Elaboração
do Pão da santa ceia da Lua Cheia (esbá)
“... Então Diana dirigiu-se
aos pais do Princípio, às mães, aos espíritos que existiam antes do primeiro
espírito...”
Introdução
importantíssima:
Primeiramente, já disse que
possuo um culto bem voltado ao panteão Romano, mas também transito por outros
panteões como Babilônico, Hebraico, Egípcio, Grego, Celta, Yorubá e por aí vai.
O segundo ponto a ser
observado, é que não apenas tenho um culto voltado para o panteão romano, mas
tenho também um viés litúrgico romano. Há essa confusão sobre sincretismo greco-romano
que deve ser desconstruído. Há semelhanças entre Hades e Plutão? Há! Poderia
haver sincretismo? Poderia. Mas anteriormente ao período helênico os povos
daquela região herdaram muito da praxe mitológica e ritualística dos povos
Minóicos. Já no caso Romano, houve influência helênica, mas houve também
influência dos povos antigos que habitavam aquela região, que são os Etruscos.
Assim, Plutão poderia ser entendido como um Deus fruto de comunhão cultural.
Plutão seria um Deus que, analisando friamente e materialmente, é fruto da
fusão de Hades grego, Pluto grego e Dis etrusco. Mas como tenho fé no divino,
não penso em Deuses sendo construções da mente humana. Mas também não sou
fanático e quero e tento entender como surgem os Deuses nas culturas diversas.
Mas para fazer isso, tenho que olhar sem os olhos da fé. Pelos olhos da fé,
Plutão sempre existiu independentemente do início de seu culto e das
influências externas ou anteriores a Ele.
O terceiro ponto a ser
observado é o modo de acessar o divino. Não sei bem como funcionava para os
helênicos, mas sei que difere do modo romano de acesso ao divino. Existia uma
prática de forçar o contato ou o benefício da divindade. Esse forçar o divino,
nos soa estranho no paganismo moderno que visa comunhão. Mas esse “forçar” se
apresenta até hoje para nós como nos conjuros de anjos e demônios, nas
simpatias do catolicismo brasileiro como colocar Santo Antônio de cabeça para
baixo em um copo de água até que a moça consiga um marido, e em outras áreas
litúrgicas. Esse modo de lidar com o divino deriva da praxe romana que foi um
grande império, que foi o berço da igreja católica, que nos chega até hoje no
modus operandi da magia cerimonial.
Posto isso, você verão que
para fazer o nosso Pão da Lua Cheia, conjuraremos e forçaremos Diana, e
conjuraremos e forçaremos Caim (sincretismo). Nesse simples fazer do Pão se
encontra dois elementos comuns da prática romana, o “Forçar” e o Sincretismo.
Outro ponto interessante é
que para as bruxas italianas, fadas são almas de bruxos, magos ou feiticeiros.
The Diana of Versailles, a 2nd-century Roman version in the Greek
tradition of iconography (Louvre Museum, Paris).
O
Pão da Lua Cheia:
Não darei a receita com
gramas, colheres ou similares, pois faço no olho. Darei os ingredientes e
dicas.
Ingredientes:
1- Farinha de Trigo
2- Fermento Biológico
3- Um pouco de água morna
4- Um pouco de vinho tinto
5- Um pouco de mel
6- Um pouco de sal
Dica
1: Não
exagere no mel, pois ao invés de adocicar, no processo do cozimento, deixará o
pão amargo.
Dica
2: Deixe
o pão descansar e fermentar para que a massa fique ideal para o cozimento. O
calor ajuda o bom metabolismo do fermento biológico. Se estiver muito frio,
isso pode atrapalhar o processo de fermentação. Assim, quando for adicionar
água para dar o ponto da massa, essa água deverá estar morna para ativar o
metabolismo e tirar da dormência o Levedo.
Dica
3:
Ao assar, espalhe, ou salpique farinha de trigo sobre a assadeira. Não unte com
manteiga nem nada. Basta uma fina camada de farinha de trigo uniforme sobre a
assadeira para que o pão não grude.
Dica
4:
Você poderá pegar uma receita de pão na internet para saber as proporções
certas de farinha de trigo, sal e levedura. Ao invés de só adicionar água para
dar o ponto da massa, adicione um pouco de mel, e adicione vinho tinto também.
Dependendo da quantidade, um cálice de vinho tinto basta.
Conjuros:
O conjuro deverá ser sobre o pentáculo, que é o pentagrama
envolto por um círculo.
1- Pegue a vasilha que fará o pão e adicione a farinha.
