Bruxaria Sem Dogmas: Diana na mitologia

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Diana na mitologia

Diana na mitologia:



Nascimento de Diana:


Imagem 2:


Latona fica grávida de Júpiter em uma das escapulidas do Deus. Como sempre, desperta a ira de Juno, sua esposa. Quem descobriu a traição e contou para Juno foi Iris, mensageira e confidente de Juno.


Juno amaldiçoa Latona a ficar bem longe de qualquer terra. Latona vagou sem descanso. Vagou por lugares como Quio, Trácia, Ática, Eubéia, ilhas do mar Egeu, sem jamais encontrar e receber abrigo. Além de que aonde quer que fosse Latona, Píton – a imensa serpente, a seguia pronta para devorar seus filhos que nascessem.


Depois de muito vagar, Latona encontra descanso na ilha de Ortígia. Ortígia era uma ilha flutuante sem que tenha contato com terra alguma, assim Latona encontra descanso e a maldição de Juno se faz cumprida.


Latona entrou em trabalho de parto mas sofria imensamente com o mesmo. Até que Ilícia, Deusa que preside os partos veio a socorrer. Ilícia profetiza que o primeiro filho de Latona seria o mais belo dos Deuses e que seria uma honra presidir esse parto. Latona deu luz a gêmeos, Apolo – um belo menino e Diana – uma graciosa menina. Ilícia disse a Latona: Tu pariu o dia e a noite! Apolo de pele alva e cabelos loiros era a representação perfeita do sol e do dia. Diana de cabelos negros caídos sobre um colo faiscante, era a representação da lua envolta pela noite.


Imagem 3:


Júpiter presenteou seu filhos com vários presentes. Mas o que mais lhes encantou foi um maravilhoso arco confeccionado por Vulcano. Diana gostou tanto do presente que praticava com afinco e se tornou a Deusa da caça.


Imagem 4:


Atalanta:


Imagem 5:


Atalanta, filha de Esqueneu, rei de Ciros, era a mulher mais veloz do mundo. Seu pai a ensinou a se esquivar do galanteio dos homens. Atalanta vivia nos bosques correndo e foi profetizado que ela jamais deveria se casar ou seria sua ruína. A jovem se colocou aos cuidados de Diana, isolando-se nos campos e vivia envolvida em caçadas com suas companheiras. Hipomene tentava a todo custo seduzir Atalanta. Certa vez foi pedir auxílio a Vênus, Deusa do amor. Vênus empolgada com o desafio e incomodada de alguém não vivenciar seus mistérios, o amor, ajuda Hipomene através de um maçã dourada.


Os dois casaram-se e tiveram a oportunidade de disputar ainda, reservadamente, muitas outras corridas, das quais ela se saía sempre vencedora. Cada vez mais se acendia o ardor entre os dois amantes, até chegar ao ponto de fazê-los descuidar-se de suas obrigações para com os deuses.


Hipomene, num descuido imperdoável, esqueceu de agradecer a Vênus pela vitória. Irada, a deusa do amor decidiu punir marido e mulher, fazendo com que profanassem o templo de Cibele, deusa da fertilidade e da terra, ao fazer ali os exercícios prescritos por Vênus. A divindade, encolerizada com o desrespeito, puniu imediatamente os dois amantes, transformando Hipomene num leão e Atalanta numa leoa e colocando-os a puxar o seu belo carro.


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Flauta de Pã:


Imagem 7:


Uma bela ninfa chamada Sirinx jurara jamais se entregar a homem algum, sendo devota fiel de Diana. Pã se apaixonou e perseguiu a bela ninfa, que auxiliada por suas amigas, conseguiu se desvencilhar e nas mãos de Pã restassem apenas juncos. Dos juncos, Pã percebeu que saíam sons, daí surgindo a flauta de Pã.


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Javali de Calidon:


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No episódio conhecido como o Javali de Calidon, Meleagro filho de um rei Enéas, foi predestinado sua morte pelas Parcas. Assim que um tição ficasse pronto ele morreria. Sua mãe retirou o tição do fogo e guardou. Um dia um Javali gigantesco assolou o reino. Enéas achou que se tratava do castigo de Diana por ele não ter feito uma oferenda para Ela no passado. De fato, Diana estava encolerizada com o rei de Calidon e por essa razão mandou o javali devastar as plantações e rebanhos do reino. No decorrer da trama, Meleagro morre como predito pelas Parcas.


Salmácis e Hermafrodita:


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Salmácis, uma ninfa, estava enfada de ir à caça com outras ninfas com Diana. Salmácis só queria cuidar e cultivar sua beleza. Um dia, em mais uma caçada que ela não fora, ela viu um belo jovem se banhando no rio. Era Hermafrodita, o belo filho da união entre Vênus e Mercúrio. Após várias e várias investidas da ninfa ela consegue seduzir Hermafrodita. O amor era tanto, seus corpos desejavam ficar juntos e num enlace a ninfa pediu aos Deuses: Quero que nós dois sejamos uma só pessoa, e assim foi feito. Agora eram um só ser, macho e fêmea que ficou conhecido com Hermafrodita. O nome da ninfa se perdeu na história.


Ninfa Eco:


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Nem Diana suportava mais o falatório das Ninfas. Mas a que mais falava e sem parar era Eco. Todos já estavam enfadados em relação a ninfa Eco. Em uma de suas escapulidas, Júpiter se envolve amorosamente com Eco. Eco prometera ocultar as escapulidas de Júpiter de sua esposa Juno. Júpiter estava de caso com outra ninfa e despertou a ira de Juno. Eco tentou distrair Juno com conversas sem fim. Juno percebe a artimanha e decide punir a ninfa.


— Porque pretendeu me fazer de boba a punirei, fazendo com que nunca mais possa dizer nada a não ser as últimas palavras que escutar — amaldiçoou Juno.


— ... as últimas palavras que escutar... —repetiu Eco, em cuja boca o feitiço já começava a atuar.


A pobre ninfa recolheu-se para o interior de uma caverna no bosque. Ali, após enfadar durante longos anos as paredes da gruta com seus lamentos e lágrimas, viu seu corpo, aos poucos, dissolver-se na escuridão da caverna, até passar a fazer parte dela. Da pobre ninfa só restou sua voz cava e profunda, a repetir sempre as últimas palavras que os passantes pronunciassem.


