O
porquê Oyá (Yansã) se tornou a Dona do Cemitério!
Oyá
vence a Morte (Ìkú)!
Segue
o mito:
Adendo:
1- Olófin:
Título de um legislador. Prefixo: Oní – posse ou comando. Òfin – lei. Título
dado a Olódùmarè, o Ser Supremo e Senhor das Leis Universais.
2-
Ògá: Senhor ou mestre. No Brasil, modificaram para Ogan, um cargo masculino nos
terreiros de Axé.
3-
Ìkú: A Morte – um personagem yorubá masculino.
4-
Oya: também conhecida como Yánsàn, princesa de Irá. Òrisà (Orixá) guerreira
como seu marido Sàngó (Xangô). Daí: Oya olókò àrá: Oya que possui um marido
poderoso.
5-
Àwòrò: que denota um Sacerdote.
Vamos ao mito:
Olófin
reinava em Ifè e tinha como filha Oyá, desejada por Ìkú, a Morte. Ìkú era muito
feio e adorava fazer o mal aos outros. Sua diversão era levar pessoas ao
cemitério para elas nunca mais voltarem. Certa feita, Ìkú foi ao palácio de
Olófin e disse que queria se casar com Oyá. Olófin disse: “Você só se casará
com Oyá se me trouxer 100 cabeças de gado.” Foi uma forma encontrada por Olófin
de se livrar de Ìkú porque sabia que Ìkú estava sempre sem dinheiro e não tinha
nada na vida.
Ìkú,
muito do esperto, sabia que não conseguiria as 100 cabeças de gado e fez uma
contraproposta: “Posso lhe trazer uma oferenda melhor! Posso lhe trazer um
homem que vale todas as cabeças de gado do mundo e que irá trabalhar para você
o resto da vida!” Olófin perguntou: “E quem é essa pessoa?” Ìkú disse: “É
Àwòrò, o conhecedor de todos os poderes do bem e do mal, os que curam e os que
matam!”
Olófin
aceitou porque confiava em Àwòrò que era muito religioso e fazia tudo que os
Orixás lhe pedissem. Àwòrò era um homem de poucos amigos, entre eles, o Ògá
(Ogan) e o Àgbò, o carneiro. Àwòrò não bebia e nem fumava, e não tinha nenhuma
ligação com Ìkú. Olófin não se preocupou porque pensava ser impossível Ìkú
conseguir o que propunha.
Ìkú
saiu pensativo em como conseguiria tal intento até que avistou Àgbò, o carneiro.
Ìkú faz uma proposta ao carneiro: “Se me ajudares, eu te asseguro que nunca te
levarei para o cemitério!” Àgbò (o carneiro), apesar de amigo de Àwòrò, aceitou
a proposta de Ìkú, mas disse que precisaria de Ògá, a quem deveria fazer a
mesma promessa. Tudo feito, Ògá aceitou e pretendiam levar Àwòrò ao cemitério
naquela mesma noite.
Oyá
tomou conhecimento do que estava acontecendo e resolveu ir à casa de Òrúnmìlà
para uma consulta. Ele lhe disse: “Ìkú poderá até conseguir o que deseja, mas a
traição dos amigos porá tudo a perder! Você, Oyá, poderá salvar Àwòrò se for ao
cemitério e enfrentar Ìkú!” Oyá, naquela época, temia o cemitério e Ìkú, mas
decidiu não contar seu temor.
Àwòrò
estava nos seus afazeres religiosos e foi orientado a não abrir sua porta ao se
deitar. Fechou tudo e foi se deitar quando ouviu baterem na porta dele.
Perguntou: “Quem é?” Ògá se identificou dizendo que trazia para ele doce de
coco, seu doce predileto. Mesmo assim, Àwòrò disse que não abriria a porta pois
já estava deitado.
Ògá
voltou para Àgbò (o carneiro) perguntando o que fazer. Àgbò com o doce de coco
foi até a porta e disse: “Àwòrò, somos seus melhores amigos, abra só um pouco a
porta para que lhe entreguemos o doce!” Àwòrò caiu na tentação e ao abrir um
pouco a porta foi agarrado por seus amigos que o levaram ao cemitério.
No
cemitério, se apresentou diante deles Ìkú em sua verdadeira forma: todos os
ossos à mostra, uma pura caveira. Os dois se assustaram com a imagem aterradora
de Ìkú, mas Ìkú os acalmou.
No
momento em que Àwòrò iria ser entregue à morte, surgiu entre os dois Oyá, em
meio a raios, coriscos e ventanias. Os três (Ògá, Àgbò {o carneiro} e Ìkú)
saíram correndo com muito medo. Oyá disse a Àwòrò: “O doce de coco quase lhe
custa a vida!”
Depois
de tudo, Olófin pediu seus guardas que lhe trouxessem Àgbò (o carneiro). Depois
do relato de Àgbò, Olófin mandou chamar Ìkú, Àwòrò, Ògá e Oyá. Ao tê-los todos
na sua frente proferiu seu julgamento: “Ìkú, eu te condeno a não ter mais
amigos, nem bens, nem casa, nem nada! Nunca será bem-vindo em nenhum lugar! Que
vagues pela eternidade na sua verdadeira forma, caveira!”
“Àgbò
(o carneiro), tu traíste teu melhor amigo por desejar a vida eterna! Serás o
primeiro a morrer sempre que um Orixá necessitar de ti!” “Ògá, tu és culpado do
mesmo jeito! Condeno-o a nunca ter descanso e estar à frente em todos os
trabalhos que os Orixás requererem!” “Àwòrò o susto que passou por não obedecer
os Orixás já lhe é suficiente!”
“Oyá,
tu salvaste a vida de Àwòrò, demonstraste a falsidade de dois amigos, e
sobretudo perdeu o medo de Ìkú! De hoje em diante, serás a Dona do Cemitério e
de tudo que estiver nele! Ìkú que quis te tomar como mulher, será seu escravo e
trabalhará para ti eternamente!” E a Justiça foi feita!
Conclusão:
As
dependências do Ilé Ibo Akú – casa de adoração aos mortos – são destinadas aos
preceitos ancestrais do Candomblé. São restritas aos homens, com exceção de Oyá
e suas Filhas de Santo.
O
carneiro deve ser sempre o primeiro a ser sacrificado como oferenda a um Orixá,
que poderá ser Xangô ou Yemanjá. Quando se oferta aves e quadrúpedes, o animal
de quatro patas é o primeiro a ser sacrificado. As aves farão parte do Ìbosè,
destinadas a “calçar” cada pata do animal.
E o
Ògá (Ogan) tem de sempre ter disponibilidade total sempre que for requerido nas
Casas de Candomblé. Submissão total desde sua iniciação, não podendo nunca
mudar de Casa de Candomblé, ao contrário das ìyàwó, que possuem essa prerrogativa.
Autor:
Eosphorus Pluto Eleutherios
Blog:
Bruxaria Sem Dogmas
Referência:
Mitos Yorubás (o outro lado do conhecimento). Autor: José Beniste.
José
Beniste é escritor, historiador, pesquisador de Cultura Afro-Brasileira, é
integrante de movimentos que visam à restauração da dignidade religiosa do afrodescendente.
Iniciado pela Sociedade Axé Opô Afonjá, em 1984, é diretor do Curso
Brasil-Nigéria, fundado em 1982. Ministra aulas de Língua Yorubá.
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