Coloque essa vasilha com a farinha em cima do pentáculo. Com sua arma mágicka,
ou caso não tenha, com o dedo indicador e médio da mão direita, afunde na
farinha e conjure. Aqui está o que você deve dizer:
Conjuração
do Trigo:
“Eu te conjuro, oh Trigo!
Tu que és sem dúvida nosso corpo, uma vez que sem ti
Não podemos viver, tu que a princípio como semente
Antes de florescer mergulhastes na terra,
Onde se ocultam os profundos segredos,
e então, quando moído.
Dançaste como pó ao vento, e ainda assim
Portavas contigo fugazmente, estranhos segredos!
E então, quando estavas preso à haste,
Na forma de um brilhante grão dourado,
Os vaga-lumes vinham lançar a ti sua luz
Para auxiliar teu crescimento, pois sem sua ajuda
Não poderias crescer e tampouco te tornares tão belo;
Assim, pertences à raça
Das bruxas ou fadas e porque
Os vaga-lumes pertencem ao Sol.
Rainha dos Vaga-Lumes! Apressa-te,
Vem a mim como numa carreira,
Arreia teu cavalo enquanto me ouves cantar!
Arreia, arreia o filho do rei!
Vem mui lesta, e traga-o a mim!
O filho do rei em breve te libertará!
E por ser para sempre brilhante e belo,
Sob um vidro eu te preservarei, enquanto
Que com uma lente estudo os seus segredos em ti ocultos,
Até que todos os mistérios brilhantes
Sejam por fim revelados,
Sim, e todo o maravilhoso conhecimento desconcertante
Desta vida de nossa cruz e da próxima.
Assim, todos os mistérios hei de conhecer,
Mesmo os últimos encerrados no grão;
E enquanto por fim a todos realmente dominar,
Vaga-lume, tua liberdade irei restaurar!
Quando os segredos obscuros da terra
forem por mim conhecidos,
Lançarei sobre ti finalmente minhas bênçãos!”
Comentário: Eu
associo o vaga-lume como um animal do Deus Romano Lúcifer. O portador da luz,
consorte de Diana e pai de Arádia.
Hesperus as Personification
of the Evening Star by Anton Raphael Mengs (1765).
2- Pegue uma pequena porção de sal em uma louça ou prato,
colher, tanto faz. Coloque essa vasilha com o sal em cima do pentáculo. Com sua
arma mágicka, ou caso não tenha, com o dedo indicador e médio da mão direita,
afunde no sal e conjure. Aqui está o que você deve dizer:
Conjuração
do Sal:
“Eu te conjuro, Sal, veja! Cá ao meio-dia
Exatamente no meio de um ribeiro
Tomo meu posto e observo a água a meu redor,
Bem como o sol, e não penso em mais nada
Enquanto aqui, próximo à água e ao sol;
Pois toda a minha alma está realmente voltada a eles;
Não desejo realmente nenhum outro pensamento,
Almejo saber a própria verdade das verdades,
Pois há muito sofro com o desejo
De conhecer meu futuro ou meu destino vindouro,
Se o bem ou o mal nele prevalecerão...
Água e Sol, sejam ternos comigo!”
Comentário: Ao
comer o pão você saberá de seu futuro próximo. Caso seja ruim, a próxima
conjuração, mudará seu destino para bom.
3- Pegue sua arma mágicka, ou caso não tenha, com o dedo
indicador e médio da mão direita, aponte para o centro do seu altar ou pentáculo
e conjure. Aqui está o que você deve dizer:
Conjuração
de Caim:
“Eu te conjuro, oh Caim, pois jamais podes
Descansar ou ter paz até que sejas liberto
Do Sol onde jazes cativo, e deves
Bater suas mãos enquanto corres em velocidade:
Peço-te, mostra-me meu destino;
E se for maligno, muda seu curso por mim!
Se me concedes esta graça, serei capaz de vê-lo
claramente
Nas águas e no esplendor do Sol;
E tu, Caim, deves propagar com tuas palavras
O que quer que meu destino venha a ser.
E a não ser que me concedas isto,
Que jamais tu possas ter paz ou alegria!”
Cain slaying Abel by Peter Paul Rubens
The First Mourning (Adam and Eve mourn the death of Abel); oil on canvas
1888 painting by William-Adolphe Bouguereau
Agora misture a farinha com um pouco do sal, com o
levedo, com um pouco de mel, com um pouco de vinho tinto. Vá adicionando água
morna e vá sovando a massa. Quando sentir que pegou o ponto deixe a massa
descansar por meia hora. Caso tenha colocado muita água e a massa ficou
grudenta, vá adicionando farinha até que atinja o ponto certo. O contrário
também vale. O ponto certo seria uma ponto em que a massa fique uniformemente
sovada e não fique tão grudenta na mão ou esfarelando por falta de água.