Imagem 12, Juno:


Diana e Acteão:


Imagem 13:


Acteão, filho do rei Cadmo, era um dos melhores caçadores que existiu. Certa vez Acteão quis se banhar para limpar o sangue das caças de seu corpo. Diante da fonte de água, Acteão vislumbra Diana e suas ninfas se banhando.


Diana pedira às suas ninfas para vigiar para que nenhum homem a visse se banhando. Ela não suportava a ideia de algum homem a espionar. Acteão se deparou com aquela cena, as ninfas e a própria Diana se banhando. Nunca homem algum vira o corpo desnudo da Deusa Diana. As ninfas viram o espião e correram para tapar o corpo desnudo da Deusa.


Apesar de fugir de qualquer olhar masculino, Diana sempre tivera curiosidade em imaginar como seria este dia, afinal — o dia em que seu corpo seria revelado a um homem mais indiscreto e audacioso.


— É uma honra para mim, Deusa misteriosa, ser o primeiro a contemplar seu adorável corpo — disse Acteão, tentando lisonjear a vaidade feminina e escapar ao seu rigor punitivo.


— Olhe bem, senhor caçador, porque será a última coisa que verá nesta ia — disse Diana, com um olhar implacável de quem sabe que o ultraje será punido sem piedade, e reassumindo seu ar naturalmente virtuoso e implacável. Juntou, então, água nas mãos e lançou-a às faces de Acteão, dizendo:


— Pode ir agora! Vá e conte a seus amigos que viu Diana sem as suas estes!


Tão logo a deusa terminou de proferir essas palavras e Acteão sentiu que de sua testa começou a brotar algo parecido com um caroço. Dos dois lados brotavam dois enormes chifres galhados, enquanto seus olhos aumentavam de tamanho, bem como seu nariz, que de estreito e bem formado passara ao formato inestético do focinho de um alce. Quando passou as mãos no rosto para ver o que acontecia, sentiu que não mais dedos, mas cascos ásperos deslizavam sobre sua face, que se recobrira de um pelo espesso. Em seguida caiu ao chão, de quatro.


"Meu Deus, o que está acontecendo comigo?", pensou, mas ao tentar expressar esse pensamento em palavras, viu que de sua boca somente saía um rouco desafinado e incompreensível.


Assustado, Acteão deus as costas às mulheres e se meteu pelo bosque, decidido a procurar a ajuda dos amigos. Nem bem enxergou o mais fiel deles, sentado sob a sombra de uma árvore, gritou para ele:


— Filon, aqui! Ajude-me!


No entanto, tudo o que seu amigo escutou foi o mugido de um magnífico alce, que, parado à sua frente, parecia pedir para ser caçado.


— Rapazes, vamos lá! Aqui neste bosque abençoado a caça vem ao nosso encontro em vez de precisarmos correr atrás dela!


No mesmo instante, os cães prediletos de Acteão foram açulados pela companhia inteira. Uma gritaria misturada aos latidos levantou-se por todo o bosque. Acteão, sentindo que a presa agora era ele, tentou ainda estabelecer contato com seus cães. Eles o iriam reconhecer, assim pensava. Uma dentada de seu cão predileto logo o tirou, contudo, desta ilusão. Conseguindo se desvencilhar das presas, que haviam entrado fundo em sua perna direita, Acteão lançou-se para dentro da mata numa corrida desesperada. Pela primeira vez o melhor dos caçadores estava do outro lado da caçada.


Enquanto fugia, escutava ironicamente as vozes de seus amigos, que o chamavam para juntar-se à caçada!


— Vamos, Acteão, onde você se meteu? — bradava um, mais animado.


— Será o seu maior troféu! — exclamava outro, inconformado por não tê-lo junto na caçada que prometia o maior dos prêmios.


Acteão, a cada chamado, tentava responder, mas seu grito desconexo somente servia para delatar a sua presença aos demais caçadores.


— Vamos, ele foi por ali, posso ouvir o seu grito!


Depois de escalar pequenos morros e meter-se por gargantas e vales, Acteão, exaurido, foi finalmente alcançado por um dos seus cães, que pulou direto em seu pescoço; outro ferrou as presas em seu focinho, impedindo-lhe a respiração e provocando uma dor lancinante. Logo seu corpo estava entregue à fúria dos cães, que o retalhavam com suas presas dilacerantes. Antes de morrer, viu chegarem seus companheiros de caçada, que exultavam com o resultado, ao mesmo tempo em que lamentavam a ausência do seu líder:


— Sinto muito, Acteão, mas desta vez você não terá do que se vangloriar -disse um dos companheiros, com um sorriso, enquanto Acteão não surgia para aplaudir a sua vitória.


Minerva e Aracne:


Imagem 14:


No mito de Minerva e Aracne em que Minerva pune Aracne a se tornar uma aranha por conta de Aracne tecer melhor que Minerva, é Diana quem avisa Minerva sobre Aracne. Aracne despertava a atenção das ninfas sobre o seu maravilhoso trabalho. As ninfas contaram de Aracne para Diana que contou a Minerva.


O terceiro dos doze trabalhos de Hércules:


Imagem 15:


Diana, a Deusa das caçadoras, possuía cinco corças. Quatro delas estavam atreladas ao seu carro, enquanto a quinta, que possuía lindos chifres de ouro, andava à solta pelos bosques. A missão de Hércules era captura-la e leva-la até Euristeu.


Apesar da aparente facilidade da tarefa, o herói consumiu um ano inteiro nesta busca: a corça era tão ou mais arredia do que a própria dona. Mas ao fim de um ano, o herói conseguiu captura-la.


Sobre os doze trabalhos e uma análise maior do mito encontrasse nesse artigo:


O SACRIFÍCIO DE IFIGÊNIA:


Imagem 16:


No episódio desencadeado pelo Pomo da Discórdia em que gerou a guerra de Troia, os barcos de Calcas, Agamenon e Ulisses não conseguem sair do porto por falta de vento nas velas.


