Kavungo! Infeccioso, contagioso! (Obaluayê)
A Qualidade do meu Obaluayê é Kavungo. Kavungo tem ligação com Exú afomo. É a qualidade dele contagiosa, infecciosa.
Eu estudei e trabalhei com dois organismos causadores de
doença infecciosa. Paracoccidioides brasiliensis, um fungo, que causa uma
doença fúngica profunda, grave, que demanda longo tratamento e causa terríveis
ulcerações - feridas abertas - na pele e mucosas. E trabalhei com dois agentes
etiológicos, organismos causadores de leishmaniose visceral que ao contrário
das leishmanias que causam feridas na pele, infectam fígado, baço e medula
óssea.
Filho da lama (Nanã) e rejeitado por Ela. Acolhido pelo
mar (Yemanjá) e criado por Ela. Obaluaiyê é a terra e o fogo. Oba (rei- senhor)
+ Aiye (terra). Ou seja, o Senhor da terra. Outra forma dele é Omolú, significa
filho do Senhor. Algumas pessoas acham que Omolú é a forma do velho e que
Obaluayê é a forma jovem do Deus. Mas se equivocam. Omolú significa filho do
Senhor, e que Senhor é esse? O Senhor da terra - Obaluayê. Ao meu ver e de
outras pessoas, Obaluayê é a forma velha do Deus e Omolú é a forma jovem.
Também Ele é conhecido como Xapanã e Sapatá.
Obaluayê é a terra, mas também é o fogo. Ele é o sol do
meio-dia no auge do verão. É aquele calor que entorpece. Ele é o fogo da lava
no interior da terra. Ele é quente, tão quente como a pior febre da malária.
Ele é o Deus da cura e da doença. Dizem que Ele é o Orixá
da varíola. Mas não só da varíola, Ele é o Deus da Gripe Suína, da Hanseníase,
da AIDS, do Ebola... Nossa que medo de me comunicar com esse Deus. Não! Ele
representa essa força da natureza de controle populacional a nível global. Mas
Ele também é a cura e o melhor dos médicos. Ele possui a cura da AIDS em suas
mãos e no momento oportuno Ele inspirará nossos cientistas a “descobri-la”.
Ele é um Deus que ninguém gostaria de vê-lo furioso. A
pipoca o acalma. Sua saudação: Atotô, Atotô, significa calma, calma meu pai
(não se zangue). Mas sua melhor oferenda é o respeito. Ele só exige o nosso
respeito. O que Ele mais odeia é gente metida e arrogante. E são justamente
enfermas que essas pessoas se tornam mais humildes.
Mas a doença não tem só um lado ruim. Ele é o papo
cordial e esperançoso entre duas amigas que aguardam no corredor do hospital
para a sua sessão de quimioterapia. Até então elas eram desconhecidas uma da
outra. Uma é rica e a outra é pobre. Mas na doença são iguais.
Ele é o reencontro de dois irmãos que não se falavam há 5
anos e se reencontraram no velório da mãe. Se abraçaram e se reconciliaram. Ele
é o almoço de família que não ocorria há 5 anos. Os irmãos se alegram, seus
filhos agora brincam juntos como primos que são. No final do almoço ouve-se
aquela gargalhada gostosa entre os irmãos lembrando de quando fugiram do
vizinho quando crianças porque roubaram mangas do seu Genésio – o vizinho.
Ele é o jaleco branco que o médico veste com orgulho por
ter conseguido se tornar o que ele sempre sonhou – ser médico, ah, e como foi
difícil – ele lembra. Ele é a alegria do jovem e sua família ao descobrir que o
Julinho passou em primeiro lugar no vestibular de medicina.
Ele é aquele atestado médico que a Maria recebeu do
médico autorizando ela a ter licença uma semana de seu emprego. Se não fosse
essa doença, ela teria surtado porque ela tinha vendido suas férias para ter
mais dinheiro pro natal em família. Ela não estava mais aguentando trabalhar,
aquelas férias fizeram falta.
Ele é o Deus da morte. Ele recolhe as almas quando elas
se desligam do corpo. Mas é Ele que também permitiu o espírito daquela mãe
citada lá em cima de estar presente naquele almoço de família e com o sorriso
no rosto ela se alegrou ao ver as suas joias mais preciosas - seus filhos – se
falarem depois de 5 anos. Ah, Ela também riu muito lembrando daquele dia do
“roubo” ao pé de manga do Seu Genésio.
Não há primavera sem inverno.
Não há vida sem morte.
E não há morte sem vida.
Obaluayê é isso. Ele é velho, muito velho. Seu culto é
anterior à idade dos metais. Quando o homem aprendeu a retirar o minério da
terra e a cunhar metais como o ferro, o cobre... para fazer panelas, facas,
espadas, pregos.... Era Ogum chegando. Ogum, entre outros atributos, é o Deus
que ensinou aos homens a manipular os minérios para o advento da era dos
metais. Foi-se a idade da pedra polida e lascada, mas o culto de Obaluayê
continuou e continua.
Autor:
Nome civil: Yuri Karklin -
- Bacharel em Ciências Biológicas com ênfase em
Biotecnologia e Saúde pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Nome Pagão:
Eosphorus Pluto Eleutherios
Blog: Bruxaria Sem Dogmas
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