusa do vinho), Chandra (Lua), Rambha (ninfa celeste), Kaustubha (a pedra preciosa para o corpo de Vishnu), Uchchaihshravas (o cavalo divino, rápido como o pensamento), Parijata (a árvore que realiza os desejos), Airavata (o elefante de quatro presas), Panchajanya (concha), Sharanga (o arco invencível) e Visha (veneno).

Quando o demônio Hiranyaksha arrastou Bhoomi Devi (Mãe Terra) para baixo das águas, Vishnu assumiu a forma de Varaha (javali). Venceu o demônio e trouxe Bhoomi Deva de volta. Com seu focinho formou uma dobra na Terra, o Himalaia. Tirou mais terra do mar e moldou os continentes.

Figura 20, Varaha:

Uma certa vez, um rei tirânico Hiranyakashipu atormentou o mundo. Ele não podia ser morto por homem ou animal. Nenhum Deus consegui superá-lo. Adotando a forma de um homem com cabeça de Leão, Narasimba, Vishnu matou Hiranyakashipu.

Figura 21, Narasimba:

Bali o bisneto de Hiranyakashipu, era um monarca virtuoso e justo. Seu ‘brilho’ começou a ofuscar o de Indra (Deus Trovão) que pediu ajuda a Vishnu para obter a supremacia novamente. Vishnu se disfarçou de Vamana (anão) e pediu a Bali um pedaço de terra igual a três passos seus, sobre o qual ele pudesse se sentar e meditar. Bali concordou, três passos de uma anão! Vishnu com dois passos tomou a posse do céu e da Terra. O terceiro passo iria atingir o mundo inferior, mas Bali curvou-se diante Dele, compreendendo se tratar de Vishnu. Vishnu poupou Bali e o concedeu outro reino em outro mundo.

Figura 22, Vamana:

Na encarnação como Parashurama, Rama por ser um excelente arqueiro, vai ao Himalaia adorar Shiva por anos em gratidão. Shiva se alegrou. Houve uma guerra entre Deuses e demônios e Shiva ordenou Rama que derrotasse os demônios. Rama estava sem seu arco e questionou como poderia lutar sem sua arma. Shiva assegurou-lhe que, se ele fizesse conforme lhe fora dito, subjugaria os demônios. Rama vence e Shiva o presentei com vários dons e armas. Uma da armas foi um machado (parashu) pelo qual Rama ficou conhecido como Parashurama (Rama-com-machado). Parashurama é a primeira encarnação em que Vishnu aparece sob forma inteiramente humana.

Figura 23, Parashurama:

Na sétima encarnação de Vishnu, Rama, Ele vem para matar o demônio Ravana. Acredita-se que Ele foi uma figura histórica real, cujas façanhas se encontram no épico Ramayama. Rama se assemelha em aparência com Krishna e Vishnu. Casou-se com Sita (avatar de Lakshmi). Na índia ocorrem dois festivais anuais, Dussehra que comemora a morte de Ravana por Rama, e Diwali, festival das luzes, que celebra a volta de Rama e Sita ao seu reino.

Figura 24, Rama:

Em seu oitavo avatar, Vishnu foi Krishna. O maior mestre cujas palavras se encontram na obra filosófica hindu, Bhagawad Gita. Quando criança Krishna era travesso, gostava de manteiga, sendo carinhosamente chamado de Makhan Chor (ladrãozinho de manteiga). Seus colegas de infância eram os gopas (meninos vaqueiros) e as gopis (meninas vaqueiras). Radha (gopi) foi quem mais amou Krishna. Krishna tocava sua flauta na floresta enquanto as gopis dançavam em êxtase. Elas representam as almas presas nos corpos. Radha simboliza a alma individual que é desperta pelo amor a Deus. O som da flauta de Krishna representa o chamado do divino. A dança de Krishna e as gopis, simboliza a união do humano com o Divino, a dança das almas.

Figura 25, Krishna bebê, figura 26 Krishna flautista:

A vida de Krishna teve vários acontecimentos. Mas é no campo de batalha que Krishna dita o Bhagavad Gita para Arjuna. Esse livro facilmente baixado na internet é de uma sabedoria ímpar. De todas as encarnações, Krishna é considerado a encarnação total e completa (purna avatar) do Senhor Vishnu. Ganesha possui uma presa quebrada. Diz-se que Ele quebrou a própria presa para escrever o Gita.

Figura 27 Krishna e Arjuna:

Como Buda, Vishnu foi um grande mestre religioso na Índia. Gautama o Buda nasceu em 544 a.e.c. Sobre Buda temos várias histórias e vertentes do budismo. Então, não vou me alongar aqui.

Figura 28, Buda:

Foto 2, meu Buda como representação do Vishnu usando o Japa Mala. Esse contém ¼ das contas originais que são 108. O número 108 é sagrado. Repetir um mantra 108 vezes é o ideal:

O avatar final de Vishnu será Kalki. Ele virá cavalgando um cavalo branco. Dizem que brandirá uma espada flamejante e destruirá todo o mal sobre a Terra. Depois reinará a pureza em outra Treta Yuga.