... ‘Calcas, algo frustrado — Está bem, comandante, está bem. O oráculo me disse exatamente isto. — Mudando o tom da voz para um tom gutural, mas à sério — "Eis que os ventos cessarão de soprar, até que o presunçoso guerreiro se prosterne diante de Diana sublime!"’ ...


Agamenon — O "presunçoso guerreiro" sou eu, suponho?


Calcas, encabulado — Temo que sim, audaz comandante...


... Calcas, retomando o fio — A deusa Diana está enfurecida porque o senhor lhe fez há muitos anos uma promessa e está decidida a não aceitar mais postergações no seu cumprimento.


Ulisses, intervindo — Promessa? Que promessa?


Agamenon empalidece enquanto ambos aguardam a resposta.


Calcas — Outrora você prometeu à Diana valorosa que lhe sacrificaria o mais belo ser que nascesse em seu reino...


Agamenon larga Calcas e afasta-se dele e de Ulisses, a passos lentos. Após alguns instantes de silêncio, volta-se para os companheiros e diz, com a voz alquebrada — Sim, é verdade, Ulisses fiel... Há muitos anos fiz tal promessa insensata.


Calcas — A deusa determinou que esta expedição só deixará este porto quando promessa for cumprida integralmente!


Ulisses — Mas quem é esse ser infeliz que deverá passar por tão terrível ordálio?


Calcas, erguendo a voz, como quem finalmente pode revelar um terrível segredo — A vítima não há de ser outra senão Ifigênia, a filha de Agamenon! ...


... Menelau— Agamenon, a situação está se tornando insuportável! A peste já começa a grassar entre os soldados!


... Agamenon — Bem sei dos deveres que me prendem à Deusa, embora a dor que me dilacera o peito. No entanto, há Clitemnestra, minha esposa. Ela jamais aceitará ver-lhe tirada dos braços a própria filha, que é a luz dos seus olhos! ...


... Ulisses, para Agamenon, tentando acalmá-lo: — Compreendo seu dilema, Agamenon. Façamos isto, então: sua filha, bem como sua esposa, não saberá do que irá acontecer, senão no último instante, quando se fará o que a Deusa exige de você...


... Calcas, à parte: — Ó astuto Ulisses! Agamenon — Um estratagema?


Ulisses— Exatamente. Vamos dizer a ambas que contratamos o casamento de Ifigênia com o valoroso Aquiles. Escreve à sua esposa e diga a ela que sua filha deve vir imediatamente até nós...


... O interior de uma grande tenda de campanha. É noite. Agamenon está deitado de bruços e chora convulsamente. Depois volta para cima o rosto coberto pelas mãos e exclama:


Agamenon — Júpiter supremo, o que foi que fiz? Minha Ifigênia adorada ofertada em holocausto! Oh, crueldade atroz! Ter o peito rasgado pela lâmina do sacrifício! Como pude permitir tal monstruosidade?


Depois de chorar mais um pouco, no entanto, Agamenon cessa abruptamente as lágrimas. Uma ideia lhe ocorreu.


Agamenon, pondo-se em pé, de um salto: — Não, não permitirei tal coisa! Desfarei o que maus conselhos me induziram a fazer!


Imediatamente pega uma tabuleta e põe-se a escrever freneticamente.


Agamenon — Eis o que escreverei a Clitemnestra: "Minha esposa, atente bem para o que lhe digo: não mande para cá a nossa querida Ifigênia. Guardou a tabuleta num invólucro e voltou-se para a entrada da tenda. — Soldado! Venha já até aqui!


Um soldado entra rapidamente.


Agamenon — Está vendo esta mensagem?


Soldado — Sim, senhor.


Agamenon — Quero que a leve, sem mais perda de tempo, até a minha esposa. Não dê descanso a seu cavalo, nem faça pouso ou parada alguma sob pena de sua própria vida, entendeu?


Soldado— Sim, senhor...


... O dia amanhece. Menelau irrompe tenda adentro segurando algo.


Menelau, em altos brados: — Vamos, levante!


Agamenon acorda, assustado: — O que foi, meu irmão?


Menelau— "Irmão"! Falta pouco para que o proíba de me chamar por este nome, asseguro!


Agamenon -Por que as flamas da ira abrasam tanto seu coração? Menelau, lançando às faces do irmão a carta que este enviara às ocultas: — Aqui está, tratante, o motivo de minha ira!


Agamenon reconhece o objeto e fica revoltado.


Agamenon — Então você ousou me espionar e interceptar uma carta que mandei à minha esposa? Com que direito o fez?


Menelau -Com mais direito que você, que torna atrás de um compromisso solene que assumiu diante de mim e de meus generais. Acaso está brincando com a minha honra? Quer espalhar o escárnio e o deboche na boca de meus soldados? ...


Aquiles chega na embarcação e descobre que ‘estava prometido’ a Ifigênia. Pelo menos foi o que mãe da noiva disse. Logo todos se deram conta que tudo era uma grande armação.


... Ifigênia — Adeus, minha mãe... Um dia a Deusa permitirá que nos vejamos outra vez, estou certa. Sua cólera há de ser tão curta quão longa há de ser a sua clemência...


... Relâmpagos e trovões sacodem o céu. Então, tudo fica escuro.


Ainda sob a escuridão começa-se a escutar o sopro do vento, a princípio fraco, que vai avolumando-se até tornar-se quase um vendaval. Ouve-se o ruído da lona da barraca onde está alojada Clitemnestra sacudir e esbaterse. A cena clareia-se.


O serviçal visto anteriormente surge correndo.


Serviçal— Minha senhora! Um milagre espantoso aconteceu!


Clitemnestra sai de sua tenda, sacudida pelo vento. Seu rosto traz as marcas ensanguentadas de suas unhas. Ela nada diz.


Serviçal— Um milagre, minha senhora... Um milagre aconteceu!


Clitemnestra move apenas os olhos na direção do lacaio. Sua voz é cava e quase sem emoção, embora se perceba nitidamente que o ódio ferve em sua alma: — Julga, então, que sou surda, lacaio? Bem sei que minha filha já está morta. Depois, olha ao redor: — Os ventos são mais rápidos que os homens.