Após o descanso da massa e seu crescimento, faça como eu
disse anteriormente, salpique farinha na assadeira. Tente moldar o pão na forma
da lua, uma bolota (cheia) ou como uma lua crescente ou minguante. Tanto faz!
Coloque o pão na assadeira e leve ao forno. Não sei a temperatura certa, mas eu
coloco no meio termo. Não muito quente, nem muito fraco o calor do forno.
Geralmente fica pronto o Pão entre 20 a 30 minutos.
Quando você colocar a massa dentro do forno. Você fará
essa conjuração, do mesmo modo, com a arma mágicka ou dedos.
Conjuração
do Pão ou Conjuração de Diana:
“Não asso o pão, nem com ele o sal,
Nem cozinho o mel com o vinho,
Asso o corpo e o sangue e a alma,
A alma da Grande Diana, para que ela
Não tenha descanso nem paz, e esteja sempre
Em grande sofrimento, até que conceda
Aquilo que peço, aquilo que mais desejo,
Peço isto a Ela, do fundo do meu coração!
E caso a graça seja atendida Oh Diana!
Em tua honra celebrarei este banquete,
Festejarei e secarei por completo o cálice,
Dançaremos e saltaremos animadamente,
E se me concedes a graça que tanto desejo,
Então, quando a dança atingir seu apogeu,
todas as luzes
Serão apagadas, e nos amaremos livremente!”
Deixe o pão assando e volte-se para seu quarto, ou sei
lá, aonde está seu altar. Ou diante do pentáculo. E diga a invocação de Arádia.
Aponte a arma mágicka ou os dedos como dito anteriormente para o centro do
altar ou pentáculo e diga essa invocação:
Invocação
a Arádia 1:
“Assim eu busco por Aradia! Aradia! Aradia!
À meia-noite, à meia-noite eu me dirijo a um campo,
e comigo levo água, vinho e sal, trago a água,
vinho e sal e meu talismã, meu talismã, meu talismã,
e uma pequena bolsa vermelha
Sempre em minha mão – “con dentro, con dentro, sale”,
com sal, dentro dela, dentro dela. Com água e vinho eu
me abençoo, me abençoo com devoção para implorar um
favor de Aradia, Aradia.”
Diga a próxima invocação:
Invocação
a Arádia 2:
Aradia! Minha Aradia!
Tu és minha filha daquele que era
O mais maligno dos espíritos, que há muito
A um tempo reinou no inferno após ser expulso do paraíso,
Que através de sua irmã tornou-se seu mestre,
Mas assim como sua Mãe se arrependeu de Seu pecado,
E desejou unir-te a um espírito que
Fosse benevolente
E não maléfico!
Aradia! Aradia! Eu imploro
Pelo amor que Ela nutria por Ti!
E pelo amor que também eu nutro por Ti!
Rogo-te, conceda-me a graça que desejo!
E uma vez satisfeito esse desejo, que
Um dos três sinais inequívocos se me apresente:
O sibilar de uma serpente,
A luz de um vaga-lume,
O coaxar de um sapo!
Mas se recusas este favor, então
Que no futuro não tenha paz ou prazer,
E que sejas obrigada a me buscar à distância,
Até que venhas a conceder-me meu desejo,
O quanto antes, e então poderás retornar novamente
A Teu destino, Assim seja, Amém!”
Comentário:
Nota-se aí o sincretismo romano. Nele o Deus romano Lúcifer e o Arcanjo Lúcifer
são sincretizados em um só.
Gustave Doré, illustration
to Paradise Lost, book IX, 179–187: "... he [Satan] held on /His midnight
search, where soonest he might finde /The Serpent: him fast sleeping soon he
found ..."
Quando o pão estiver assado, coma-o na celebração da Lua
Cheia. Mas guarde um pequena porção como oferendas para as fadas. Essa porção,
depois, você coloca em um jardim, terra, vaso de planta ou similares.
Sobre como abrir um círculo mágicko poderoso e efetivo,
já escrevi sobre:
Semana que vem postarei um ritual de Lua cheia celebrando
Diana e Arádia e colocarei aqui o link depois editando o artigo. Até semana que
vem!
“... Então Diana dirigiu-se aos pais do Princípio, às
mães, aos espíritos que existiam antes do primeiro espírito...”
Referência:
Charles Leland, Arádia, Gospel of Witches.
Música:
"Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão
Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel
Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão"
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