Bruxaria Sem Dogmas: Cabala e Árvore da Vida.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Cabala e Árvore da Vida.


Devido a questionamentos em discussão de comentários em um grupo aqui no Facebook sobre uma publicação minha, se Uriel ocuparia Hod na árvore da Vida e Miguel ocuparia Netzach no pós queda de Lúcifer e um terço dos anjos do céu, escrevi esse texto. Pois o assunto merece um texto à altura:


O Sol representa Deus que é guardado pelo astro mais próximo, Mercúrio. Ora, Mercúrio por estar tão próximo do Sol tem seu brilho ofuscado. Montando guarda em frente a Deus (Sol), Mercúrio seria nesse drama cosmológico o próprio Arcanjo Miguel.


O astro após Mercúrio é Vênus. Vênus é o astro mais brilhante no céu depois do Sol e da Lua. Vênus em seu esplendor luminoso condiz com o Arcanjo portador da luz, Lúcifer. Vênus (Lúcifer) traz o a Luz do Sol na Alvorada e a Luz da Lua pela noite.

Lúcifer não consegue usurpar o lugar de Deus e caí do céu com um terço das estrelas do céu (anjos). Obviamente isso não é literal, mas simbólico. Como o lugar de Vênus fica vago os vencedores pegam para si os espólios da guerra.

E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos; Apocalipse 12:7

O espólio da guerra, Vênus, é ocupado pelo Arcanjo Haniel ou pelo seu conquistador Miguel. Isso varia dependendo do sistema.

Agrippa nos dá o selo de Vênus, sua inteligência Hagiel, seu espírito Kedemel, e suas inteligências Bne Serafim. Esse sistema de inteligências e espíritos é contribuição do Heinrich Cornelius Agrippa von Nettesheim no seu Três Livros de Filosofia Oculta escrito por volta de 1500 da nossa era. Agrippa propõe que a inteligência de um planeta, um anjo, é o positivo e benéfico do planeta. Em contra partida, o espírito de um planeta, também um anjo, é o negativo e danoso dele.

Durante o Ritual Menor do Pentagrama, o lugar ocupado pelo Arcanjo Miguel é a esfera que corresponde a Vênus, Netzach. Ora, por que Miguel se encontra nessa posição? Justamente porque pegou para si os espólios da guerra, o lugar anteriormente ocupado por Lúcifer.

Temos o selo do Sol, sua inteligência (benéfico) Nachiel, e seu espírito (danoso) Sorath. O arcanjo solar é em muitos sistemas o Arcanjo Raphael. Em contatos com o Arcanjo Miguel, seus contemplados relatam a imensa luz desse arcanjo, sendo também por conta disso ocupante da esfera do Sol. O mesmo com Lúcifer, luminoso que é, ocuparia essa esfera se não tivesse perdido.

Lúcifer, portanto, é o positivo de Vênus (amor, vitalidade, paixão, carisma...) e é o negativo do Sol (arrogância e orgulho).

Ao astro Vênus na antiguidade atribuíram dois Deuses. Eósphorus a estrela matutina e Véspero a estrela vespertina. Por que? Porque Vênus se aponta no céu tanto no amanhecer, trazendo o carro do Sol, quanto no entardecer, trazendo o carro da Lua. Os antigos viam nisso dois astros distintos e portanto dois Deuses. Sendo que hoje sabemos que se trata do mesmo astro Vênus, um planeta e não uma estrela. Essa órbita errante de Vênus condiz muito com o caráter revolucionário de Lúcifer.

Como disse que dependendo do sistema, Lúcifer pelo brilho que tem ocuparia a esfera solar, Tiphareth. Um dos seus subordinados é Lucifuge, aquele que foge da Luz. Ocuparia muito bem o sol negro na árvore da morte, mas a ele é atribuído a esfera de Júpiter, Chesed, na árvore da vida sobrepondo à árvore da morte.

Como Lúcifer não conseguiu usurpar o lugar de Deus (O Sol), coube a ele a sombra de Deus, O Sol Negro. Sendo portanto, o positivo de Vênus e o Negativo do Sol, o Sol Negro, a sombra de Deus.

O quadrado mágicko do Sol é um quadrado de 6x6. São distribuídos números nele de modo que não se repitam e que a somatória de todas as linhas ou de todas as colunas dão o mesmo valor.

Pois bem, a somatória de uma coluna ou linha dá o número 111. 6 linhas de valor 111 somadas dão o número 666. O mesmo com a somatória das colunas. Esses números 111 e 666 são números significativos no quadrado mágicko do Sol.

Temos a inteligência do Sol e seu espírito aplicados no quadrado mágicko e seu valor gemátrico. A inteligência (benéfico) Nachiel tem valor 111. O espírito (maléfico) Sorath tem valor 666.

Ora, o negativo do sol ter valor 666 nos é muito instigante. 666 é atribuído ao número do nome da besta. O anti-sol, o Sol negro, Lúcifer.

O primeiro princípio de manifestação divina do universo ocorre na primeira Sephira Kether e de lá em uma força descendente feito serpente, vai se tornando cada vez mais densa até atingir Malkut, nosso plano material. Na primeira Sephira há energia sem forma, o mundo da forma não existe. A essa Sephira é atribuída a Deusa Egípcia Nut, o céu estrelado. Essa Sephira sem forma, sem polos, sem dualidade, se divide em um princípio masculino e um princípio feminino.