Serviçal— Mas senhora, sua filha não está morta! Eis o milagre!


Não vendo reação alguma de Clitemnestra, ele prossegue:


Serviçal— Ifigênia foi levada viva pela Deusa! Após subir os degraus do altar e oferecer, com admirável coragem, o seu pescoço ao oficiante, vimos quando este finalmente ergueu o seu punhal. Todos viraram os rostos, pois ninguém, por mais rude ou valente que fosse, pôde sequer admitir a ideia de ver com seus próprios olhos tão terrível cena. Todavia, escutamos perfeitamente quando o punhal foi enterrado na vítima. Porém, quando erguemos nossos olhos, não era mais a doce Ifigênia quem estava no altar, mas um cervo, a se debater nos últimos estertores! "Milagre! Milagre!", gritamos todos. O sacerdote, então, ordenou que silenciássemos, dizendo em seguida: "Eis que a deusa compadeceu-se de Ifigênia e decidiu poupar sua vida! Prosternem-se todos à sua divina clemência!" Todos dobramos contritamente nossos joelhos, enquanto o sacerdote retomava a palavra, dizendo: "A Deusa levou Ifigênia consigo para Táuris, para que lá seja, a partir de hoje, a sua sacerdotisa. Sua cólera está, enfim, aplacada. Regozijemo-nos!" Neste mesmo instante um forte vento começou a soprar e os soldados ergueram um grito de triunfo e alegria: "Viva! Podemos já partir para Tróia!".


OS GIGANTES ALOÍDAS:


Imagem 17:


Quando Aloeu e Ifimedia viram no berço os seus dois filhos recém-nascidos, ficaram encantados, como todos os pais.


— Este se chamará Oto — disse Aloeu.


— Este se chamará Efialtes — disse Ifimedia.


Eram dois belos garotos, embora um pouco crescidinhos demais.


— Isto é saúde — dizia Ifimedia ao impressionado marido.


Mas Ifimedia sabia que havia uma explicação para aquilo — uma explicação que não convinha ao marido saber. Pois tanto Oto quanto Efialtes não eram filhos do mortal Aloeu (embora o nome pelo qual ficariam conhecidos, "Aloídas", fosse uma homenagem ao pai postiço), mas sim filhos de Netuno, Deus dos mares...


... Ifimedia ainda se lembrava da época em que se apaixonara pelo poderoso Deus. A tática que usara não fora das mais originais, mas tivera lá seu encanto: um belo dia, chegando à beira da praia, tomou a água na concha das mãos e derramou-a sobre o seio. No dia seguinte, repetiu a operação, e assim foi até quebrar a resistência do Deus, que acabou por unir-se a ela. O resultado foram aqueles dois belos garotos, embora, é verdade, fossem um tanto exageradamente grandes...


... "Definitivamente, isto não é normal", pensava Aloeu, a cada novo dia.


Mas o que mais constrangia aos pais era o ódio que tanto Oto quanto Efialtes nutriam contra os mortais. Não havia dia em que não esmagassem alguém por pura diversão. Mas quando sua mãe os recriminava, sorriam perversamente e respondiam apenas:


— São só mosquinhas, mamãe.


— É, mamãe, mosquinhas sem asas.


E assim continuavam alegremente a matar as suas mosquinhas, até que um dia conceberam uma nova diversão, infinitamente mais ousada...


... — Mano, que tal declararmos guerra aos deuses? — disse um dia Oto a seu irmão, num momento de tédio.


— Que ótima ideia! — exclamou Efialtes, cujo cérebro, a exemplo do irmão, não havia se desenvolvido tanto como o restante do corpo.


Ambos já haviam, na verdade, brigado com um Deus, alcançando um bom resultado. Após uma discussão com Marte, o Deus da guerra, haviam-no aprisionado dentro de um tonel durante treze meses, debaixo de algemas e correntes. Como fora divertido ver todos os dias o presunçoso Deus das armas todo dobrado dentro do pote, como um inseto em um jarro! Se não fosse o sagaz Mercúrio libertá-lo de sua vergonhosa prisão, ainda hoje estaria lá, com toda a certeza.


Mas agora o projeto dos aloídas era maior, infinitamente maior: nada menos que a conquista do céu, morada dos Deuses...


... Os irmãos gigantes conseguem escalar o Olimpo...


... — Veja, mano, que beleza! — disse Oto. — Ali está o palácio de Júpiter!


— Sim, e ali estão duas Deusas! — exclamou Efialtes. — Quem serão? Eram Juno, a esposa de Júpiter, e Diana, a Deusa da caça. As duas conversavam animadamente, gozando daquele fim de tarde verdadeiramente paradisíaco...


...Efialtes concebeu logo uma paixão ardente por Juno, enquanto Oto perdeu-se de amores pela bela Diana.


— Vamos casar com elas, assim que destronarmos Júpiter e sua cortezinha! — disse Efialtes, esfregando as mãos...


... — Deixe comigo, papai — dissera Diana a seu pai, Júpiter. — Darei um jeito nos dois.


Assim, convidou um dia Oto e Efialtes para uma caçada. Os dois aceitaram imediatamente, especialmente o primeiro, que pretendia desvirginar a sua amada naquele mesmo dia...


... Embrenhados na mata, Diana soltou, então, uma ágil corça — a mais rápida de quantas havia em todo o mundo.


— Eis a caça, poderosos irmãos! — exclamou Diana, aos dois, que portavam com arrogância seus arcos. — Se você matá-la primeiro Oto, terá a minha mão! E se for você, Efialtes, receberá por prêmio a bela Juno, que o aguarda, ansiosa, em seu leito formoso...


... — Como faremos, bela Diana, para acertarmos essa diabólica corça? — disse Oto.


— Estão vendo aquele desfiladeiro logo adiante? Sim, ambos estavam vendo.


— Vi a corça dirigindo seu ágeis passos em direção àquela estreita garganta — disse Diana das belas pernas. — Se eu a encurralar, ela não terá outro jeito senão atravessar a estreita passagem. Postados, então, cada qual de um lado do desfiladeiro, será muito fácil que um dos dois a alveje...


