O
exílio de Sànpònná (Xapanã)
Orixá
conhecido no Brasil como Xapanã, Obaluayê, Omolú, Kavungo ou Sapatá.
Há
um tempo postei um mito bonitinho do meu Santo de frente, meu Orixá Obaluayê. O
link para o mito bonitinho do meu Orixá será postado no final desse texto.
Obaluayê
é o último Deus que você gostaria de ver furioso, assim como os seus filhos de
Santo. Nem Obaluayê, nem seus filhos toleram desrespeitos e deboches.
Vamos ao mito (itan)...
Depois
do mundo criado, os Òrìsà (Orixás) foram morar nas áreas criadas por Òsàlá
(Oxalá), trabalhando juntos no campo e inspirando a humanidade a também viver
em comunidade. Os Orixás criaram o jogo ayò ou wazi, para se divertirem nas
horas de folga. Trouxeram também ao mundo cerimônias que ocorriam no òrun
(céu). Inventaram tambores e outros instrumentos musicais, introduziram as
danças e canções. E essa era a vida aqui na Terra.
Na
época da colheita do inhame, os Òrìsà (Orixás) celebravam em um festival a
colheita do inhame. Todos presentes na praça principal da cidade e jogavam um
jogo onde eram utilizados arbustos apanhados da colheita.
Os
Òrìsà (Orixás) comiam e bebiam vinho de palma –emu-, dançando e cantando.
Somente Sànpònná (Xapanã), que tinha o segredo da varíola, não dançava. Xapanã
tinha uma perna defeituosa e utilizava um cajado para andar, o òpá.
Adendo:
Eu como filho legítimo de Obaluayê era desde a tenra infância muito doente.
Quase morri 3 vezes na infância e tive de tomar injeção de adrenalina para
voltar meus batimentos cardíacos ao normal. Sofria de asma/bronquite severa e
cheguei diversas vezes no hospital com os lábios roxos. Além disso, vivia me
ferindo e machucando, tendo várias cicatrizes. Depois dessa fase, praticava
skate com várias manobras por uns 20 anos até que ferrei meu joelho. Hoje tenho
dois parafusos no joelho. Essa característica de deficiência na perna do meu
Pai Obaluayê também se fez presente tardiamente em mim. Sonho até hoje que
estou andando de skate. Vamos voltar ao mito (itan)...
Enquanto
todos os Òrìsà (Orixás) dançavam, Sànpònná (Xapanã) permanecia sentado bebendo
também o vinho de palma. À medida que a festa avançava, todos comendo e bebendo
muito, os ânimos também foram aumentando e ficando cada vez mais agitados.
Até
que alguém reparou que Sànpònná (Xapanã) não dançava. “Por que Sànpònná
(Xapanã) está calado, não canta e não dança conosco?” Todos começaram a incitar
Sànpònná (Xapanã) a se divertirem como eles na festa. Diziam “venha” puxando-o
e tentando levantá-lo. Sànpònná (Xapanã) não se levantava com vergonha de sua
perna defeituosa.
Cada
vez mais bêbados, começaram a provoca-lo: “Levante-se, você parece um antílope
morto.” Sànpònná (Xapanã) já não suportava mais as provocações (como seus
filhos de Santo não suportam provocações). Com seu cajado, levantou-se. Ajeitou
a roupa para cobrir a perna defeituosa e começou a dançar, mesmo inseguro
porque tinha bebido muito. Todos os Òrìsà (Orixás) também muito bêbados
começaram a trombar uns nos outros, até que Sànpònná (Xapanã) caiu no chão.
Quando Sànpònná (Xapanã) caiu, eles viram sua perna defeituosa e começaram a
rir e a gritar: “Aro! Aro!”, que significa coxo, perna com defeito. Todos o
ridicularizaram cantando versos ofensivos a ele.
Lembrem-se:
Sànpònná (Xapanã) e seus filhos de Santo não toleram provocações e deboches.
Sànpònná
(Xapanã) caído e irritado, lutava para se levantar em meio à risada geral.
Mesmo caído, alcançou seu cajado e começou a ferir com a ponta dele todos que o
ridicularizavam, transmitindo-lhes o seu perigoso e mortal veneno.
Os
Òrìsà (Orixás) dançando ainda não haviam percebido o que estava acontecendo,
somente quando sentiram a ponta do cajado de Sànpònná (Xapanã) lhes ferir é que
saíram todos da festa correndo. Só sobrou na festa Sànpònná (Xapanã).
Todos
correram para suas casas apavorados e todos que foram tocados pelo cajado
começaram a se sentir mal, seus olhos ficaram vermelhos, nasceram feridas na
pele e o corpo se transfigurou em inúmeras pústulas.