Na manifestação masculina, ocorre a existência de Chokmah, cuja uma das qualidades é sabedoria. Sendo associada a Thoth, Deus da Sabedoria.

Esse princípio masculino fecunda o princípio feminino Binah. Binah é conhecida como A Deusa, ou o princípio feminino universal e original. Essa esfera, Sephira, que se relaciona com A Deusa, é associada com a Deusa egípcia, Isis.

Desse triângulo superior da árvore da vida, a energia continua descendente atravessa o abismo de Daat e alcança Chesed.

Chesed é o princípio organizador, o princípio da majestade que governa e ordena. Sua associação egípcia se dá com Maa’t a Deusa que mantem a Ordem do universo, assim como um governante mantém a ordem de seu reino.

Note que Chokmah se associa com o planeta Urano, Binah com Saturno e Chesed com Júpiter. Na mitologia grega, Urano é destronado por Kronos que por sua vez é destronado por Zeus. Os nomes dos Deuses romanos são os mesmos dos planetas.

Só a serpente poderia invadir o Éden. Foi a Serpente que nos tirou a venda dos olhos, fazendo-nos provar do fruto do conhecimento. Daat a esfera do abismo é conhecida como conhecimento. Antes que pudéssemos provar do fruto da vida, fomos expulsos do Édem. Assim, a árvore da vida é um ideograma, um mapa, um caminho que nos leva de volta ao Éden para entrar em comunhão com Deus acima do abismo.

A energia continua e alcança Geburah. Geburah é associada com o planeta Marte, que é o Deus da Guerra na mitologia romana e encontra em sua contraparte grega o Deus Ares. Na mitologia egípcia, essa esfera é ocupada por Hórus, o Deus que luta e defende o trono do Egito e toda sua majestade. Vale ressaltar que essas associações são flutuantes, na medida em que se observa a Sephira por um outro ponto de vista. Hórus embora colocado nessa Sephira, poderia muito bem ser associado com a Sephira Tiphareth, o Sol. Mas para esse propósito a posição marcial nos serve.
A energia de Geburah descende a Tiphareth, o Sol, o Deus que podemos atingir.

O Sol é tido como o filho de Deus, associado a Mitra, Jesus...

Na bruxaria moderna, O Deus é associado ao Sol e A Deusa associada à Lua. Mas como observado, o princípio masculino universal e original é Chokmah e o feminino Binah. Mas esses princípios estão separados de nós por um abismo, Daat. Assim, é com o filho de Deus, o Sol, e com a filha de Deus, a lua, que podemos alcançar voos maiores. Sem histeria pagã, e olhando a figura de cristo pelo olhar do gnosticismo e não do cristianismo, podemos refletir sobre as palavras de Jesus: “Ninguém vai ao Pai senão for por mim!” João 14:6. Isso é um axioma que nos diz que para chegarmos ao Pai (Chokmah) temos que exclusivamente passar pelo mistério do Sol, do filho de Deus. Assim como para chegar à Deusa (Binah) temos que passar pelo mistério da Lua, da filha de Deus, que em minha bruxaria é a Deusa Arádia. O Sol entre outras coisas, nos diz do Deus sacrificado e renascido. Vemos portanto nessa simbologia o Deus Egípcio Osíris.

Continuando a queda da energia de cada vez menos sutil em direção ao denso, encontramos a Sephira Netzach. É associada a Vênus, Planeta e Deusa do amor, e se relaciona com o mistério da fecundidade. Sua associação egípcia se dá com a Deusa do amor Hathor.

Prosseguindo, chegamos a Hod, Mercúrio. Vemos no Deus Mercúrio sua associação com o Deus psicopompo, o Deus encarregado de dar um destino às almas dos mortos. Assim, nessa esfera podemos associar com Anúbis egípcio. Note que Mercúrio (romano), Hermes (grego) e Thoth (egípcio) teriam também uma forte similaridade, mas como associamos Thoth com Chokmah, usamos o parâmetro do Deus psicopompo para colocar Anúbis nessa esfera. Assim, reforço minha teoria de que as associações são intercambiáveis dependendo do crivo da análise.

De Hod chegamos em Yosod o plano da Lua, o plano do astral inferior. Poderíamos associar com Pasht, mais conhecida como a Deusa Bast. Embora várias associações solares a essa Deusa felina, há também associação lunar.

Finalmente chegamos em Malkuth, a esfera da matéria densa. Associado com o planeta Terra. Cuja divindade egípcia encontra afinidade com o Deus Seb.

Por fim, dependendo do sistema, no caso, um dos sistemas angélicos, Miguel pode estar em Hod ou Netzach, quando em Netzach alguém tem de ocupar Hod, e esse alguém pode ser Uriel dependendo do crivo da análise, como observamos no Ritual Menor do Pentagrama.

Tenha em mente que a Árvore da Vida não é uma estrutura rígida, pelo contrário, ela é dinâmica e fluida.

Fonte: Bruxaria Sem Dogmas.

3 comentários:

  1. Estou completamente apaixonada por seu trabalho. É notável seu esmero em pesquisar e na forma de repassar de forma detalhada porém de fácil compreensão <3

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  2. Tenho uma dúvida em relação ativação das caracteristicas das esferas atraves dos Rituais menor/Maior?

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