... A corça, parecendo exausta, adentrou o estreito corredor e foi neste passo lento até estar exatamente entre os dois. Quando escutou, porém, o primeiro sibilar dos dardos, que partiam velozes dos retesos arcos, a corça disparou em tal velocidade que antes pareceu haver sumido diante dos olhos dos dois gigantes. As dez flechas — cinco vindas de cada lado — cruzaram-se velozmente entre si, sem se tocarem, e foram alcançar os dois hábeis caçadores.


Oto e Efialtes caíram mortos, cada qual com cinco flechas cravadas no rosto, e os deuses olímpicos viram-se livres dos gigantes aloídas.


O CIÚME, SEGUNDO VÊNUS:


Imagem 18:


Hipólito e Diana haviam sido criados juntos. Habituado a conduzir seu carro com invejável maestria, ele e a Deusa haviam simpatizado tão sinceramente um com o outro, que passearem juntos era a coisa mais normal deste mundo para ambos.


Mas este era um privilégio que a casta Deusa — todos sabemos — concedia a bem poucos imortais e a nenhum mortal. Seu cortejo compunha-se invariavelmente de algum punhado de belas ninfas, e toda vez que algum mortal ousava tentar algum contato, era severamente punido, como aconteceu com o pobre Acteão, ao flagrá-la nua durante o banho.


... — Veja, meu filho, como Ela o abraça tão ternamente! — disse Vênus, um dia, encolerizada pelo ciúme, a seu filho Cupido. — Haverá somente pureza ali? ...


Imagem 19:


... — Quem sabe, mamãe... — disse o jovem arqueiro, afetando despreocupação.


— Mas seu descaso para comigo passou de qualquer limite! — esbravejou a mais bela das Deusas. — Nunca mais o vi render ofertas aos pés de minhas estátuas, nem frequentar os paços de meus templos. Não, ele precisa ser punido! ...


... "A hora é agora", pensa Cupido, sacando a sua mais afiada seta. Após embebê-la no filtro do Amor, assesta a pontaria para o coração de Fedra, madrasta de Hipólito, que está inteiramente a descoberto debaixo da pele clara do seio quase desnudo. E quando a imagem de Hipólito retorna, finalmente, às suas cogitações, o Deus dispara a seta, certeira como todas as que arremessa...


...E durante o resto do dia ficará com esta angústia na alma, sem saber o porquê de tanta inquietação, até que seu enteado aparece, ao cair da noite, com o rosto radiante de quem se exercitou bravamente em seu carro puxado pela parelha dos velozes corcéis.


"Como é encantadoramente belo o filho de Teseu!", exclama mentalmente Fedra, como se o visse pela primeira vez. Depois repete baixinho, algo assustada: "O filho de Teseu!"


Cupido parte pela janela, satisfeito, mais uma vez, de sua eficiência.


A IRA, SEGUNDO TESEU:


Imagem 20:


— Teseu, a rainha matou-se!


É com esta terrível notícia que o rei é recebido.


— Estão todos loucos? — grita Teseu, correndo até o local onde está o cadáver ainda quente de Fedra.


Abraçado ao corpo pendente da mulher, Teseu dá largas a sua dor.


— Por quê, quem foi o responsável por este gesto? — pergunta.


A escrava aponta para a carta que Fedra deixara. Teseu a toma com suas mãos trêmulas.


— Onde está Hipólito? — diz ele, erguendo os olhos.


Um brilho frio torna ainda mais gelado o azul de suas pupilas. Hipólito surge diante do pai.


— Ousou, então, na minha ausência, levantar a mão para esta que tomou o lugar de sua mãe? ...


...Hipólito silencia. Sabe que nada que disser poderá fazer seu pai acreditar em sua inocência. Abandona o recinto e, mandando atrelar os cavalos à sua biga, parte no mesmo dia para o Peloponeso...


Teseu clama para seu pai Netuno pedindo que vingue sua honra contra seu filho Hipólito.


... O jovem, nesse momento, atravessava os caminhos ásperos e íngremes de sua jornada, conduzindo sua biga, puxada por fogosos corcéis. Em sua cabeça agitavam-se pensamentos de dor e remorso: dor por haver levado o próprio pai a fazer um tão mau julgamento de si mesmo, e remorso por haver provocado uma morte, ainda que a morte de uma mulher perversa e lúbrica, que tramara a sua perdição e de sua casa...


... Hipólito é surpreendido com o surgimento inesperado, vindo das profundezas do mar — situado um pouco abaixo da ravina que ele percorre velozmente -, de um monstro marinho assemelhado a um grande touro negro, que lança flamas ardentes pelas duas narinas frementes...


... "Por Júpiter, o que é isto?", pensa Hipólito, atônito com aquela monstruosidade. Algo, porém, lhe diz que ele vem como o mensageiro da destruição e do castigo. Sim, do castigo, também, pois fora ele, Hipólito, o causador, ainda que involuntário, de toda aquela tragédia...


... Quase sendo morto pela besta marinha, no último instante, lembra-se novamente de Diana, a sua amiga e companheira.


Onde estava ela?


A AMIZADE, SEGUNDO DIANA:


Imagem 21:


Diana resolvera intervir e tentar ainda, desesperadamente, salvar a vida de Hipólito, uma vez que contra ele se levantava a ira de dois pais: a de Teseu, seu irado pai, e a de Netuno, pai implacável de seu pai.


Diana leva Teseu a um espelho d’água. Fez com que se desenrolassem ali as cenas da tragédia. Diante dos olhos estupefatos de Teseu surgiu uma nova Fedra, como ele nunca havia visto: a Fedra inquieta da procissão, a mulher desesperada no alto da sua torre desolada, os votos secretos de amor e o grande momento da sua declaração, quando seu seio desnudo agitava-se ao sabor de suas palavras ardentes.


— Hipólito, filho meu! — exclamou Teseu, cobrindo o rosto com as mãos.


— Acalme o seu coração e prepare-o para coisas ainda piores, pois o seu filho está à morte! — disse Diana, mostrando a cena do confronto, que se desenrolava naquele instante, entre Hipólito e a terrível fera marinha.


O rei, descolando as mãos da face, mirou o espelho onde se desenrolava a cena mais cruel que seus olhos poderiam esperar um dia contemplar. Assistia, então, à cena da morte de seu próprio filho.