Figura 29, Kalki:

Os templos de Vishnu:

Badrinath, figura 30:

Bhavishya Badri, figura 31:

Vridha Badri, figura 32:

Adi Badri, figura 33:

Shiva, O Senhor da Destruição:

Figura 34, Shiva:

Conhecido como o destruidor na Trimurti, possui 1008 nomes, que incluem Mahadeva (o Grande Deus), Mahesh, Rudra, Neelkantha (o de garganta azul) e Ishwar (o Deus Supremo). Também conhecido como Mahayogi, o grande asceta. Ascetas são sacerdotes que ficam em estado meditativo por longos períodos, sem comer, beber...

Foto 35, Asceta:

O nome Shiva não aparece nos Vedas. Mas é identificado nos Vedas como Rudra, Senhor dos cantos, sacrifícios, nutrição, curador de doenças, o que dá posses. Diz-se que possui 5 faces, panchakriya: criação, estabelecimento, destruição, perdão e graça. Suas 5 faces estão associadas a criação do mantra sagrado ‘OM’.

Diz-se que Ele mora no monte Kailasha, no Himalaia. Seu veículo é Nandi, o touro, e sua arma é o trishul (tridente). Já tratei da esposa de Shiva, Parvati, no blog e deixarei o link ao final.

Uma das formas de Shiva é a de Ardhanarishvara. Nessa forma Ele separou Parvati de seu corpo. Parvati encarnou como Kali, Durga e Uma. Deixarei o link mais à frente como prometido. Shiva tem um grande número de serviçais, os ganas. Esses seres mitológicos possuem corpos humanos com cabeça de animal. Shiva tem dois filhos, Ganesha, o elefante e Kartikeya. Ganesha é o líder dos ganas.

O Linga Purana diz que Brahma e Vishnu estavam discutindo quem era o ser supremo. Surgiu diante Deles uma enorme coluna de fogo. Eles decidiram que quem chegasse ao final, da coluna seria o supremo. Vishnu assumiu a forma de javali e cavou a terra. Brahma como cisne voou para o alto. Não acharam o fim da coluna de fogo. Então Shiva apareceu na coluna de fogo. Assim reconheceram Shiva como o Ser Supremo. O Shivalinga representa essa coluna. O Shivalinga é um artefato dos templos de Shiva em que se realizam rituais e oferendas. Representa também o sagrado matrimônio com Parvati.

Figura 36, Shivalinga:

Foto 3, meu Shiva:

Os Shivalingas são compostos por três partes. A parte inferior, na forma quadrada, simboliza Brahma. A parte do meio, na forma de um octógono, simboliza Vishnu. Essas duas partes ficam dentro de um pedestal. O cilindro que se projeta do pedestal simboliza Shiva.

Existem muitas representações de Shiva. Uma forma meditativa, coberta de cinzas simbolizando o fim do universo. Mas Shiva transcende à fonte e ao fim do Universo sem ser afetado. Ele é o mestre do ioga. Seus cabelos trançados simbolizam a integração das energias física, mental e espiritual no ioga.

Não possui ornamentos de ouro ou pedras preciosas. Ele usa uma cobra (Vasuki) em torno do pescoço. Como Neelkantha (o de garganta azul), mantém o veneno da cobra em sua garganta. Os mitos falam que quando os Deuses agitaram o oceano, o veneno de Vasuki ameaçou o mundo, e somente Shiva poderia colocá-lo em sua boca. Ele manteve o veneno para sempre em sua garganta, ganhando o título de Neelkantha. Vasuki Naga está enrolada três vezes em torno do pescoço de Shiva e olha para a direita. As três voltas siombolizam o passado, presente e futuro. O lado direito para o qual a cobra está direcionada representa o conhecimento, razão e lógica. Simboliza que o Senhor preserva a ordem natural do Universo. Rudra como também é conhecido Shiva, significa rigoroso ou sem compromisso. Aksha significa olho. O colar de rudraksha usado pelo Senhor, indica que ele segue firmemente as leis cósmicas – sem compromisso – para manter a lei e a ordem no universo. O colar tem 108 contas, que simbolizam os elementos utilizados na criação do mundo. Ele usa um par de brincos desiguais, que simboliza o fato de Ele ser um Ardhanarishvara (metade homem, metade mulher). Um brinco é o Kundala, usado pelos homens. O Outro é Tatanka, usado pelas mulheres. A lua crescente adorna sua coroa representando seu controle sobre o ciclo do tempo.

Figura 37, 38 e 39 estátuas de Shiva. Na 39, Ele resiste tranquilamente à uma grande enchente:

Também é conhecido como Pashupati, Senhor dos animais, senta-se sobre uma pele de tigre, subjugando a agressão.

Figura 34:

Uma das mãos está levantada em abhaya-mudra, a força benevolente da destruição. Exibe um terceiro olho em sua testa, fonte do conhecimento e sabedoria. O sagrado Ganga aprisionado em suas madeixas significa que o Senhor destrói o mal, a ignorância e confere conhecimento, pureza e paz aos devotos.