As
notícias do ocorrido chegaram até Òsàlá (Oxalá) que irritado disse: “Os Òrìsà
(Orixás) que envergonharam Sànpònná (Xapanã) não deveriam ter feito isso. Mas Sànpònná
(Xapanã) também não deveria ter feito justiça com as próprias mãos, pois eu é
que faço a justiça. Os que o ridicularizaram estão sendo punidos pela varíola.
E Sànpònná (Xapanã) também deve ser punido.”
Òsàlá
(Oxalá) se vestiu com suas roupas brancas. Na sua mão, seu longo manto
ornamentado com búzios e foi para a casa de Sànpònná (Xapanã) a fim de
julgá-lo. Quando Sànpònná (Xapanã) o viu, correu para um bosque e se escondeu
atrás de um arbusto.
Òsàlá
(Oxalá) determinou: “Sànpònná (Xapanã) foi para o bosque. Lá irá permanecer,
longe de toda comunidade.”
Desde
então, Sànpònná (Xapanã) nunca mais viveu entre os outros Òrìsà (Orixás), e
sim, sozinho. Apesar disso, cresceu o respeito por ele e nunca mais foi
ridicularizado, lição para todos. Por esse motivo, o povo da região passou a denominá-lo
Ilègbóná, a terra está quente, numa alusão à febre causada pelas doenças.
Meu
conselho: Nunca desrespeite Sànpònná (Xapanã) ou seus filhos, mesmo se formos
punidos iremos até as últimas consequências para nos vingar. E o soco de
Obaluayê são as pestes e não a força dos músculos!
Sànpònná
(Xapanã) é o nome primordial da divindade, sendo também conhecido por Omolu e
Obalúwáiye (Obaluayê), nomes mais usuais no Brasil. Obaluayê significa: Oba –
Rei, Senhor; ayê – terra (O Rei/Senhor da terra). Identificado com as doenças.
Já o nome Sànpònná (Xapanã): Sàn – untar, sujar (com doenças), pa – matar,
afligir, e ènìà – qualquer pessoa. Originário da cidade de Tápà, irmão de Sàngó
(Xangô) e conhecedor de tudo que cura e adoece. Seu principal flagelo é a varíola,
pois representa marcar as pessoas sem o uso de faca. A pipoca é sua principal
oferenda. Entre o grupo jeje-mahi é denominado Sapata e divindades
correlacionadas: Dazoji – da disenteria e dos vômitos; Ahosu Ganwha – da inchação;
Adan Tagni – da lepra; Aglosunto – das chagas. O milho representa a erisipela;
a maçã, o escorbuto; e o feijão, a varíola.
Sànpònná
(Xapanã) é descrito armado com um coldre de flechas envenenadas e várias
pequenas cabaças como recipiente tanto para remédios, doenças e venenos.
Obalúwáiyé,
ajàgi oògùn – Aquele que tem medicamentos poderosos
Oni-wòwó
àdo – Em pequenas e diversas cabaças
Há
uma maneira especial de dizer quando uma pessoa adoece: Ilègbóná(n) nbáa já [A
terra quente o está afligindo]. Quando a pessoa morre, diz-se: Oba gbé e lo [O
Rei o levou embora].
Em
algumas regiões da África seu culto sofreu restrições e foi até proibido. Tais
regiões sofreram de várias epidemias e seu culto foi retomado como forma de
apaziguá-lo.
Tanto
Omolú e Obaluayê são uma mesma divindade com denominações diferentes, que
representam títulos de exaltação aos seus atributos. São posicionados nas casas
de Candomblé do lado de fora da parte principal da casa. Tudo para essa
divindade é feito no tempo (ar livre). Olúbáje é o seu principal ritual. Não
admite uso de faca no sacrifício animal. Em solo africano, uma folha de dendezeiro
é enrolada no pescoço do animal e abatido mediante uma única pancada. Essa
parte não de não se usar faca (ferro) é por conta da Mãe biológica de Obaluayê,
Nanã, e sua rixa com Ogum, Orixá do ferro.
Nunca
provoque, deboche ou ridicularize um filho de Obaluayê, ainda mais se esse
filho for eu!
Obrigado
aos que chegaram até aqui no texto. Vou disponibilizar agora um mito (itan)
bonitinho do meu Orixá, Obaluayê que com orgulho carrego na minha cabeça, mas
antes do link, os créditos:
Autor:
Eosphorus Pluto Eleutherios
Blog:
Bruxaria Sem Dogmas
Referência:
Mitos Yorubás (o outro lado do conhecimento). Autor: José Beniste.
José
Beniste é escritor, historiador, pesquisador de Cultura Afro-Brasileira, é
integrante de movimentos que visam à restauração da dignidade religiosa do
afrodescendente. Iniciado pela Sociedade Axé Opô Afonjá, em 1984, é diretor do
Curso Brasil-Nigéria, fundado em 1982. Ministra aulas de Língua Yorubá.
Link
para o mito (itan) bonitinho, basta clicar na imagem:
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Adorei!
ResponderExcluirObrigado!!!
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