A MORTE, SEGUNDO HIPÓLITO:


Imagem 22:


A rédea partida chicoteia o ar; Hipólito só tem nas mãos a outra, insuficiente para deter a marcha enlouquecida dos cavalos. O monstro o está quase alcançando. Suas vestes chamuscadas roçam por suas feridas abertas.


Um baque impressionantemente brusco faz com que Hipólito seja arrancado do comando da biga. Os cavalos, perdendo o passo bruscamente, enovelam suas patas umas nas outras, parecendo que uma força maléfica os tentava unir num único e monstruoso equino de mil patas desencontradas. A biga volta-se no ar e tomba sobre os animais, matando-os instantaneamente, enquanto que Hipólito tem seu corpo arrastado por vários metros sobre o solo pedregoso, repleto de pedras rudes e afiadas como navalhas. Hipólito ainda se volta, uma última vez, sobre a poeira e os detritos, deixando erguidos para o céu as suas feições marcadas e o seu corpo dilacerado.


Diana, impotente para reverter um decreto mais forte que seu desejo, toma o corpo do amigo e o leva para Trezena. Ali, junto a um templo em homenagem a ela própria, Diana, está colocado para sempre o túmulo do mortal Hipólito.


NISO E EURÍALO:


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Lavínia, filha de Latino, rei do Lácio, estava prometida há muito tempo para Turno, rei dos rútulos. As coisas já estavam preparadas para este arranjo quando ocorreram alguns fatos agourentos que levaram o velho rei, pai de Lavínia, a inquirir os oráculos. Estes foram categóricos: Lavínia devia casar-se não com Turno, mas com um estrangeiro que muito em breve deveria aportar àquelas praias, fugido de uma grande desgraça em sua própria pátria.


Enéias era este homem, e Tróia, sua antiga pátria. A partir de sua chegada os ânimos foram se acirrando até estourar a guerra definitiva entre o troiano Enéias e o rútulo Turno, passando ambos a disputar, pela força das armas, a mão de Lavínia e o controle do reino do pai desta.


Uma medida, então, era imprescindível: furar o bloqueio e chamar Enéias de volta ao campo de batalha antes que a derrota troiana se desse sob as mãos do implacável Turno. E é neste instante que entram em cena dois jovens guerreiros predestinados à glória — embora votados, também, a uma funesta imortalidade.


Enquanto os chefes troianos discutiam em seus baluartes sobre o destino do acampamento, Niso, guerreiro experiente, ainda que jovem, e Euríalo, um rapaz ainda inexperiente, mas muito admirado por suas qualidades de lealdade e valentia, montavam guarda no acampamento.


Quando chegaram à linha de frente dos rútulos, encontraram os soldados inimigos ainda adormecidos, com as taças de vinho viradas sobre o chão.


Naquela época as leis da guerra não viam como infamante o ato de se tirar a vida de soldados adormecidos; por isto Niso e Euríalo não se envergonharam de ir enterrando suas espadas no peito dos soldados inimigos, tantos quantos fossem encontrando. Logo o chão estava coberto de cabeças cortadas, e um rio de sangue escorria dos pescoços dilacerados, ensopando a relva.


— Alto lá, vocês dois! — gritou o comandante inimigo.


Niso e Euríalo, flagrados, dispararam bosque adentro. Mas, na corrida, acabaram por se separar. Niso conseguiu livrar-se da perseguição e já retornava feliz para o acampamento, quando se deu conta da ausência do amigo.


— Euríalo, cadê você? — gritava com as mãos em concha.


Não houve resposta. Niso, então, retornou para dentro do bosque à procura de Euríalo.


Jamais seria capaz de abandoná-lo, mesmo sob o risco da própria vida.


Afastando as ramas de uma árvore, divisou, então, seu amigo Euríalo amarrado e cercado por diversos inimigos. A sua frente Volceno, ameaçador, repetia:


— Vamos, cão frígio, diga onde está o outro!


Outra bofetada atingiu a face de Euríalo. O jovem, embora deitando sangue abundante pelo nariz, permanecia de cabeça ereta, afrontando o inimigo.


— Basta, não temos mais tempo a perder! — disse Volceno, sacando sua espada.


Niso, neste momento, vendo que tudo estava perdido para Euríalo — e mesmo para si — remeteu uma prece para a Lua, dizendo:


— Diana, deusa da Lua, se alguma vez lhe foram agradáveis minhas ofertas, faz com que meus dardos atinjam com precisão o peito dos inimigos de Euríalo.


Sacando, então, do arco, arma e insígnia da deusa da Lua e da Caça, começou a disparar as suas setas com maravilhosa precisão. Um a um dos inimigos caíram, sem que os homens de Volceno pudessem identificar de onde partiam os certeiros dardos, pois Niso movimentava-se por entre o bosque com a rapidez de um felino.


Volceno, vendo os dois troianos à sua mercê, ergueu sua espada e disse ao pobre Euríalo:


— Você primeiro — e lhe enterrou no peito, até o cabo, o gume afiado do seu bronze. A lâmina saiu pelas costas de Euríalo, cuja cabeça pendeu para a frente; seu grito de dor foi abafado pelo bronze que lhe perfurou os pulmões.


Volceno retirou em seguida a espada do peito de Euríalo, já caído morto ao chão. Niso, cego de ódio, investiu, então, contra os soldados — mas seus olhos estavam voltados apenas para o cruel Volceno, que protegido pelos seus, limpava a espada nas roupas da própria vítima.


O fiel amigo de Euríalo sabia que seu fim também estava próximo; ciente disto, arremessou-se para a frente com todo o ímpeto, pois sabia que não haveria meios de fugir. Seu corpo já estava recoberto de dardos e de feridas abertas, e um mar de homens abatidos estava já às suas costas quando finalmente alcançou o matador de seu amigo, num pulo surpreendentemente rápido para um homem em seu estado.


— Agora morra você também, canalha! — disse Niso, enterrando sua espada tinta de sangue na boca de Volceno, perfurando-lhe os lábios e os dentes, que saltaram em cacos para os lados. O fio da espada saiu na nuca de Volceno, e antes que ele tombasse sobre o chão, Niso retirou o ferro. Volceno caiu e ainda ficou um tempo escoicinhando o chão, até que finalmente sua alma exausta lhe abandonou o corpo para sempre.