Figura 40:

Shiva segura o trishul (tridente) representando as três gunas: sattva, tamas, rajas. Equilibrio, atividade e passividade. Em outro braço segura um damaru (tambor) simbolizando a atividade criativa. Nandi, seu touro, simboliza tanto o poder quanto a ignorância. Ao usá-lo como veículo, significa que Ele remove a ignorância e confere sabedoria aos seus devotos.

Shiva sentado sobre o campo de cremação simboliza que Ele controla a morte. Mas como controla a morte, controla também a vida e consequentemente o renascimento.

Historicamente Ele teria sido um rei dravidiano, casou-se com Sati, filha de um rei ariano. O pai de Sati, Daksha, se opôs à união. Após o casamento, em um yajna (sacrifício) realizado por Daksha, Shiva foi ignorado pelo sogro, por acha-lo não-civilizado. Sati ao ver a humilhação do marido se atirou ao fogo. Shiva expressou sua profunda dor por uma dança violenta chamada Tandava. Toda a criação estava ameaçada. Os Deuses reviveram Sati e Ela nasceu como Parvati (a filha das montanhas) para aclamar Shiva. Shiva se recolhe para as montanhas, renunciando o mundo. Paravati tentou tirá-lo do transe e seduzi-lo. Mas em vão. Parvati pede ajuda a Madan/Kama (Deus do amor). Kama disse para Ela dançar diante Dele. Quando Ela dançou, Kama enviou uma flecha com flores no coração de Shiva. Quando Shiva abre os olhos vê Parvati dançando na sua frente. Shiva apaixonou-se por Ela.

Figura 41, Shiva se apaixonando por Parvati e Kama (Deus do amor) ao fundo:

Shiva concedeu uma dádiva a um demônio chamado Bhasmasura, que desejou ter o poder de transformar em cinzas todos que ele tocasse na cabeça. Ele tentou aniquilar o próprio Shiva que o pegou pelos tornozelos. Shiva foi salvo por Vishnu na forma de Mohini, a feiticeira. Mohini consegue a morte do demônio ao fazê-lo tocar a própria cabeça. Shiva e Mohini tiveram um filho chamdo Hari-Hara putra, posteriormente identificado como Sasta ou Aiyappa.

Shiva é o criador da dança das primeiras 16 sílabas rítmicas jamais pronunciadas, das quais nasceu a língua sânscrita. Sua dança de raiva é chamada de Raudra Tandava, e sua dança de alegria, Ananda tandava. Ele dança no coração de seus devotos e em uma gruta sagrada em Tamil Nadu, onde foi construído o grande templo de Chidambaram.

Figura 42, templo de Chidambaram dedicado a Shiva o dançarino:

Shiva é o Senhor da misericórdia e compaixão. Protege seus devotos e atende seus desejos. Concede graças e desperta a sabedoria nos devotos.

Santuários de Shiva:

Figura 43 e 44, Existem 12 santuários em Dwadasa Jyotirlingam dedicados a Shiva. O mais famoso é o Somnath:

Figura 45, Mallikarjuna:

Figura 46, Mahakaleshwar:

Figura 47, Omkareshwar jyotirlingam:

Figura 48, Kedarnath, se localiza no Himalaia:

Figura 49, Bhimashankar, associado ao mito em que Shiva destrói o demônio Tripurasura:

Figura 50, Vishwanath Jyotirlingam:

Figura 51, Tryambakeshwar Jyotirlingam:

Figura 52, Vaidyanath:

Figura 53, Nageshwar:

Figura 54, Rameswara:

Figura 55, Grishneshwar jyotirlingam:

“OM TRAYAMBAKAM YAJAMAHE

SUGANDHIN PUSHTIVARDHANAM

URVARUKAMIVA BANDHANAM

MRITIOR MUKSHYA MAMRITAT”

Link para Parvati/Uma/Durga/Kali esposa de Shiva:

http://bruxariasemdogmas.blogspot.com.br/2015/06/uma-deusa-muito-complexa.html

Link Ganesha:

http://bruxariasemdogmas.blogspot.com.br/2016/06/ganesha-o-senhor-que-remove-obstaculos.html

LinK: Lakshmi e Saraswati:

http://bruxariasemdogmas.blogspot.com.br/2016/07/lakshmi-e-saraswati.html

Vídeos:

Referências:

1- Deuses e Deusas Hindus – Sunita Pant Bansal

2- Sobre física moderna em linguagem simples, temos O Universo numa Casca de Noz - Stephen Hawking.

3- Sobre a física subatômica meus livros acadêmicos de química falam sobre, pois precisamos do conceito de orbital, spin, e sem noções de física quântica fica impossível entender certos fenômenos a nível atômico e molecular. Os livros chamam-se: Química Geral volume 1 e 2 e reações químicas – John C. Kotz e Paul M. Treichel, Jr.