— Euríalo, amigo... Aqui está a glória que juntos buscamos! — disse num fio de voz, e caiu de braços sobre o corpo do amigo, já sem vida.


Os soldados de Volceno aproximaram-se, irados, e enfiaram suas lanças nas costas de Niso, unindo assim os corpos dos amigos numa mesma e gloriosa morte. A missão de Niso e Euríalo falhara; no dia seguinte Turno avançaria até as muralhas troianas com as cabeças dos dois infelizes jovens espetadas em compridos chuços. Enéias somente muito mais tarde chegaria de volta, pelo mar, para abater Turno e os inimigos dos troianos.


ÓRION:


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— Por Júpiter, meu pai! Quem é aquele ser belo e gigantesco que passeia sobre a superfície das águas? — perguntou Diana, a Deusa da caça, ao seu irmão Apolo.


— É Órion, filho de Netuno, não o conhece?


— Não, meu irmão, confesso que não.


— Seu pai lhe deu o poder de andar por sobre as águas. Parece que é um exímio caçador, também.


— Um exímio caçador! — repetiu Ela, surpresa. — O que mais lhe concedeu o benevolente destino?


— Pouca coisa; às vezes, a beleza nem sempre é indício certo de sucesso no amor. Quer escutar a história de seu infeliz amor?


— Vamos lá!


— Órion certa vez apaixonou-se por Mérope, filha de Eunápio, rei de Quios; por amor a ela acabou com os animais selvagens da ilha, levando os despojos à amada. O pai dela, parecendo satisfeito com o pretendente, concordou em dá-la em casamento, embora ficasse sempre adiando a data. Um dia, entretanto, Órion perdeu a paciência e entrou nos aposentos da bela noiva. Ali, tentou possuí-la à força. O pai da jovem, indignado com tamanha afronta, foi até Baco e exigiu que este o punisse. O deus do vinho embriagou Órion durante o sono enquanto o pai ultrajado privou-o da visão.


— Cego? Mas ele anda com tanta segurança sobre as águas!


— Ah, minha irmã, você anda sempre tão envolvida com caçadas que não sabe de nada do que se passa entre os Deuses e os homens. Falou-se muito neste caso. Órion ficou sabendo através de um oráculo que voltaria a enxergar caso partisse para o Oriente e lá deixasse que o Sol nascente lhe banhasse os olhos. Dito e feito: pôs-se imediatamente a caminho de Lemmos, acompanhando o ruído dos martelos dos Ciclopes, os fuliginosos ajudantes de Vulcano. Lá chegando, o Deus, compadecendo-se dele, cedeu-lhe então um de seus ajudantes para que lhe servisse de guia até a morada do Sol. Órion colocou o guia nos ombros e caminhou com ele rumo ao nascente até encontrar o Sol, que lhe restabeleceu instantaneamente a visão. Quando retornou a Quios, para se vingar do rei Eunápio, no entanto, este havia desaparecido, e não houve jeito de encontrá-lo.


— Fascinante! — disse Diana, que já não ouvia o irmão, mas tinha os olhos fixos na figura máscula que saía da água, vindo em sua direção, com o passo elástico de gigante.


Diana, curiosa, convidou Órion para fazer parte de seu grupo de caça.


— É uma honra que nunca imaginei merecer um dia, ó filha de Latona! -respondeu o surpreso Órion, encantado com o convite e com a beleza da deusa. "Ó divino Sol, obrigado por ter me devolvido a possibilidade de poder admirar outra vez a beleza de uma tal divindade!", pensou ele, erguendo os olhos uma vez mais para o grande e universal astro.


Desde então, tão logo a Aurora se espalhava pelos céus com seu rosados véus, saíam os dois caçadores, Diana e Órion, com suas aljavas e arcos nas costas, a se embrenharem bosque adentro, seguidos pelos ruidosos cães de caça. Subiam montes e vales, perseguindo os gamos e os cervos velozes, despistando os terríveis javalis e transpassando-os com suas aceradas flechas.


Certa feita, entretanto, quando Órion caminhava sozinho pelo bosque, enxergou as sete belas Plêiades, filhas de Atlas. Elas eram ninfas do séquito de Diana e estavam se banhando no rio. Tão logo pôs os olhos sobre elas, viu-se perdidamente apaixonado por todas.


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— Um gigante! Vamos, fujam! — gritou uma das Plêiades, fazendo com que todas lançassem seus belos corpos para dentro da água, transformando o rio num improvisado chafariz devido aos seus mergulhos.


— Por que fogem, adoráveis ninfas? — gritava o gigante, quase agarrando-as com as mãos descomunais. — Não pretendo fazer-lhes mal algum; sou Órion, não me reconhecem?


Desde este dia as sete Plêiades nunca mais tiveram paz: o importuno gigante passava os dias a espreitá-las e a persegui-las, onde quer que estivessem, seja banhando-se nuas nas águas do cristalino rio, seja caçando nos frondosos bosques.


Um dia, contudo, cansadas de não terem mais sossego, as ninfas imploraram a Júpiter que as metamorfoseasse em pombas. Júpiter atendeu ao pedido, e quando o imenso Órion pensou ter agarrado uma delas viu uma pomba sair voando de entre seus dedos, acompanhada de outras seis, deixando em suas mãos apenas um punhado de penas alvas e lisas.


Mais tarde Júpiter transformou-as em uma linda constelação.


Quem, entretanto, não andava nada satisfeito com Órion era o irmão de Diana, Apolo de douradas setas.


— Desde o surgimento deste desgraçado que Diana do arco de marfim tem desprezado a minha companhia — reclamava ele, com ciúmes da irmã. — Já é hora de expulsá-lo daqui.


Durante vários dias Apolo esteve procurando uma forma de desfazer-se do intruso, até que uma bela manhã surgiu a ocasião. Observando que Órion caminhava pelo mar apenas com a cabeça acima da água, como costumava fazer, esperou que ele se afastasse a uma boa distância e então chamou com um grito a irmã que estava um pouco mais afastada.


— Diana, vamos, veja se é capaz de alvejar aquele ponto negro sobre o mar. A deusa, que adorava desafios, assestou a sua seta ao arco e disparou-a incontinenti. O ponto negro, acertado em cheio pela flecha, afundou repentinamente.


— Aí está! — disse Diana ao irmão, agitando o arco no ar.


Dali a instantes as ondas trouxeram para a praia o lívido corpo de Órion.


— Oh, não! — gritou Diana. — Eu o matei! Meu irmão, eu o matei! Diana, percebendo que tal fora o propósito de Apolo, desesperou-se.


— Nunca mais quero vê-lo! — disse ela, olhando com fúria para seu irmão. Mas como eram ambos muito apegados, logo se reconciliaram. Apolo e Diana, com efeito, além de serem muito unidos tinham um estranho senso de moral que não os fazia sentir remorsos, mesmo que cometessem alguns crimes francamente repreensíveis, como da vez em que haviam matado todos os filhos da pobre Níobe, só porque esta rainha ousara dizer-se mais bela que a própria Deusa.


Vendo que não havia mais remédio que pudesse trazer Órion de volta à vida, pediu então a Júpiter, seu pai, que o colocasse entre as estrelas. Júpiter atendeu ao pedido, e desde então Órion aparece nos céus como um gigante, dotado de um cinto, uma espada, uma grande pele de leão e uma clava. Sírius, seu cão, o acompanha, e as Plêiades, lá em cima, voltaram outra vez a fugir de sua molesta presença.


CALISTO:


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A ninfa Calisto era uma virgem que fez voto de castidade para seguir a deusa Diana e era a companhia preferida da divindade. Todas as manhãs as duas embrenhavam-se mata adentro para caçar, com suas aljavas prateadas penduradas às belas costas, e seus resistentes coturnos de couro a lhes protegerem os seus delicados pés.


Quando exaustas, banhavam as duas os seus corpos nus e suados nas águas transparentes do rio que manava da própria rocha, ou descansavam na relva verde e macia. As outras ninfas, contudo, sempre invejaram a preferência que a Deusa dava à bela Calisto.


Júpiter, entretanto, também a viu lá do Olimpo e logo estava loucamente apaixonado por ela. Sabedor de que Diana a havia alertado sobre os ardis dos Deuses e dos homens para conquistar as mulheres, Júpiter astutamente se disfarçou de Diana e seduziu Calisto, a qual lhe deu um filho chamado Arcas. As despeitadas ninfas logo trataram de fazer essa novidade chegar aos ouvidos de Diana, que a afastou imediatamente do seu séquito de ninfas virgens.


Mas havia mais alguém visando à pobre Calisto lá de cima do Olimpo: era a ciumenta Juno, esposa de Júpiter, a qual, tão logo soube da traição do marido, disse:


— Vou acabar logo com sua beleza e fascínio, transformando-a numa ursa horrenda e desajeitada.


Calisto foi transformada em Urso.


Às vezes Calisto vagava noites inteiras ao redor de sua casa, esperando ver seu filho, ou mesmo para fugir da escuridão que assolava a floresta na noite apavorante e ruidosa. Mas ela agora não podia mais conviver no meio dos homens, e seu espírito não admitia a possibilidade de ter de conviver com as embrutecidas feras.


O tempo passou, e seu filho Arcas cresceu, transformando-se num belo jovem. Um dia resolveu caçar — afinal, já tinha idade para tanto, pensava ele — e entrou na floresta onde sua mãe vivia escondida. A vingativa Juno, entretanto, que ainda guardava rancor no coração, esfregou as mãos.


— Chegou a hora da realização do último ato da tragédia!


Arcas estava de arco em punho quando viu surgir detrás de uma árvore a ursa gigantesca, que nem desconfiava, é claro, tratar-se de sua própria mãe.


— Meu filho querido, enfim você veio me encontrar! — tentou dizer Calisto, mas o que saiu de sua boca foi apenas um terrível rugido que encheu o jovem de pavor.


Retesando, então, a corda de seu arco, o jovem despediu a sua velocíssima seta.


Tudo teria terminado da pior maneira possível se Júpiter, penalizado, não tivesse interferido no último instante, arrebatando Calisto e seu filho daquele cenário e colocando-os nos céus, como as constelações da Ursa Maior e da Ursa Menor.


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— Então olhem para o céu durante a noite — disse Juno, lavada em pranto — e verão meus dois inimigos límpidos e brilhantes lá no alto, a debocharem de minha honra ultrajada! Quem hesitará em me vilipendiar daqui por diante, quando é este o prêmio de todo aquele que ousa me afrontar? Não a considerei digna de se revestir da forma humana, e agora ela é exaltada entre as estrelas.


Infelizmente para Juno, desta vez a sua ira teve de se satisfazer com uma bem pequena recompensa, pois a única providência que Netuno pôde tomar foi a de nunca permitir que as constelações da Ursa Maior e Ursa Menor pudessem submergir no oceano, tal como acontece com as demais estrelas, sendo obrigadas a fazer seu curso em círculos ininterruptos sobre os céus.


Referências:




1- O livro de ouro da mitologia – Thomas Bulfinch.

2- Mitologia grega e romana – P. Commelin.

3- Deuses e heróis da mitologia grega e latina – Odile Gandon.

4- Dicionário da mitologia grega – Ruth Guimarães.

5- Mitologia – Edith Hamilton.

6- A Ilíada – Homero.

7- Odisseia.

8- Mitologia grega e romana – Pierre Menard.

9- Vocabulário e fabulário da mitologia – Joaquim Chaves Ribeiro.

10- A odisseia – Menelaos Stephanides.

11- O universo, os deuses, os homens – Jean-Pierre Vernant.

12- Eneida – Virgílio.

13- O livro ilustrado da mitologia – Philip Wilkinson.

14- As melhores histórias da mitologia – A.S. Franchini / Carmen Seganfredo.

2 comentários:

  1. Caro amigo posso cultuar Diana e Apolo no meu altar? Inclusive nos sábados? Por quê tem o negócio do amor e casal e na mitologia os dois são irmãos

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